A divulgação científica feita pela Agência USP de Notícias e por novo núcleo
Hérica Dias, da Agência USP de Notícias |
A USP possui vários veículos e serviços de comunicação. Boa parte do trabalho realizado é voltada para a divulgação científica, incluindo resultados e desenvolvimento de pesquisas, cursos e eventos acadêmicos.
Os veículos mais abrangentes (impressos, online, televisivos e radiofônicos) são vinculados à Superintendência de Comunicação Social (SCS), mas unidades de ensino e pesquisa, museus e institutos especializados também contam com setores e ações dedicados a levar ao público informações sobre as realizações acadêmicas.
Um veículo já tradicional destinado exclusivamente a esse fim é a Agência USP de Notícias da SCS, criada em 1995. Agora foi criada outra iniciativa também centrada nesse trabalho: o Núcleo de Divulgação Científica, vinculado à Reitoria..
Dada a importância da divulgação sobre ciência, tecnologia e inovação para o próprio desenvolvimento dessas áreas, como atestam várias pesquisa e estudos, o Grupo de Pesquisa Observatório da Inovação e Competitividade/NAP (OIC) realizou no dia 11 de novembro um seminário com duas jornalistas atuantes na Universidade: Hérica Dias, da equipe da Agência USP de Notícias, e Mônica Teixeira, coordenadora do Núcleo de Divulgação Científica.
Hérica fez uma exposição detalhada sobre o perfil, funcionamento e resultados da agência, que completou 20 anos de existência no primeiro semestre, atuando como "uma ponte entre os laboratórios e o público", de acordo com ela.
A agência produz um boletim diário no qual sempre constam duas notícias sobre pesquisas e notas sobre cursos e eventos acadêmicos. As edições são enviadas por e-mail a cerca de 6 mil assinantes, na maioria veículos de imprensa e jornalistas que se cadastraram no site do serviço. Segundo Hérica, cidadãos comuns, empresas, estudantes e mídias não jornalísticas também utilizam as informações e solicitam autorização para o uso dos textos.
As notícias do boletim também são divulgadas no portal da Universidade, no "Jornal da USP", em boletins na rádio USP, na página da USP no Facebook (com 115 mil seguidores) e em páginas próprias da agência em redes sociais: "No Facebook, onde a agência tem 10 mil seguidores, são divulgadas apenas pesquisas; no Twitter, as informações são sobre pesquisa, cursos e eventos".
Hérica disse que as principais fontes de informação sobre pesquisas são a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, chefias de departamentos, líderes de grupos de pesquisa e assessorias de comunicação das unidades, além de pesquisadores que entram em contato com a agência diretamente.
Site da Agência USP de Notícias |
O número de republicações dos textos da agência é difícil de avaliar, pois o uso das notícias é livre, de acordo com a jornalista. Parte do impacto pode ser constatado por meio de levantamento ("clipping", no jargão jornalístico) do que é publicado sobre a USP em jornais e revistas do país.
Hérica afirmou que as notícias são reproduzidas ou utilizadas como pauta pela Agência Brasil (do governo federal), portais (UOL, por exemplo), jornais de grandes centros (como o Correio Brasiliense e o Diário de Minas), do Norte, do Nordeste e do interior de estados das outras regiões. As emissoras regionais de TV onde há campus da USP, como é o caso da EPTV, têm no boletim uma fonte para o noticiário. Há também editoras que solicitam autorização para incluir textos da agência em livros didáticos.
Mônica Teixeira, coordenadora do Núcleo de Divulgação Científica da Reitoria da USP |
Multimídia
Mônica Teixeira explicou como ocorreu seu envolvimento na divulgação científica da USP e a criação do núcleo que coordena.
Em 2014 começaram os contatos entre ela e a administração da Universidade para que colaborasse num serviço de divulgação científica voltado, inicialmente, para os 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) sediados na USP.
Em fevereiro, Mônica começou a montar a equipe do núcleo, atualmente constituída por ela e mais quatro jornalistas provenientes de outros setores de comunicação da USP.
Desde o início, foi solicitado a ela que o trabalho do núcleo fosse constituído majoritariamente por conteúdo multimídia. A referência era o padrão dos vídeos educativos televisivos, segundo Mônica.
Todavia, o projeto teve de ser adaptado à nova realidade da comunicação, onde "a televisão deixou de ser a primeira entre pares, com cada vez mais aparelhos desligados e as pessoas assistindo a vídeos no YouTube, que possui canais com milhões de inscritos".
Site do Núcleo de Divulgação Científica da USP |
Mônica explicou que o objetivo do núcleo é colaborar com a alfabetização científica. "Para entender os conteúdos com base científica, o público tem de estar familiarizado com o que é ensinado no ensino médio. No entanto, mesmo em São Paulo, estado com a maior taxa de matrículas nesse ciclo (70% dos egressos do ensino fundamental), dos 3 milhões de estudantes que ingressam, apenas metade o conclui. Esse é o grande gargalo para o desenvolvimento do país".
Por isso o alvo do núcleo é o aluno do ensino médio, segundo Mônica, pois "esse estudante precisa de apoio da USP, a qual não pode ser intimidante para ele, pois isso é ruim para ela, uma vez que a Universidade precisa atrair os melhores alunos, fazer com que percam o medo de prestar o seu vestibular".
Para atrair esses jovens, explicou, esse tipo de divulgação precisa ser online e privilegiar formatos multimídia, com vídeos, fotos, infográficos, animação etc.
Lançado no dia 12 de novembro, o primeiro trabalho do núcleo revestiu-se de uma importância especial, pois tratou de uma pesquisa inédita de um cepid que seria divulgada na mesma data numa das mais prestigiosas revistas científicas da área de atuação do centro.
O Cepid Células-Tronco, coordenado pela geneticista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências (IB) da USP, recebeu a confirmação que um artigo de sua equipe seria publicado na revista "Cell". O Núcleo de Divulgação Científica foi avisado disso e começou a produzir conteúdo sobre a pesquisa para ser divulgado assim que "Cell" publicasse o artigo.
O grupo de Mayana pesquisa os aspectos genéticos da distrofia muscular de Duchenne e utiliza como modelo animal cães da raça golden retriever. Há oito anos, foi descoberto que um dos cães apresentava a mutação genética para a distrofia, mas não tinha sintomas da doença. Depois, um filho desse cão nasceu com as mesmas características.
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Natássia Vieira, uma jovem pesquisadora orientada por Mayana, observara a singularidade do primeiro cão sem sintomas da distrofia e começou a trabalhar no caso. Depois de oito anos de pesquisas, o grupo liderado por Mayana, com a colaboração de pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP e de duas instituições americanas, Universidade Harvard e Broad Institute, descobriu o gene associado com o mecanismo que fez com que os dois cães não apresentassem sintomas da distrofia. Isso gerou o artigo publicado pela "Cell".
O trabalho desenvolvido nesse primeiro produto do Núcleo de Divulgação Científica incluiu vídeos sobre os pesquisadores e os cães, fotos, entrevistas, infográfico e press-release. A intenção de Mônica e sua equipe é ampliar cada vez mais o arsenal dos recursos multimídia em futuros trabalhos do núcleo.
Segundo ela, o núcleo busca divulgar as pesquisas de forma atrativa, mas num tom realista, "ao contrário do tom triunfante que caracterizas muitas vezes a cobertura da imprensa sobre avanços nas ciências". Exemplificou com o tratamento dado à primeira produção: "Há muitos desafios a serem enfrentados pelos pesquisadores e nossa intenção foi contar a história da descoberta de maneira a que as pessoas entendam o que foi alcançado, mas não comecem a imaginar que haja um tratamento baseado na pesquisa para uma criança com a distrofia."
Divulgação internacional
Mônica lembrou que no seminário sobre a divulgação da USP na imprensa realizado no final de 2014, Marcelo Leite, da "Folha de S.Paulo", disse que os jornalistas de ciência leem o que está publicado no EurekaAlert, serviço da American Association for the Advancement of Science (AAAS) dos Estados Unidos que relaciona o conteúdo das principais revistas científicas do mundo e publica press-releases de universidades e instituto de pesquisa com prestígio internacional. No caso da pesquisa sobre o caso dos golden retrievers, o press-release publicado pela "Cell" no EurekAlert foi produzido pela equipe coordenada por Mônica.
Perguntas
As perguntas enviadas às expositoras pelo público que assistia ao evento via internet referiam-se à estrutura da Agência USP de Notícias, à possibilidade de a Universidade ter uma revista de divulgação científica, ao fato de pesquisa recente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ter indicado que a ciência é um dos temas prediletos do público, à prevalência de outros temas sobre a ciência na disputa de espaço em publicações e ao papel da ciência na sociedade brasileira.
Hérica explicou que a agência conta com quatro jornalistas e dois estagiários, mas que recebe também colaboração das assessorias de comunicação das unidades: "Não somos especialistas em nenhuma área e não acho que o jornalista precisa ser especializado em alguma área científica para falar de ciência".
Sobre o papel da ciência na sociedade brasileira, Mônica disse que ninguém tem muito claro qual seria esse papel. Acrescentou que alguns historiadores creditam o desenvolvimento não significativo da ciência no país ao atraso no processo de industrialização .
Mario Salerno, coordenador do OIC e do evento, comentou que a imprensa não dá espaço para o que não tenha forte apelo midiático. Também questionou o fato de a USP não dar destaque para as empresas originárias de projeto nela desenvolvidos. Em respostas a ele, Hérica e Mônica concordaram que é preciso que as universidades tenham seus próprios canais de comunicação, especialmente mídias online.
Houve duas perguntas da plateia. Uma estudante de biblioteconomia perguntou como uma biblioteca poder ser um canal de divulgação científica. Uma profissional da área de divulgação científica da UFABC, quis saber a opinião das expositoras sobre a ideia de instrumentalizar os cientistas para que atuem na divulgação de suas pesquisas, sobretudo nas mídias sociais.
Em relação ao papel das bibliotecas, Mônica disse que também gostaria de saber como as bibliotecas podem ajudar na divulgação científica: "Uma das maneiras talvez seja elas definirem critérios para avaliação da informação científica presente na internet".
Sobre a atuação dos cientistas, ela disse que inúmeros pesquisadores da USP têm forte presença na internet. No entanto, ela considera que pode não ser uma boa ideia deixar a cargo do pesquisador fazer a divulgação de seu trabalho, pois "às vezes ele não possui os rudimentos básicos sobre como fazer isso".
Fotos: Leonor Calazanas/IEA-USP