Cátedra Alfredo Bosi lança livro sobre formação inicial de professores do ensino básico
Estudos têm apontado quem em grande parte das instituições brasileiras formadoras de professores os currículos mostram um espectro fragmentado, reproduzindo modos de oferta do curso que se prendem a uma tradição cultural consolidada no início do século 20. As práticas formativas também se mostram pouco renovadas, não incorporando metodologias diferenciadas, além de adotar muito pouco das contribuições das tecnologias educacionais, que mostraram avanço significativo a partir da segunda metade do século passado.
Esse diagnóstico é de Bernardete Angelina Gatti, Luisa Veras de Sandes-Guimarães e Daniel Fils Puig, autores do livro “Uma Cartografia na Formação de Professores para a Educação Básica: Práticas e Soluções Inovadoras em Propostas Curriculares”, lançado este mês pela Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica (parceria do IEA com o Itaú Social).
O objetivo principal do livro é identificar e analisar cursos de formação inicial (licenciatura) de professores para a educação básica no Brasil que apresentem inovações em termos de práticas e dinâmicas curriculares [clique aqui para baixar a edição, disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP].
Também a interdisciplinaridade ("tão debatida na área") não se revela nos currículos e práticas, de acordo com os autores. "Isso não quer dizer que os cursos não tratem de conteúdos importantes para a área de conhecimento a que se voltam, ou que práticas atuais sejam idênticas às de décadas passadas, porém, o fazem ainda, em grande parte, sem as articulações necessárias com os aspectos educacionais e especificamente pedagógicos demandados para o exercício da docência na educação básica em cada um de seus níveis e modalidades de ensino, com suas especificidades."
Uma das conclusões dos pesquisadores da cátedra é a necessidade de investir permanentemente na qualificação e no aprimoramento do trabalho docente, no decorrer da vida profissional, afirmam. Uma das propostas é valorizar novas práticas e soluções curriculares e pedagógicas no que se refere à formação inicial para o exercício da docência, daí a “importância de reconhecer iniciativas que mostrem diferenciais em relação às propostas curriculares habitualmente praticadas na área”. A ideia, dizem, é trazer à luz um movimento de renovação buscado por instituições diversas que pode inspirar outras iniciativas.
Os autores afirmam que há análises que procuram trazer compreensões sobre aspectos relativos a fundamentos e/ou práticas na formação e sobre as características das pesquisas realizadas para esse fim, mas elas estão delimitadas a um tempo e a uma determinada área ou disciplina, sem chegar a discutir propostas curriculares dos cursos de formação.
Há também estudos sobre experiencias diferenciadas em cursos de licenciatura - realizadas por docentes em uma disciplina particular ou em estágios - e sobre iniciativas governamentais (federais, estaduais e municipais) que favorecem inferências sobre as possibilidades de avanços na formação inicial e continuada dos professores.
"Muitos estudos se referem a práticas educacionais de docentes do ensino superior que procuram inovar em sua dinâmica pedagógica, mas não dizem respeito ao curso como um todo."
Os autores ressaltam que, nos últimos 10 anos, "os incômodos com a formação de professores mobilizaram muitos docentes universitários em alguns setores educacionais", mas também houve apontamentos de que instituições inovações em suas propostas curriculares. A meta da obra é identificar, situando em seu tempo e espaço, e compreender instituições que construíram inovações em suas propostas curriculares na direção de um novo e melhor equacionamento de seus propósitos formativos de professores.
O livro trata de experiencias inovadoras no conjunto da licenciatura de quatro universidades e de cinco cursos diferenciados em suas instituições. No primeiro caso, são abordadas as iniciativas da Universidade Federal do ABC (duas licenciaturas), Universidade Federal do Maranhão (três licenciaturas), Universidade Federal do Sul da Bahia (cinco licenciaturas) e Universidade do Extremo-Sul Catarinense (nove licenciaturas). No caso de cursos específicos, são analisadas inovações na Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each) da USP, na Licenciatura em Educação do Campo da Universidade de Brasília, na Formação Intercultural de Educadores Indígenas da Universidade Federal de Minas Gerais, na Licenciatura Interdisciplinar em Artes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e na Licenciatura em Ciências da Universidade Federal do Paraná, Setor Litoral.
O livro discute também a experiência da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que implantou seu Complexo de Formação de Professores em 2018, uma estrutura de mediação de relações e ações entre as formações.