O historiador da arte Luiz Marques, da Unicamp, e o sociólogo José Corrêa Leite, do IEA e da Faculdade Armando Álvares Penteado, serão os expositores do seminário "Colapso Ambiental e Capitalismo", no dia 5 de junho, às 14h.
O tema de Marques será "O Decênio Cultural". Leite falará sobre "Progresso e Exterminismo". [Leia as sinopses abaixo.]
O evento é organizado pelo Grupo de Pesquisa Filosofia, Sociologia e História da Ciência e da Tecnologia e será coordenado por Marcos Barbosa de Oliveira, integrante do grupo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Para participar, é preciso efetuar inscrição prévia online. O evento é aberto a todos os interessados e gratuito. Quem não puder comparecer terá a oportunidade de assistir ao seminário ao vivo pela internet (nesse caso, não é preciso se inscrever).
O Decênio Crucial
Luiz Marques
“O que fizermos nos próximos dez anos determinará o futuro da humanidade nos próximos 10 mil anos.” Com essa frase, David King, professor emérito da Universidade de Cambridge, exprime um amplo consenso científico. O próximo decênio será, de fato, o mais crucial da história da humanidade. Aprofundamento da democracia socioambiental, diminuição da desigualdade econômica e das expectativas de consumo dos 20% mais ricos da humanidade, restauração das florestas e da biodiversidade, mudança do sistema alimentar, minimização do carnivorismo, redução da poluição e, acima de tudo, transição em regime de máxima urgência para um sistema energético de baixo carbono: de avanços imediatos em todas essas frentes dependem nossas chances de sobrevivência como sociedade organizada no segundo quarto deste século. Uma ampla tomada de consciência pela sociedade de sua situação-limite é o primeiro e decisivo passo para a inadiável redefinição da agenda política brasileira, no contexto da governança global.
Progresso e Exterminismo
José Corrêa Leite
O progresso é, frequentemente, uma questão de escala. Represar uma bacia hidrográfica em pequena escala pode representar um progresso para a população que ali vive; se isso se generaliza, destrói a bacia e força aqueles que vivem no local a se mudarem ou perecerem. Nessa dialética das escalas, forças produtivas podem se transformar em forças destrutivas. Difunde-se cada vez mais amplamente a percepção de que a ausência de limites para a racionalidade econômica do capitalismo globalizado está levando ao colapso ecológico. Isso coloca em xeque o horizonte de progresso que se constituiu como um dos princípios normativos da modernidade. Frente a um processo suicida – em princípio irracional, mas dotado de uma racionalidade própria – vale a pena resgatar o conceito formulado por E. P. Thompson em 1980 para analisar a lógica que poderia levar a uma guerra nuclear, o “exterminismo”, por ele apresentado como “o estágio final da civilização”. Combater a política exterminista vigente talvez seja a maneira mais adequada de designar o desafio que temos diante de nós.