Você está aqui: Página Inicial / NOTÍCIAS / Rouanet defende a unicidade e a universalidade do conhecimento

Rouanet defende a unicidade e a universalidade do conhecimento

por Mauro Bellesa - publicado 09/08/2016 13:45 - última modificação 12/08/2016 12:33

Sérgio Paulo Rouanet faz a conferência "A Ciência e suas Fronteiras" no dia 17 de agosto, às 9h, na Sala de Eventos do IEA.
Sérgio Paulo Rouanet
O filósofo e sociólogo Sérgio Paulo Rouanet

As fronteiras entre as esferas do conhecimento têm de ser flexibilizadas, pois vedam o conhecimento do todo, mas não devem desaparecer, caso contrário as partes se tornariam invisíveis, segundo o sociólogo e filósofo Sérgio Paulo Rouanet, que fará a conferência A Ciência e suas Fronteiras no dia 17 de agosto, às 9h, na Sala de Eventos do IEA, com transmissão ao vivo pela internet. Para participar presencialmente é necessário realizar inscrição.

O principal aspecto da exposição de Rouanet será a questão da unicidade da ciência. Ele examinará as diversas tentativas feitas para superação das fronteiras internas dentro do campo das ciências; das fronteiras da ciência com a religião, a moral e a política; e do impacto das fronteiras nacionais e culturais sobre a ciência.

A conferência será comentada por pesquisadores das ciências sociais e naturais. Além do economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, da FGV-SP, haverá quatro comentaristas da USP: o jornalista Eugênio Bucci, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e superintendente de Comunicação Social da universidade; a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e da Universidade de Chicago, EUA; o físico Paulo Alberto Nussenzveig, do Instituto de Física (IF); e a farmacologista Leticia Veras Costa Lotufo, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB).

O evento é uma realização da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, parceria entre o IEA e o Itaú Cultural. Rouanet é o primeiro titular da iniciativa.

Fronteiras

A questão das fronteiras intracientíficas remete ao problema da hiperespecialização, de acordo com Rouanet. "Já no século 18 o desenvolvimento da ciência tinha alcançado tal grau de complexidade e diversificação que nenhum pensador isolado podia ter a pretensão de dominar o conjunto dos conhecimentos científicos"

Duas estratégias foram utilizadas para lidar com essa compartimentalização, segundo o conferencista: "A interdisciplinaridade, que respeitava as fronteiras, mas pretendia facilitar a comunicação entre as disciplinas, e a transdisciplinaridade, que a partir do princípio da unidade ontológica do real, aspirava a uma ciência igualmente unitária". Rouanet cita como exemplos das duas estratégias, respectivamente, a "Encyclopédie", de Diderot e d'Alembert, no séculoo 18, e a "International Encyclopedia of Unified Science", concebida nos anos 30 pelos positivistas lógicos do chamado Círculo de Viena.

Relacionado

Outros eventos da
Cátedra Olávo Setubal

15 de agosto, 9h30

Arte, Artistas, Universidade

15 de agosto, 14h30

O Prazer Desinteressado da Arte? De Kant à Cultura Pós-Aurática de Walter Benjamin


 

Inauguração da
Cátedra Olavo Setúbal
17 de maio

A Modernidade e suas Ambivalências

Midiateca

Todavia, para Rouanet, a questão de maior interesse contemporâneo não é a das fronteiras intracientíficas, mas sim entre as ciências naturais e as ciências humanas.

Ele comenta que na tradição vitalista europeia existe uma diferença de princípio entre as ciências naturais, voltadas para a explicação empírica, e as ciências histórico-hermenêuticas, as chamadas ciências do espírito, voltadas para a interpretação, não para a explicação causal.

Por outro lado, na tradição positivista, não há diferença entre as ciências do espírito e as ciências naturais, desde que as ciências humanas se dediquem a ter seus enunciados validáveis empiricamente e pela observação, sem formular julgamentos de valor, explica Rouanet.

Essa restrição, porém, é rejeitada pela Escola de Frankfurt: "Para Horkheimer, a teoria social crítica não perde sua cientificidade quando toma partido pela transformação de uma realidade humanamente insuportável; ao contrário, só nesse momento ela se torna verdadeiramente científica".

Rouanet considera que atualmente a discussão mais interessante sobre essa questão não se situa mais no terreno dos princípios e sim no terreno mais pragmático das trocas entre as ciências naturais e as ciências humanas, qualquer que seja o estatuto epistemológico de cada uma.

Quanto à segunda perspectiva, a das fronteiras entre a ciência e a religião, a moral e a política, Rouanet lembra que, de acordo com Max Weber, a característica central da modernidade foi a autonomia da ciência em relação à religião (o processo de "desencantamento") e às esferas sociais (moral e política).

Ele reconhece a importância do papel desempenhado por essa autonomia para o desenvolvimento científico, mas acredita que "talvez tenha chegado o momento de construir pontes, de recuperar mediações que se perderam com o processo de secularização". Além disso, não vê possibilidade de a sociedade lidar com certas questões, como as da bioética, sem recorrer a valores morais, e, no que se refere à política, supõe que "a própria sobrevivência da democracia talvez dependa da capacidade dos cidadãos de reassumir algum controle sobre os rumos da ciência".

Quanto à terceira perspectiva, a das fronteiras nacionais e culturais, Rouanet afirma que a questão da universalidade da ciência permanece mais atual do que nunca: "A universalidade não está mais ameaçada por fronteiras epistemológicas, mas continua ameaçada por fronteiras geográficas".

Para ele, o desconhecimento recíproco entre pesquisadores americanos e europeus, ou entre os ramos saxônico e europeu no caso da filosofia e das ciências humanas, "é propriamente escandaloso e constitui a mais inaceitável das fronteiras que paralisam a circulação do pensamento de hoje".

Como abordagem mais adequada para avaliar as três perspectivas sobre as ciências e suas fronteiras, Rouanet propõe a teoria da complexidade do sociólogo e filósofo Edgar Morin: "Ao contrário do paradigma cartesiano, baseado na simplificação e na parcialização, o paradigma da complexidade não separa o sujeito do objeto, o objeto do seu contexto, o todo das partes, as partes do todo, as partes entre si, a razão da emoção, a ciência da ética, o indivíduo da sociedade, a sociedade do indivíduo, os grupos e sociedades particulares da humanidade como um todo".


A Ciência e suas Fronteiras
17 de agosto, às 9h
Sala de Eventos do IEA, rua da Biblioteca, s/n, Cidade Universitária, São Paulo
Evento público, gratuito e com inscrição prévia
Informações: Sandra Sedini (sedini@usp.br), telefone (11) 3091-1678
Foto: Fernanda Rezende/IEA-USP