Colocação de monumentos envolve disputas por construção de narrativas
Os protestos recentes protagonizados pelo movimento Black Lives Matter (em português, “Vidas Negras Importam”) trouxeram novamente à tona a discussão sobre uma possível remoção de monumentos que homenageiam personalidades históricas ligadas a memórias dolorosas, como a morte de negros e indígenas. O USP Analisa coloca esse tema em pauta com uma série especial em quatro episódios a partir desta semana. Neste primeiro programa, conversamos com o especialista do Centro de Preservação Cultural (CPC) da USP Gabriel Fernandes para definir alguns conceitos fundamentais na discussão.
Ele lembra que enquanto a memória é uma construção do presente, e se estabelece no espaço público por meio de vetores como os monumentos, a história é uma disciplina que se pretende científica, baseada em questões metodológicas e teóricas.
“Quando a gente olha para esse fenômeno de iconoclastia, de destruição de estátuas, sempre tem essa reação de que se está destruindo a memória e a história. Mas de que memória a gente está falando? A quem interessa essa memória? Como essa memória se inseriu no espaço público? Por que que a gente naturaliza determinadas memórias no espaço público e por que a gente associa tão diretamente essa matéria que está presente nos monumentos a essa memória? A discussão talvez precise caminhar um pouco por aí no sentido de tomar de uma maneira não ingênua esses conceitos que são sempre muito movediços”, diz ele.
Gabriel explica que o conceito de monumento surgiu na antiguidade e é associado a esculturas inseridas em espaços públicos. Segundo ele, os exemplos mais comuns são os arcos do triunfo, que simbolizavam vitórias militares.
“Normalmente, eles são construídos e posicionados no espaço público com uma certa intenção memorial, com uma certa intenção de construção de narrativa. E aí a gente tem que lembrar que esse processo de construção de narrativas sempre está em disputa. Ele está inserido em um processo de disputas sobre quais memórias, quais identidades vão ser sedimentadas e vão ser consolidadas como as mais importantes, as menos importantes, quais vão ser dignas de serem lembradas e quais não vão”, afirma o especialista.
O primeiro programa da série, que conta com a parceria do Centro de Preservação Cultural da USP, vai ao ar nesta quarta (26), a partir das 18h05, com reapresentação no domingo (30), a partir das 11h30. Ele também pode ser ouvido pelas plataformas de streaming iTunes e Spotify.
O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o programa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram.