Floresta de Saberes: a Diversidade de Existências e Territórios das Mulheres Indígenas
Dias 2, 3 e 4 de setembro Das 9h às 12h e das 14h às 17h |
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Este curso integra o conjunto de atividades do programa Caminho da Cutia: Territórios e Saberes das Mulheres Indígenas, proposto pela trinca de catedráticas para o período de sua titularidade na Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, uma parceria entre o Instituto de Estudos Avançados (IEA) e a Fundação Itaú. Em um marco inédito e histórico para a USP e para a sociedade envolvente, pela primeira vez as catedráticas são mulheres indígenas: Arissana Pataxó, Francy Baniwa e Sandra Benites Guarani assumiram o compromisso de reforçar a interculturalidade no espaço. universitário. Como pesquisadoras, artistas e escritoras, a própria composição da Cátedra já ilustra um dos grandes objetivos da trinca: visibilizar a diversidade dos saberes, territórios e existências de mulheres indígenas.
Em consonância com este propósito, o curso buscará trazer um panorama dessa diversidade, seja no que diz respeito aos temas das conferências, seja na composição do corpo docente de convidadas, elas também com atuações e formações acadêmicas distintas. Conforme diálogos institucionais, espera-se que este curso possa contribuir inclusive como referência para possíveis edições futuras deste espaço de formação na USP.
Dentre os temas elencados há campos como literatura, cinema, artes visuais, saúde, meio ambiente, sempre em relação a perspectivas de mulheres indígenas de diferentes regiões, etnias, gerações e trajetórias. Ainda que estes já sejam campos de pesquisa consolidados na academia, a especificidade do curso traz justamente um protagonismo indígena sobre estes debates, contribuindo para a ampliação de referências, de epistemologias e cosmogonias para além do eurocentrismo.
Ainda que o protagonismo seja de mulheres indígenas, suas contribuições não se encerram no debate sobre mulheres, uma vez que suas preocupações políticas envolvem sempre seus povos como um todo, das crianças aos mais velhos, dos jovens aos adultos, dos homens às mulheres, dos rios às florestas. Diante disso, o curso objetiva contribuir não só para a visibilidade dos enfrentamentos e desafios vivenciados por mulheres indígenas em suas trajetórias, como também busca visibilizar sobretudo as resistências por elas construídas para "adiar o fim do mundo", como diz Ailton Krenak.
Objetivo
Promover a visibilidade e o reconhecimento da diversidade das perspectivas de mulheres indígenas, seus saberes, territórios e atuações.
Metodologia
O curso estará dividido em seis conferências, que ocorrerão em três dias, nos turnos da manhã e da tarde. Não é necessário conhecimento prévio sobre os temas. A metodologia será expositivo-dialógica e, durante as conferências, as convidadas terão uma fala inicial que será seguida por um momento destinado ao debate, em que os/as estudantes poderão trazer perguntas e comentários sobre o conteúdo.
Coordenação
Martin Grossmann (ECA/IEA)
Geni Daniela Núñez Longhini (IEA)
Liliana Sousa e Silva (IEA)
Público-alvo
Serão priorizadas pessoas indígenas e estudantes da USP (graduação e pós-graduação).
Critérios de aprovação
75% de frequência.
Curso público e gratuito.
Critérios de seleção
Carta de motivação/interesse.
Local
Todas as aulas serão ministradas na Sala Alfredo Bosi (Instituto de Estudos Avançados), com exceção da aula II (dia 02/09, às 14:00), que será no Auditório do Conselho Universitário (Rua da Reitoria, 374, Térreo).
Cronograma
- Inscrição (manifestação de interesse em participar do curso): de 12 a 16 de agosto, pelo sistema Apolo.
- Após a confirmação de inscrição no sistema Apolo será enviado, por e-mail, um formulário do IEA que deverá ser preenchido entre os dias 17 e 23 de agosto.
- Efetivação da matrícula a partir da análise dos formulários e de acordo com o público-alvo e critérios e seleção: resultado em 26 de agosto.
- Realização do curso: 2, 3 e 4 de setembro, das 9h às 12h e das 14h às 17h. Carga horária total: 18 horas.
Programação
Aula I (02/09): Trançando as artes: mulheres indígenas e suas expressões artísticas
Coordenação: Arissana Pataxó
É comum que as artes indígenas não tenham uma compartimentalização rígida, uma vez que diversas linguagens artísticas se encontram nos fazeres cotidianos, nos rituais, nos processos de plantio e colheita, no cuidado das crianças e dos mais velhos. Para esta aula, as convidadas irão apresentar suas trajetórias nas diferentes expressões artísticas que as constituem. Convidadas confirmadas:
- Graça Graúna Potiguara (RN): escritora e professora adjunta na Universidade de Pernambuco (UPE).
- Patrícia Para Yxapy (RS): Professora, roteirista, curadora e realizadora audiovisual indígena da etnia Mbyá Guarani.
- Carmézia Emiliano (RR): artista plástica makuxi.
Aula II (02/09): Gestando políticas: liderança, política e movimento indígena
Coordenação: Sandra Benites
No movimento indígena, há muitas formas de fazer política para além da dimensão institucional, seja a política de diálogos internos com as comunidades, seja a política de negociações com não indígenas, seja na sensibilização dos mais jovens para a luta pelo território. As convidadas foram e são referências históricas no que diz respeito à presença de mulheres indígenas nas mais diferentes formas de fazer política. Convidadas confirmadas:
- Catarina Tupi Guarani (SP): liderança indígena, artesã e educadora formada em Pedagogia pela USP.
- Beatriz Pankararu (SP): representante da Reserva Indígena Filhos Dessa Terra, em Guarulhos. É também artista visual e ativista.
- Eliane Potiguara (RJ): primeira autora de literatura indígena no Brasil. É doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ).
- Joziléia Kaingang (SC): geógrafa e professora. Atualmente é diretora do Departamento de Promoção de Políticas Indigenistas, do Ministério dos Povos Indígenas.
Aula III (03/09): Redes de amparo: saúde da mulher e meio ambiente
Coordenação: Francy Baniwa
O território não é apenas um espaço físico, um local específico, mas é também parte de quem nós somos. A partir da noção de corpo-território, nesta aula serão discutidas as inter-relações entre as violências sofridas pela Terra e as violências sofridas pelas mulheres indígenas, que também são parte dela. Serão também abordadas formas possíveis de cuidado e de saúde integradas, territorializadas e tradicionais. Convidadas confirmadas:
- Kellen Kaiowá (MS): bióloga e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
- Cinthia Guajajara (MA): coordenadora da Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (ANIMA), presidente do Conselho de Educação Escolar Indígena do Maranhão (CEEI - MA), é especialista em Direitos Indígenas.
- Eufelia Tariano (AM): pesquisadora, enfermeira e especialista em saúde indígena.
Aula IV (03/09): As tecituras das mulheres indígenas na universidade
Coordenação: Francy Baniwa
A presença de mulheres indígenas na universidade é acompanhada de uma série de entraves, uma vez que sua permanência, objetiva e subjetivamente, nem sempre é amparada institucionalmente. Para povos em que a coletividade é fundamental, separar mães de suas crianças ou não propiciar condições para que estejam juntas, por exemplo, pode ser um fato de "expulsão" indireta. Além disso, os currículos e as ementas dos cursos raramente contemplam perspectivas de mundo para além da eurocêntrica. Sobre estes e outros embates, as convidadas compartilharão suas vivências. Convidadas confirmadas:
- Rutian Pataxó (BA): Graduada em Economia UFBA, com especialização em Direitos Humanos UFBA e mestranda em Estudos Étnicos e Africanos (UFBA); Ouvidora adjunta da Defensoria Pública da Bahia.
- Márcia Mura (AM): Escritora, articuladora política e cultural, educadora, percorre o território Mura e outros lugares com a pedagogia da afirmação indígena. Doutora em História Social pela USP e aprendiz dos saberes dos mais velhos.
- Jera Guarani (SP): liderança indígena comunitária na aldeia guarani mbya Kalipety (SP).
Aula V (04/09): Ecossistema de línguas indígenas
Coordenação: Arissana Pataxó
A destruição e a exploração da Terra também têm efeitos no "ecossistema" de línguas originárias, pois com a continuidade da invasão dos territórios indígenas e com o aumento do racismo religioso, o direito ao território, ao modo de vida e ao falar da língua também se vê profundamente afetado. Na linha de frente da revitalização e do reflorestamento de línguas indígenas, mulheres de diferentes povos têm participado de iniciativas coletivas de fortalecimento e, nesta aula, serão apresentadas algumas delas. Convidadas confirmadas:
- Altaci Corrêa Rubim/Tataiya Kokama (AM): pesquisadora e ativista, doutora em Linguística pela Universidade de Brasília-UnB. Primeira professora indígena a ingressar no corpo docente da UnB.
- Sueli Maxakali (MG): professora, cineasta e liderança indígena.
- Anari Pataxó (BA): membro do Grupo de Pesquisadores Pataxó Atxohã.
Aula VI (04/09): Nossos caminhos: finalização do curso
Coordenação: Sandra Benites, Francy Baniwa e Arissana Pataxó
Neste momento de finalização e partilhas coletivas, haverá também a apresentação de relatos críticos feitos por estudantes de pós-graduação, que trarão suas impressões, elaborações e considerações sobre o ciclo.
Referências bibliográficas
BENITES, Sandra Ara. Viver na língua guarani nhandeva (mulher falando). Dissertação de mestrado em antropologia social – Museu Nacional. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018. Disponível para acesso em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/8237053/mod_resource/content/1/Benites%2C%20Sandra%20-%20Viver%20na%20l%C3%ADngua%20Guarani%20Nhandeva%20%282018%29.pdf.
FONTES, Francineia. Hiipana, Eeno Hiepolekoa: construindo um pensamento antropológico a partir da mitologia baniwa e de suas transformações. Dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019. Disponível para acesso em: http://objdig.ufrj.br/72/teses/885558.pdf.
GRAÚNA, Graça. Dos saberes indígenas: o nosso papel também é fazer arte. Revista Literatura em Debate, v. 12, n. 22, p. 223-230, jan./jul. 2018. Disponível para acesso em: https://revistas.fw.uri.br/index.php/literaturaemdebate/article/view/2936/2471.
GRIJALVA, Dorotea Gómez. Mi cuerpo es um território político. Brecha Lésbica (coletivo org.). Voces descolonizadoras, Caderno 1, p. 1-27, 2012. Disponível para acesso em: https://zazie.com.br/wp-content/uploads/2024/05/PF_Dorotea-Gomez-Grijalva_Meu-corpo-e-um-territorio-politico_Zazie-Edicoes_2020.pdf.
GUARANI, Jerá. Tornar-se selvagem. Piseagrama, Belo Horizonte, n. 14, p. 12-19, 2020. Disponível para acesso em: https://piseagrama.org/artigos/tornar-se-selvagem.
NÚÑEZ, Geni. Nhande ayvu é da cor da terra: perspectivas indígenas guarani sobre etnogenocídio, raça, etnia e branquitude. Tese de Doutorado em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2022. Disponível para acesso em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/241036.
SOUZA, Arissana Braz Bonfim. Arte e Identidade: Adornos corporais Pataxó. Dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos – UFBA, 2012. Disponível para acesso em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/14122/1/dissertacao%20_ABBSouza.pdf.
SMITH, Linda T. Descolonizando metodologias: pesquisa e povos indígenas. Trad. Barbosa, Roberto G.Curitiba: Editora UFPR, 2018. Resenha disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/JWH4ckHYcn9ZVfVDkV3SBBx.