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Concepção de tempo em diferentes sociedades é tema de conferência da Intercontinental Academia

por Thais Cardoso - publicado 22/04/2015 17:35 - última modificação 10/08/2015 15:53

Segundo Karl-Heinz Kohl, a forma como as diferentes sociedades interpretam o tempo depende fortemente de seu modo de produção e do ambiente em que vivem.

O que as pessoas entendem por tempo está presente em todas as línguas e a forma como elas experimentam o tempo está ligada a esse conceito. Com base nesse raciocínio, o professor e diretor do Instituto Frobenius, Karl-Heinz Kohl, realizou sua conferência na Intercontinental Academia (ICA), na manhã desta quarta-feira, 22.

Karl Heinz Kohl
O antropólogo Karl-Heinz Kohl, do Instituto Frobenius

Segundo ele, a forma como as diferentes sociedades interpretam o tempo depende fortemente de seu modo de produção e do ambiente em que vivem. “Povos com base em culturas de irrigação e caça tinham uma concepção de tempo diferente de sociedades industriais, como a demonstrada no filme ‘Tempos Modernos’, o qual tem quase cem anos. Os escravos do tempo na sociedade industrial estão conectados à modernidade”, disse.

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Para o professor, é possível encontrar similaridades entre concepções de tempo de povos que vivem distantes e que nunca tiveram contato antes, assim como povos que vivem próximos podem ter diferentes noções do tempo.

De acordo com Kohl, o conceito de tempo para a antropologia está ligado à Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin. Os antropólogos criaram uma espécie de linha de progresso e colocaram cada sociedade em uma determinada posição. Povos como os aborígines australianos, os habitantes da Terra do Fogo, da Polinésia e os índios norte-americanos seriam classificados no último estágio dessa linha, enquanto os franceses e os anglo-saxões estariam no topo. Nesse conceito, quanto mais o tempo avança, mais as espécies progridem e alcançam seu objetivo de perfeição e felicidade – algo bastante ligado à economia capitalista, segundo ele.

Kohl citou as diferentes concepções de tempo de vários povos, como egípcios, gregos, babilônios e diversas tribos africanas. Ele também relacionou o tempo em algumas religiões, como o cristianismo, o hinduísmo e o budismo.

O professor explicou que as pessoas nascidas durante a transição para o modo de produção totalmente industrializado tornavam-se obsessivas com o conceito de tempo e de progresso – nascia, portanto, o “império do relógio”, como pontuou Kohl. Um dos ritos de passagem para a vida adulta nesse período era presentear os jovens com um relógio de bolso, objeto que se tornou sinônimo de industrialização e prosperidade.

Outro exemplo de como o tempo interferiu na vida de uma sociedade, segundo Kohl, foi trazido pela expansão da linha férrea nos Estados Unidos, nas duas últimas décadas do século XIX. Nessa época, cada cidade americana tinha seu próprio horário, de acordo com a passagem do sol. Mas, em virtude da chegada dos trens, foi necessário adotar o esquema de fusos horários e assim padronizar a medida do tempo em todas as cidades.

Foto: Sandra Sedini/IEA-USP