Populações Tradicionais e Conservação da Biodiversidade: Entre os Valores da Tradição, da Ciência e do Mercado
Detalhes do evento
Quando
a 03/10/2013 - 12:30
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Participantes
Moderadora: Ana Tereza Reis da Silva (UnB e IEA).
Estudos do campo socioambiental sustentam que a conservação da biodiversidade envolve, invariavelmente, relações e interesses conflitantes. De um lado, operam os interesses do modelo desenvolvimentista de progresso, cujas demandas e processos de produção ultrapassam os limites biofísicos dos ecossistemas; de outro, situam-se as crescentes demandas por justiça socioambiental e gestão democrática dos recursos naturais. Paradoxalmente, as políticas e as legislações ambientais vigentes tanto impõem limites às ações humanas quanto buscam acomodar os interesses de mercado e, em consequência, os valores de controle da natureza veiculados pela tecnociência.
Em tal contexto, as populações tradicionais, apesar do importante papel que exercem no processo de conservação da biodiversidade, encontram dificuldades para permanecer em seus territórios com autonomia, cultivando seus modos de vida e fortalecendo as interrelações ecológicas que praticam há varias gerações. Assim, a lógica de conservação para a sustentabilidade, afinada com os princípios da economia verde e da eficiência técnica, não raro parece ignorar o valor dos conhecimentos tradicionais nos processos de conservação da biodiversidade.
De outra feita, a persistência da concepção preservacionista, cuja premissa pressupõe a incompatibilidade entre a presença humana e a conservação das riquezas naturais, ainda se mostra operante mesmo em territórios onde a legislação permite a permanência de populações tradicionais. Esses impasses resultam do confronto entre cosmologias distintas: uma que carrega a marca da ciência ocidental e que estabelece uma fronteira entre os ecossistemas naturais e as sociedades humanas; e outra, praticada por populações tradicionais indígenas e não indígenas, para as quais o social e o natural constituem domínios interdependentes.
Em Unidades de Conservação de uso sustentável, que permite a permanência de populações tradicionais, as relações em jogo parecem apontar para um estranho e mal colocado conflito entre os direitos das pessoas e o interesse público pela conservação da biodiversidade. Contudo, em territórios dessa natureza as variáveis que se colocam revelam um campo muito mais vasto e complexo de relações que ultrapassam a simples dualidade entre a socio-diversidade e a biodiversidade. Dentre essas relações, apontamos cinco delas que se mostram relevantes para o debate que terá lugar na mesa-redonda, quais sejam:
(a) Valores mutuamente reforçadores das relações entre os saberes tradicionais e a conservação da biodiversidade;
(b) Associativismos comunitários para a conservação da biodiversidade: o potencial da Economia Solidária;
(c) Práticas de fortalecimento dos processos participativos para a conservação da biodiversidade e para a promoção da qualidade de vida das populações tradicionais;
(d) Unidades de Conservação de Uso Sustentável: conflitos e impactos às práticas socioeconômicas e aos laços comunitários das populações tradicionais;
(e) Experiências de manejo sustentável em Unidades de Conservação: avanços e impasses nas relações entre conservação da biodiversidade, saberes tradicionais, ciência e mercado.
Inscrições
Através do e-mail leila.costa@usp.br
Organização
Projeto Temático Fapesp 2011/51614-3 – Instituto de Estudos Avançados da USP
Programação
- Debatedores
- Ivaneide Bandeira Cardozo (Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé)
Exposição: Terras indígenas e a conservação da biodiversidade - Walter Steenbock (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade)
Exposição: Participação social e conhecimento tradicional em políticas de conservação ambiental
Sinopse: A participação social na gestão de Unidades de Conservação é, além de uma premissa, uma obrigação legal. A diversidade cultural nessas Unidades expressa diferentes formas de uso dos recursos naturais, de grande importância para a conservação socioambiental. O ICMBio, órgão gestor das Unidades de Conservação Federais, vem buscando, por meio de diferentes estratégias, a concretização dessa participação.
- Ana Tereza Reis da Silva (UnB e IEA)
Evento com transmissão em: http://www.iea.usp.br/aovivo/2