O Terceiro Excluído – Contribuição para uma Antropologia Dialética (Pré-Lançamento de Livro)
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a 20/04/2022 - 12:00
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Para Fernando Haddad, a teoria darwiniana da evolução não se aplica à cultura. Seria necessário encontrar outro conceito que não o de evolução para se referir à dinâmica cultural. Defende, então, que a cultura não evolui, mas “revolui”, um neologismo que buscaria afirmar que não existe “evolução cultural”.
O novo livro do filósofo Fernando Haddad, professor de ciência política da USP, pretende provocar discussão sobre as bases teóricas da emancipação humana. Para tanto, faz uma crítica aos atuais modelos de três disciplinas: biologia, antropologia e linguística.
A obra traz um olhar crítico sobre os dilemas que a humanidade enfrenta, ao mesmo tempo que pavimenta o caminho para a recepção de trabalhos heterodoxos, sobretudo antropológicos.
Tal olhar crítico parte do seguinte pressuposto: o de que a contradição é uma dimensão específica do humano. Sem ela, a antropologia, vira uma pseudociência, que no mais das vezes só serve para justificar concepções ideológicas de feição positivista.
Sem a dialética, as humanidades regridem. Da mesma maneira que a biologia, diante da física e da química, invoca propriedades transcendentes ou emergentes de uma dimensão mais complexa como a vida — o que em nenhuma medida nega as propriedades da matéria inorgânica —, as humanidades devem invocar o que é próprio da cultura em relação à vida para firmar sua especificidade, sem que seja necessário negar nenhuma das propriedades da biologia.
Assim como os físicos e químicos podem contribuir com a elucidação dos mistérios da vida sem, no entanto, tentar reduzi-la às moléculas, os biólogos podem apoiar a pesquisa sobre a dinâmica cultural sem reduzi-la aos genes ou a outros replicadores.
Com o verbo “revoluir”, o autor pretende transmitir com mais propriedade a ideia de que as mudanças culturais se dão em um processo contraditório, dialético. A passagem da biologia para a cultura é igualmente um movimento transcendente, em que uma dimensão não nega a anterior, apesar do caráter disruptivo de ambas: a origem da vida e o aparecimento da linguagem humana.
Se a linguagem simbólica é, de fato, um resultado da evolução, ela produz uma “outra natureza” que vai muito além da biológica. Inspirando-se na ideia do biólogo François Jacob sobre as “três naturezas”: física, biológica e cultural.
Uma outra forma de dizer talvez se mostre mais precisa: um único mundo, três temporalidades. Leis fundamentais da física são simétricas no tempo; no caso da biologia, o passado e o porvir representam direções totalmente distintas, assimétricas; a linguagem simbólica, pressuposto da cultura, típica dos seres humanos, nos deu a capacidade de viajar no tempo e de inventar um porvir.
Exposição:
Fernando Haddad (FFLCH e IEA/USP)
Entrevistadores:
José Eli da Veiga (Programa Professor Senior)
Laura Luedy (IFCH/Unicamp)
Coordenação:
José Eli da Veiga (Programa Professor Senior)
Transmissão
Acompanhe a transmissão do evento em www.iea.usp.br/aovivo