Estudantes de jornalismo viajam à Amazônia para reportagem
De São Paulo para a selva. Da teoria para a prática. Foi assim que os estudantes do 6° curso Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter, iniciativa do IEA, da Oboré Projetos os Especiais em Comunicações e Artes e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), encararam a viagem de estudos e reportagem à Amazônia, realizada de 23 a 27 de julho.
A viagem, promovida em parceria com o Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) e o apoio da Força Aérea Brasileira, acontece todos os anos ao final do curso com o objetivo de dar aos alunos a oportunidade de conhecer parte da realidade amazônica e possibilitar a produção de reportagens na região.
Segundo Pedro Ortiz, coordenador pedagógico do curso, "trata-se de uma complementação, um momento importante, quando os estudantes entram em contato com alguns aspectos da Amazônia, ainda que num curto período de tempo e a partir de um roteiro fechado, preparado pelo Exército".
Para Priscila Kesselring, do 1° ano do curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, a viagem foi essencial, pois mostrou que "é preciso estar no lugar para entender como as coisas realmente funcionam. A gente acha que conhece o assunto pesquisando do nosso computador em São Paulo, mas quando vem pra cá, vê que tudo é muito mais complexo".
Este ano, foram selecionados para a viagem 19 dos 25 estudantes que fizeram o curso. A escolha baseou-se no desempenho durante as aulas. Acompanhados de membros da coordenação da atividade e de representantes do CCOMSEx, eles passaram por duas cidades do Amazonas: a capital Manaus e Tabatinga, localizada na tríplice fronteira Brasil–Colômbia–Peru.
COBERTURA JORNALÍSTICA
Como contrapartida à viagem, os futuros jornalistas assumiram o compromisso de elaborar pautas para reportagens e conseguir a publicação de ao menos uma delas. Para isso, detalharam temas de interesse e fizeram entrevistas sobre esses assuntos e sobre atividades programadas pelo Exército.
"E isso é só um aperitivo, um começo. Quando retornam a São Paulo, eles têm que completar a apuração por conta própria com outras fontes para produzir um texto amplo, mais trabalhado", explica Ortiz.
Além disso, os estudantes se organizaram para fazer a cobertura jornalística da viagem, simulando a experiência de um correspondente ou enviado especial. Para isso, tiveram que redigir e publicar os textos nas condições precárias de que dispunham.
"As dificuldades pelas quais a gente passou, principalmente em Tabatinga, que fica no meio da selva, como falta de tempo, problemas de acesso à internet, conexão lenta, demora no deslocamento e queda de pauta, são enfrentadas por qualquer jornalista. Na Amazônia, em São Paulo ou em outro país, sempre vai acontecer esse tipo de problema. São dificuldades inerentes ao exercício do jornalismo”, afirma o coordenador.
Alguns dos assuntos explorados pelos estudantes na cobertura da viagem foram a carência de médicos e recursos no Hospital de Guarnição de Tabatinga; a participação dos brasileiros na economia de Letícia, cidade da Colômbia vizinha à Tabatinga; as dificuldades de deslocamento da comunidade de Palmeiras do Javari (AM), na fronteira com o Peru, onde fica o 1° Pelotão Especial de Fronteira do Exército; e a visita à comunidade indígena Tupé, às margens do rio Negro, próximo a Manaus.
CURSO
O curso Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter é um dos três módulos do Projeto Repórter do Futuro, desenvolvido pela Oboré, e visa a oferecer uma complementação universitária para estudantes de jornalismo.
As aulas são realizadas aos sábados e formatadas como conferências de imprensa, para que os alunos possam passar por uma experiência semelhante ao do cotidiano da profissão. Primeiro, um especialista convidado fala sobre um tema ligado à Amazônia e, em seguida, acontece uma entrevista coletiva.
A partir das coletivas de imprensa, os estudantes produzem um texto jornalístico, que deve ser entregue à coordenação do curso até o meio dia da quarta-feira seguinte para ser publicado no site laboratório do Repórter do Futuro. Além disso, devem publicar pelo menos um dos textos em um veículo de imprensa que não seja o blog pessoal ou jornal laboratório da faculdade.
Na edição deste ano do curso, os estudantes participaram de conferências com nove especialistas de diferentes áreas, sendo sete ligados à USP e quatro associados ao IEA. Entre os temas vinculados à Amazônia abordados estavam a questão territorial, os efeitos das mudanças climáticas, problemas ambientais, a venda de peças arqueológicas e a relação com os índios.
Para Roberto Bueno, do 2° ano da Universidade Metodista de São Paulo, a dinâmica do curso ajuda a melhorar a formação como jornalista, pois "incentiva a escrever, a focar o texto de acordo com a pauta, a apurar informações e a publicar o que foi produzido".
Já Kesselring destaca a importância do intercâmbio de ideias com os participantes. "O curso foi construtivo não só em termos teóricos. A troca com os colegas, conferencistas e coordenadores foi muito produtiva, principalmente porque ajudou a dar uma visão mais crítica dos textos que produzíamos", afirma.
ROTEIRO
Em Manaus, o grupo conheceu o trabalho realizado no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) e o zoológico mantido pelo Exército e navegou pelo Rio Negro em barco do Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA), ocasião em que ocorreu a visita à comunidade indígena Tupé.
Em Tabatinga, os estudantes passaram dois dias no Comando de Fronteira Solimões, do 8° Batalhão de Infantaria de Selva (CFSol/8° BIS), onde participaram de algumas atividades utilizadas no treinamento dos chamados "guerreiros da selva", como orientações sobre a montagem de redes militares para dormir, identificação de animais peçonhentos e a coleta de frutos, sementes e raízes para alimentação.
Nas duas cidades, representantes do Exército deram uma série de palestras sobre a atuação dos militares na região e responderam a perguntas dos estudantes.
Fotos: Flávia Dourado/IEA-USP