Características da universidade contribuem para adoecimento de estudantes
Quadros de ansiedade, depressão e tentativas de suicídio têm se tornado cada vez mais frequentes entre estudantes de graduação e pós-graduação de universidades públicas brasileiras. Para discutir como a universidade pode agir para reverter essa situação, o USP Analisa desta semana conversa com a psicóloga da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP Maria de Fátima Aveiro Colares e a responsável pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento de Carreira da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul Manoela Ziebell de Oliveira.
Segundo elas, os índices de ansiedade, depressão e estresse nesse público chegam a se superiores à média da população. Além disso, na maioria dos casos, o adoecimento não é fruto de características do próprio estudantes, mas do próprio ambiente de trabalho e de estudo em que estão inseridos.
“Alguns cursos possuem particularidades, vicissitudes, que desenvolvem sintomas de ansiedade e de depressão. Uma questão também que a gente também pode entender como um fator que influencia no adoecimento, muitas vezes, é a falta de vocação daquele estudante para um determinado curso. As razões que levam um estudante a escolher sua profissão são as mais diversas. Muitos escolhem por acreditar em ter vocação e tem também um fator muito importante, que é a insistência da família para que ele faça o curso, muitas vezes sem ele estar devidamente vocacionado para isso”, explica Maria de Fátima.
Para Manoela, a exigência de altos números de publicações de artigos científicos na pós-graduação também está relacionada ao adoecimento dos estudantes. “Enquanto pós-graduação, de maneira geral, a gente já conseguiu superar a barreira de quantidade [de artigos publicados]. Acho que a gente tem que voltar a se preocupar com a qualidade, e para ter qualidade precisa de saúde. Na minha perspectiva, o jeito para melhorar tanto a saúde dos alunos quanto dos professores é rever quais são os nossos critérios de avaliação. Bons papers não são feitos em dois meses, então uma publicação de 12 papers por ano não faz muito sentido”, diz ela.
O USP Analisa é uma produção conjunta da Rádio USP Ribeirão Preto (107,9 MHz) e do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.