Autores Brasileiros na França, Autores Franceses no Brasil: Tradução e Recepção
A tradução, a publicação e a recepção de uma obra em terras estrangeiras envolvem elementos ligados tanto à singularidade do texto em questão quanto ao horizonte histórico, geográfico e literário que irá acolhê-lo. A escolha de uma obra por um editor e sua tradução pode, assim, estar associada a discursos políticos e sociais, a projetos editoriais e à influência de agentes literários e tradutores. Este curso pretende apresentar alguns aspectos das relações culturais Brasil-França, a partir da análise da tradução e/ou da recepção de autores franceses no Brasil e de autores brasileiros na França.
Gratuito, este curso será desenvolvido ao longo de oito encontros, sempre das 14:30 às 16:00, a partir de 07/06/2021.
Objetivo
O curso intenta apresentar alguns aspectos das relações culturais Brasil-França a partir da análise da tradução e/ou da recepção de autores franceses no Brasil e de autores brasileiros na França. Será visto, assim, como certo autor e texto foi traduzido e/ou recepcionado em um contexto histórico e literário particulares.
Coordenação
Marisa Midori Deaecto (ECA/USP)
Público-alvo
Estudantes de pós-graduação, professores da rede pública e privada, graduados em áreas afins, estudantes de graduação e demais interessados.
Curso público e gratuito.
Critérios de avaliação
75% de frequência às aulas.
Critérios de seleção
Os novos critérios do sistema Apolo não permitem mais a matrícula por ordem de inscrição. Caso o número de inscritos supere o número de vagas, haverá sorteio.
Cronograma
- Inscrição: de 03/05 a 21/05 pelo sistema Apolo (http://e.usp.br/hjj).
- Início do período de confirmação de matrícula: 25/05.
Número de vagas
100
Local
O curso será ministrado de forma online via plataforma remota Zoom. O link de acesso e outras informações pertinentes serão enviados por e-mail aos inscritos.
7 de junho | 14:30-16:00
Recepção de autores brasileiros na França: o caso Rubem Fonseca
Ministrante: Maria Cláudia Rodrigues Alves (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho")
Do projeto de uma tradução à presença efetiva do livro-objeto na prateleira de uma livraria ou biblioteca (ou ainda, hoje em dia, do e-book em nossos tablets), surgem documentos, atrelados ao texto em si ou que com ele dialogam, aos quais Gérard Genette denomina PARATEXTOS. Interessa-nos, a partir da recepção da obra do autor brasileiro Rubem Fonseca na França, elencar e analisar elementos paratextuais (como a correspondência entre o autor e o tradutor e a realização das capas dos livros) e sua respectiva relevância na concretização do livro.
9 de junho | 14:30-16:00
As duas traduções de Grande sertão: veredas para o francês
Ministrante: Márcia Valéria Martinez de Aguiar (Universidade Federal de São Paulo)
Com a publicação de Sagarana, em 1946, Guimarães Rosa captura a crítica e o público brasileiros com a novidade de uma escrita que, enraizando-se no sertão, subvertia os paradigmas dos romances regionalistas. Dez anos mais tarde, Corpo de baile e Grande sertão: veredas confirmam essa consagração, e suas obras começam a ser traduzidas. Na França, Grande sertão: veredas foi lançado em 1965, recebendo uma segunda tradução em 1991. Nesta aula, serão examinadas essas duas traduções, buscando identificar como cada tradutor entendeu a singularidade da escrita de Guimarães Rosa.
14 de junho | 14:30-16:00
Tradução de sonetos franceses de Sérgio Milliet
Ministrante: Valter Cesar Pinheiro (Universidade Federal de Sergipe)
Nesta sessão, serão apresentadas – e discutidas – as traduções realizadas por Valter Cesar Pinheiro para sonetos de Sergio Milliet escritos em língua francesa. Esses sonetos, de caráter neorromântico-simbolista, integram os primeiros livros publicados pelo autor, Par le sentier, em 1917, e Le départ sous la pluie, em 1919, na Suíça.
16 de junho | 14:30-16:00
Tratado sobre a tolerância, de Voltaire: "Curto e ao alcance de todos"
Ministrante: Ana Luíza Bedê (Universidade Federal de Viçosa)
Discutir um tema espinhoso de forma acessível ao público, eis um dos objetivos de Voltaire ao escrever o Tratado sobre a tolerância (1763). Em sua correspondência, ao anunciar aos amigos o “livrinho”, forma como se referia ao Tratado, que em breve seria lançado, Voltaire (1694-1778) salientava os trechos cômicos, as passagens dramáticas e os enfoques passíveis de chocar ou comover o leitor. A fim de abordar uma questão política e filosófica fundamental, o autor se serve dos mais variados recursos: carta, diálogo, prosopopeia, crônica política, memorial jurídico, prece, paralelo e exegese bíblica. Trata-se de comentar e discutir alguns percalços enfrentados pelo tradutor ao abordar um texto que alude a polêmicas complexas e a fatos históricos por meio de linguagem sutil e repleta de subentendidos.
21 de junho | 14:30-16:00
Traduzir e editar De la démocratie en France, de François Guizot
Ministrante: Marisa Midori Deaecto (Universidade de São Paulo)
Paris, Londres, Bruxelas, Liège, Haia, Maestricht, Utrecht, Oslo, Estocolmo, Berlim, Frankfurt an der Oder, Leipzig, Grimma, Breslau, Viena, Madrid, Palma, Nápoles, Turim, Lisboa, Nova York, Cidade do México, Rio de Janeiro... 49 edições impressas logo após o lançamento simultâneo em Londres e Paris, em 10 de janeiro de 1849, sem contar as reimpressões e reedições. De la démocratie en France foi publicado em diferentes línguas e modalidades editoriais, o que nos permite flagrar o mesmo texto editado em brochura, folheto e até mesmo em folhetim. Tais aspectos, a saber, a ampla difusão geográfica, somada às formas editoriais e às diferentes traduções (em português, foram, pelo menos, quatro versões) levantam a seguinte pergunta: em que medida a história editorial, em diálogo com a bibliografia material, pode contribuir para o estudo sobre a tradução de um texto? Noutros termos, as formas editoriais alteram o conteúdo da escrita? Em se tratando das escolhas do tradutor e do editor, como abordar essa questão à luz de um estudo de caso?
23 de junho | 14:30-16:00
A tradução de Casa grande e senzala em francês
Ministrante: Glória Carneiro do Amaral (Universidade de São Paulo)
A fascinação de Roger Bastide pela obra de Gilberto Freyre levou-o a fazer a única tradução de sua carreira: Casa grande e senzala para o francês. Realizada em 1952, foi reeditada pela Gallimard em 1974, confirmando o interesse do público francês pela obra do sociólogo brasileiro. É até hoje, para a ministrante, a única tradução francesa dessa obra. Procurar-se-á discutir como foi recebida essa tradução e quais os equívocos e acertos do tradutor, francês e não especializado na área. Embora a tradução revele deficiências no conhecimento de um léxico específico, deve-se considerar a defasagem temporal e o empenho e entusiasmo do sociólogo francês.
28 de junho | 14:30-16:00
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis: tradução e recepção na França
Ministrante: Lucia Granja (Universidade Estadual de Campinas)
Neste encontro, serão conhecidas todas as tentativas que Machado de Assis fez para ter traduzida a sua obra Memórias póstumas de Brás Cubas para o alemão e/ou francês, línguas de prestígio, à época, no que se refere à edição e circulação cultural internacional. Nesse processo, serão analisadas todas as tentativas conhecidas de negociação entre o escritor brasileiro e os editores Garnier e o contexto final em que a obra foi finalmente traduzida e publicada em francês, dois anos após o falecimento do escritor.
30 de junho | 14:30-16:00
A recepção de Gabriela, cravo e canela no Brasil e na França
Ministrante: Antonio Dimas (Universidade de São Paulo)
O surgimento de Gabriela, cravo e canela em 1958, no Brasil, quebrou o jejum narrativo de Jorge Amado, que vinha desde 1954. Nesse ano, ao publicar Os subterrâneos da liberdade, nossa crítica preferiu o silêncio ostensivo, dado o caráter panfletário dessa trilogia. Com Gabriela, o autor abandonava o proselitismo político, alterava sua chave narrativa de forma radical e voltava a ser assunto das boas seções literárias do periodismo brasileiro. Na Europa e nos EUA, seu sucesso não foi menor, dado que a caboclinha de aparência ingênua correspondia a muitos estereótipos do imaginário masculino.