As manifestações nas ruas em debate
O IEA aceitou o desafio de refletir sobre a história no momento em que ela se faz. No dia 21 de junho, 14 pesquisadores vinculados ao Instituto se reuniram no evento O Que Está Acontecendo?, primeiro debate público realizado por uma universidade brasileira sobre as recentes manifestações nas ruas do país.
O evento deu início à série de encontros UTI Brasil, do Laboratório Sociedades Contemporâneas do IEA, voltada para a discussão do significado e do impacto desse momento de efervescência política. Os debatedores foram Massimo Canevacci, José Álvaro Moisés, Alfredo Bosi, Sergio Adorno, Bernardo Sorj, José da Rocha Carvalheiro, Jorge Luiz Campos, Arlene Clemesha, Nicolas Lechopier, Lucia Maciel Barbosa de Oliveira, Sylvia Dantas e Alexey Dodsworth Magnavita (também relator), todos vinculados direta ou indiretamente ao IEA. A moderação ficou a cargo de Renato Janine Ribeiro.
Os principais temas abordados no debate foram a imprevisibilidade das manifestações; uma possível crise da representação e da democracia; a saída do país de um estado de passividade; o sentimento de tédio como fator de motivação; a emergência de valores conservadores nos protestos; o clamor por direitos básicos, particularmente por transporte público, saúde e educação; o protagonismo da violência; a falta de foco das reivindicações; e a urgência de uma reinvenção política. A seguir, as opiniões dos participantes sobre esses e outros temas.
A voz dos participantes
IMPREVISIBILIDADE / ESPONTANEIDADE
"O modelo inaugural disso é o maio de 68 francês. Nós temos nesse quase meio século movimentos que surgem sem a gente saber o que vai surgir e quando vai surgir. Esses eventos são de certa forma grandes surpresas. Acontecimento em inglês é happening, e happening em português é justamente esse movimento único, sem ensaio prévio, sem diretor de cena e sem repetição, uma singularidade que geralmente se conota pela festa e alegria." – Renato Janine Ribeiro
"Esse tipo de movimento – principalmente da juventude metropolitana – tem a característica, agora e também no passado, de ser baseado no improviso, na explosão espontânea, de não ter uma liderança ou um partido político para dirigir. Essa espontaneidade é, em grande parte, baseada num tipo de qualidade de vida da juventude, da movimentação, do movimentar, do transitar. A possibilidade de se mover no espaço urbano é fundamental para essa juventude." – Massimo Canevacci
"Esse movimento é construído, mas a adesão é espontânea e finalmente massiva. Isso é muito parecido com o que aconteceu lá [na primavera árabe]. Também no Egito falava-se muito que não se esperava um movimento, que a população estava morta, adormecida, e de repente ela vai para as ruas." – Arlene Clemesha
"Compartilho apenas em parte o ponto de vista de que o movimento nasceu do tédio e tem uma dimensão espontânea. Os líderes do Movimento Passe Livre estão há oito anos levantamento essa bandeira, propondo manifestações e colocando em debate uma questão extremamente importante, que é o modelo de política pública de transporte nas grandes metrópoles brasileiras, inteiramente fracassado. Então eu acho que o movimento não é inteiramente espontâneo." – José Álvaro Moisés
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
"Esses movimentos têm seus mártires, seus mortos, mas mesmo assim têm um elemento forte de festa e de inserção de não participantes no espaço público." – Renato Janine Ribeiro
"O movimento teve essa capacidade de detonar um estopim que de alguma maneira mobilizou, levou as pessoas às ruas, levou as pessoas a perceberem, particularmente a juventude, que têm a possibilidade de intervir no país, que, se querem influir, essa é a oportunidade de participar." – José Álvaro Moisés
"Temos vontade de participação política. Mas não há uma cultura política. Ou seja, a questão da educação política é fundamental nas escolas." – Alexey Dodsworth Magnavita
"A favor da livre manifestação pública, portanto a favor da livre expressão de valores em si democráticos – este me parece um ponto consensual dos analistas. Governo, imprensa, universidade e todas as instâncias envolvidas no processo são (ou tornaram-se) unânimes no reconhecimento do direito de manifestação de segmentos da população. É um ganho que convém realçar em primeiro lugar." – Alfredo Bosi
DESDOBRAMENTOS
"As consequências de um acontecimento vão muitíssimo além das suas causas, muitíssimo além dos 20 centavos, nesse caso". – Renato Janine Ribeiro
"É uma incógnita os rumos que isso vai tomar. De qualquer forma, tivemos aí certa catarse. Mas penso que os movimentos que têm um percurso, uma reflexão, uma elaboração – e isso é distinto das manifestações catárticas – com certeza vão poder direcionar esses rumos, vão poder recuar, questionar, para novamente direcionar." — Sylvia Dantas
"O movimento fazer um balanço do que já conseguiu até agora implica na possibilidade, na capacidade de examinar o conjunto de temas que apareceram nas diferentes manifestações e, de alguma maneira, entender como organizar essas novas demandas e de que maneira elas podem se transformar em elementos de continuidade do movimento." – José Álvaro Moisés
TÉDIO
"A diferença do Brasil é que as manifestações acontecem em ambiente absolutamente democrático, ao contrário do que aconteceu na Tunísia, no Egito e em outros lugares onde também há esse detonador. Talvez o problema, para nós, não seja tanto a opressão, seja até mesmo o tédio." – Renato Janine Ribeiro
TRANSPORTE PÚBLICO / TARIFAS
"O que está acontecendo? É a pergunta prioritária, pois exprime o sentimento de perplexidade de que fomos tomados em face de um movimento de tamanha proporção, não só aparentemente, mas explicitamente dirigido como protesto pelo aumento de 20 centavos nas tarifas de ônibus da cidade. Quem está se manifestando são jovens que estão tendo oportunidade de, talvez pela primeira vez, protestar maciçamente contra o que lhes parece abuso do poder estatal em um dos itens vitais do cotidiano, que é o valor das tarifas de transporte público." – Alfredo Bosi
"É um movimento de jovens que têm uma história e que têm um propósito muito claro, muito objetivo, voltado para a questão do transporte público. É um movimento que começa com um objetivo muito claro. Mas alguns falam: ‘Mas apenas 20 centavos? Reles 20 centavos?’ Somos um país de extrema desigualdade: o gasto com transporte público para grande parte da população significa 30% de seu orçamento. Isso é algo para lá de absurdo. Esse aumento no orçamento de uma população que ganha um salário mínimo é tremendo. A gente precisa tocar num ponto: os lucros das grandes empresas de transporte. Essa conquista do não aumento traz a questão das grandes corporações (...), porque as grandes corporações é que gerem o sistema mundial. (...) Quando se fala aqui do transporte, está se atacando uma das corporações que têm grande força neste país, em detrimento da população." — Sylvia Dantas
"[A gratuidade do transporte] não é um detalhe, porque há coisas que não deveriam ter preço. E o mundo do crescimento econômico não deixa espaço para a gratuidade. Eu diria que essa reivindicação do transporte talvez seja mais fundamental do poderíamos pensar." – Nicolas Lechopier
"A coisa mais importante que deveria ser abolida agora, não só em São Paulo, é a catraca no ônibus. (...) É um absurdo que, para entrar no ônibus, eu tenha que passar por uma catraca". – Massimo Canevacci
CRISE DA DEMOCRACIA / CRISE DA REPRESENTAÇÃO
"Esse é um aspecto fundamental: a democracia puramente formal e representativa em termos eleitorais está em crise, e o seu descrédito merecido exige alguma resposta, ainda que difusa e insuficientemente articulada." – Alfredo Bosi
"O que está acontecendo é um enorme mal-estar com a democracia que temos no Brasil. Esse mal-estar está relacionado com a qualidade da democracia (...). Provavelmente a área de maior déficit é a da representação. Os partidos estão muito mais preocupados em chegar ao poder e nele se manter do que propriamente em estabelecer e manter conexões com os eleitores (...). Os partidos fracassaram, inclusive os partidos que nasceram dos movimentos sociais, como foi o caso do PT (...). Na dinâmica do presidencialismo de coalizão que vigora no Brasil, os partidos são chamados a compor a grande coalizão que governa e que portanto tem uma lógica de se manter no poder custe o que custar, mesmo que seja ao custo da corrupção (...). Não houve um líder de partido no Brasil, da situação ou da oposição, que dissesse qual é a sua posição em relação às demandas que estão nas ruas e o que os partidos propõem em relação a elas. Mais grave do que isso foi o fato de que nem o presidente do Congresso, nem o da Câmara, nem o líder do governo e nenhum líder da oposição vieram a público para estabelecer uma conexão. Essa ausência de conexão cobra um preço da democracia brasileira e daí o mal-estar que nós estamos vivendo." – José Álvaro Moisés
"Atualmente, ninguém quer se representado. Existe um conflito entre quem tem o poder de representar e quem tem o poder de ser representado. A autorrepresentação está destruindo o sistema de divisão comunicacional do trabalho – que era baseado na dimensão industrialista, do passado – e afirmando um novo tipo de subjetividade muito pluralizada, que não quer mais delegar a ninguém a força de se representar, de se narrar. Durante esse tipo de manifestação – e esse é o lado mais lindo para mim – não houve ninguém falando num comício público, com microfone. Eu acho isso fundamental, porque é baseado num tipo de afirmação crescente da autorrepresentação." — Massimo Canevacci
"Torcidas organizadas, gente da periferia dizendo: estamos cansados de ser explorados, temos uma mensagem a dar e nenhum partido político nem nenhum grupo está respondendo a isso." — Arlene Clemesha
"De acordo com a avaliação da 'The Economist', o Brasil ocupa uma posição democrática, mas ainda não é uma democracia plena, pois existem pontos que são delicados para nós. Por exemplo, tiramos uma nota muito alta no critério pluralismo partidário e notas muitos baixas em dois critérios que chamam a atenção: participação política e cultura política". — Alexey Dodsworth Magnavita
PASSIVIDADE E CATARSE
"Nós estávamos tomados por um estado de melancolia (...), de que as coisas estão tão complexas, de que somos tão impotentes que não há como sair disso. E de repente essas manifestações começam a acontecer aqui, no nosso país, em que todos achavam que nossa juventude estava alienada e que todos estávamos tomados por uma passividade muito grande. De repente a população vê os jovens se manifestando e também quer se manifestar, porque é vida, porque significa sair desse estado de certo sonambulismo, uma anestesia pela qual todos estavam tomados. Outros jovens, então, começam a participar desse movimento. É um momento de catarse, em que as pessoas estão colocando para fora a vivência de uma dissonância cognitiva (...), em que sua percepção da realidade não está de acordo com o que é dito. E o que é dito? Que somos a 7ª economia do mundo, que estamos melhorando, que a classe média está se expandindo, coisas muitos positivas que são colocadas e propagandeadas." – Sylvia Dantas
"No Egito, Tunísia, nos países árabes – terríveis ditaduras – a população teve que romper a barreira do medo. E aqui a população rompeu a barreia da apatia." – Arlene Chemesha
DIREITOS BÁSICOS
"O acesso à saúde, à educação, aos direitos básicos nos são negados, são o tempo todo ultrajados. As nossas instituições estão esfaceladas. Essa contradição que todos vivem no dia-a-dia foi trazida à tona, elas podem ter uma voz". – Sylvia Dantas
"A questão dos 20 centavos parece um detalhe, mas não é. Talvez seja de maior importância política, porque o transporte público é um bem básico, como a saúde, a água, a alimentação saudável. Acho importante ressaltar também que o transporte não é uma questão qualquer." – Nicolas Lechopier
"As manifestações têm um gatilho e outras reivindicações que aparecem, mas a área da saúde é tratada de uma maneira superficial. E ela tem que ser tratada de uma maneira global e local (...). O movimento tem que focar mais. Essa é uma questão que tem que ser pensada. E eu reivindico que um foco importante seja direcionado à área da saúde (...). Que não seja obrigatoriamente único, mas que seja explicitado de uma maneira muito clara." – José da Rocha Carvalheiro
"Não se trata de um problema de manifestação da presidente, mas de como o governo, no seu conjunto, vai tomar as pautas, os temas que apareceram, como propostas de solução dos problemas que estão colocados, particularmente no que diz respeito às políticas públicas mais importantes: saúde e educação." – José Álvaro Moisés
REINVENÇÃO POLÍTICA
"Houve uma interrupção da comunicação política entre os atores, que é um elemento fundamental na ação política. Quer dizer, não havia mais a possibilidade de estabelecer um canal de comunicação ou vias aceitáveis de comunicação (...). Nós estamos atravessando um novo momento de interrupção dessa comunicação. Isso significa um exercício de reinvenção política (...). Ou seja, os canais que são considerados legitimamente aceitos, de expressão, de reivindicação, de participação, de alguma maneira parecem esgotados. Ou parecem insatisfatórios. Há todo um exercício de encenação política, de pôr essa insatisfação, essa efervescência, num espaço público de grande audiência e de grande visibilidade". – Sergio Adorno (Relacionando, no início, as manifestações atuais e a invasão da Reitoria da USP em 2007.)
"Talvez esse seja o momento de os partidos e as instituições tão desacreditadas ouvirem o que as pessoas estão tentando dizer e fazerem esse exercício de reinvenção política. A gente está precisando urgentemente dessas instituições de outra maneira, reinventadas. Do jeito que elas estão, o descrédito só tenderá a crescer." – Lucia Maciel Barbosa de Oliveira
VIOLÊNCIA
"[Os jovens manifestam-se também] contra, obviamente, a repressão policial, aspecto que nos inquieta a todos, pois a presença indesejada de grupos dispostos ao vandalismo provoca um endurecimento perigoso das forças de segurança." – Alfredo Bosi
"Não a juventude paulistana ou carioca que imagina imitar Istambul. Eu acho que foi o contrário: na minha fantasia, foi a polícia paulistana, foi Haddad e Alckmin que imitaram e tentaram replicar o que aconteceu na Turquia." — Massimo Canevacci
"Houve uma violência da polícia, que todos nós recusamos, criticamos, e que de certo modo foi um grande detonador. E aí pudemos refletir: para muitos isso rememorou os acontecimentos da ditadura, para outros a ideia de que a polícia é sempre violenta e, portanto, tem que ser combatida. O discurso que conecta violência e protesto político está sendo requalificado. Até os anos 70, ele era legítimo, ou seja, a violência estava ligada ao fim da opressão, com os movimentos de descolonização, com a ideia de que a violência era um instrumento da política. O que a gente assiste a partir dos anos 70? O tempo todo uma desqualificação da violência, quer dizer, a violência não é um meio da política, a violência é a não-política. Parece que agora está havendo uma tentativa de retomar a questão da violência como um lugar da política." – Sergio Adorno
"A violência que foi mencionada tem um significado muito forte, por mais assustador e negativo que seja em muitos momentos. É realmente uma voz oprimida rompendo, e ela precisa ser ouvida. Há também muitas denúncias, similares ao que aconteceu no Egito, de que bandidos pagos estão infiltrados nas manifestações. Isso pode estar acontecendo." – Arlene Clemesha
"A gente tem um momento pontual que é o da violência da polícia militar (...). A violência muda tudo. No outro ato já havia 65 mil pessoas em São Paulo, inclusive aquelas que estavam reclamando que a ordem estava sendo atrapalhada." — Alexey Dodsworth Magnavita
CONSERVADORISMO / DIREITA
"Ontem houve agressão física por parte de pessoas participantes do movimento: a quem estava com bandeiras, a quem fazia parte de movimentos sociais já com uma trajetória histórica, a homossexuais, enfim, acho que houve uma guinada conservadora ontem bastante preocupante." – Lucia Maciel Barbosa de Oliveira
"Minha preocupação agora é com o fascismo (...). A gente foi hackeado pela mídia, pela direita, e todo mundo foi para a rua. E aí a coisa saiu de controle. Como não tem pauta, todo mundo levou o desejo contido de protestar contra tudo e contra todos. E agora temos que controlar o monstro que colocamos na rua." — Jorge Luiz Campos
"Após todo esse início, que teve aspectos muitos positivos, começam a aparecer grupos oportunistas – uma direita, um movimento fascista (...). Corre-se o risco que eles usurpem a própria aparência para o público geral e a própria condução e direção para onde esse movimento vai. E é nesse vácuo de compreensão, de comunicação que esses movimentos fascistas estão aparecendo e tomando a liderança de um movimento que surgiu tão bonito." – Arlene Clemesha
"Começa-se a perceber os sinais de cooptação do movimento (...), começa-se a notar que há uma aproximação de outras pautas (...). Começa-se a notar uma fagocitação do que o Movimento Passe Livre pretendia por movimentos extremamente conservadores (...). São pessoas usando a imagem obtida pelas manifestações para passar uma mensagem de golpe. Isso é muito perigoso. O Movimento Passe Livre fez o que tinha que fazer. Ocupou o espaço público, se manifestou, se expressou ao notar que estão tentando manipulá-lo, que estão tentando usá-lo. O que o Movimento faz? Se retira, faz muito bem. Para quê? Para que esses oportunistas de carteirinha voltem para onde nunca deveriam ter saído." – Alexey Dodsworth Magnavita
DIVERSIDADE DAS REIVINDICAÇÕES
"São movimentos que vão muito além do que o que os convocou e nos quais se projeta numa tela tudo que a sorte deseja, inclusive de caráter contraditório. Daí sucede também que com frequência o resultado lhes seja subtraído". – Renato Janine Ribeiro
"Se a gente olhar as manifestações, cada um tem o seu cartaz. Ainda que cada cartaz reflita um sentimento coletivo, ele é uma leitura singular de uma experiência coletiva, de uma comunicação política interrompida. Eu acho que essa experiência precisa ser pensada, quer dizer, o que ela quer, aonde ela quer chegar, e porque essa recusa desses mecanismos." – Sergio Adorno
"Para poder de alguma maneira prosseguir na reivindicação e no significado que teve inicialmente, o movimento tem que definir outras metas extremamente objetivas, tal como a meta de baixar de R$ 3,20 para R$ 3,00. Será necessário definir metas dessa natureza." – José Álvaro Moisés
"Esse movimento é elaborado pelo Movimento Passe Livre, ou seja, é iniciado com uma pauta clara. Dizer que é difuso, que não se sabe o que quer, isso é depois. Mas o movimento nasce com uma pauta muito objetiva." — Alexey Dodsworth Magnavita
"Tem foco: o foco do Passe Livre é o passe livre, em outro foco vai ser outro movimento. Agora, a pauta da corrupção é uma pauta da direita infiltrada, é uma pauta genérica. Não se discute corrupção; se discute casos de corrupção." – Jorge Luiz Campos
ESPAÇO PÚBLICO / ECOLOGIA
"Um elemento que não foi falado aqui e que me parece fundamental é a ideia de retomada do espaço público, a ideia do direito à cidade como espaço de encontro, de confronto (...). Não é à toa que as pessoas vão para a rua, não basta só estar conectado pela internet." – Lucia Maciel Barbosa de Oliveira
"A gente aqui faz um link entre o movimento no Brasil e o movimento na Turquia, bastante recentes. Os dois têm uma questão inicial que trata dos nossos modos de viver, do meio ambiente, da questão da urbanização, da mobilidade, do transporte. Isso não é um acaso. Há uma ligação forte entre os novos movimentos sociais e a questão da ecologia, sem se reduzir à dimensão ecológica." – Nicolas Lechopier
"As pessoas que reclamam do movimento acham que se manifestar contra alguma coisa é reunir os estudantes no Masp, cantar “Coração de Estudante” e soltar uma pomba da gaiola. Mas não é assim. Para realizar um movimento que cause uma transformação, é preciso perturbar a ordem. Se não perturbar a ordem minimamente – não quer dizer praticar violência ou vandalizar o patrimônio público ou privado –, não causa o impacto necessário." – Alexey Dodsworth Magnavita
ECONOMIA
"Uma coisa comum [entre o movimento no Brasil e outras primaveras] é a insuficiência do crescimento econômico para construir um sentido comum, como meta coletiva de nossa vida em sociedade. Talvez a chave de interpretação seja a característica perigosa do crescimento econômico infinito (...), o problema é a questão da economia, do papel do dinheiro, e aí eu estou voltando à questão do transporte e da gratuidade do transporte." – a Nicolas Lechopier
Fotos: Mauro Bellesa/IEA