Conseqüências das mudanças globais para a América do Sul
Foi lançada em agosto a versão digital do livro "A Contribution to Understanding the Regional Impacts of Global Change in South America", que reúne os trabalhos apresentados na II Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul, evento realizado pelo IEA em novembro de 2005 com a participação de cerca de 600 especialistas. O volume é organizado pelos professores Pedro Leite da Silva Dias (IEA, IAG/USP e Procam/USP), Wagner Costa Ribeiro (Procam/USP e FFLCH/USP) e Lucí Hidalgo Nunes (IG/Unicamp), tem 418 páginas e está disponível gratuitamente aqui.
O livro faz parte do trabalho de refexão sobre as mudanças globais empreendido pelo IEA, em parceria com diversas instituições, desde o final dos anos 80. A obra terá continuidade com a III Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul, de 4 a 8 de novembro.
CONTEXTO
As mudanças globais ganharam importância no final do século 20 e passaram a ser alvo da política externa de países e pauta de reuniões diplomáticas com o objetivo de controlar o aquecimento do planeta. Apesar das dificuldades políticas, o Protocolo de Kyoto foi implementado antes da data prevista.
A ordem ambiental internacional, com todas as fragilidades que se possam apontar, começa a dar sinais de aplicação prática. "Talvez isso ocorra porque os impactos associados ao aquecimento global já podem ser observados; e eles passarão a ocorrer com maior freqüência no futuro, mas de forma diferenciada pelo planeta", destacam os organizadores do livro.
Países do Hemisfério Sul poderão sofrer mudanças significativas na oferta de chuva, por exemplo, que pode afetar as cadeias produtivas de alimentos: "Isso certamente gerará novos fluxos de migrantes do campo à cidade, agravando ainda mais o desigual quadro social das metrópoles da América do Sul".
Além disso, "parte expressiva da população que mora junto à costa terá que conviver com a elevação do nível do mar e as parcelas que vivem junto à Cordilheira dos Andes poderão encontrar dificuldades para conseguir água, cuja principal fonte é o degelo lento de geleiras".
Um aspecto agravante desse quadro é fato de ainda não existir uma ampla percepção das mudanças globais e suas conseqüências pela grande maioria da população. Para muita gente, elas parecem algo distante, que ocorrerá daqui a 100 anos ou mais.
O livro lançado pelo IEA visa subsidiar o debate sobre essas questões por parte de cientistas, empresários e profissionais de áreas relacionadas, bem como por outros setores determinantes para a discussão pública dessas questões e adoção de políticas públicas pertinentes, como legisladores, jornalistas e representantes de organizações governamentais e não-governamentais.
CONTEÚDO
O livro é dividido em duas partes: "Modelagem e Mudança Climática Regional em Ecossistemas Terrestres e Aquáticos" e "Impactos Sociais das Mudanças Climáticas Regionais".
Na primeira parte o leitor encontrará textos que abordam algumas conseqüências das mudanças globais que já podem ser aferidas na Amazônia, na Patagônia e no cerrado. Além disso, conhecerá modelos utilizados pelos pesquisadores para medir alterações e projetar cenários futuros decorrentes das mudanças regionais resultantes do aquecimento global. Nessa parte também estão incluídos os artigos sobre possíveis impactos na agricultura.
Na segunda parte estão os trabalhos que analisam: os impactos na saúde humana, no abastecimento hídrico em cidades e para a geração de energia; as relações internacionais na perspectiva de um regime internacional sobre mudanças climáticas; a percepção da sociedade sobre as mudanças globais; a vulnerabilidade e o risco em áreas urbanas; e as dimensões econômicas, inclusive oportunidades geradas pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto.
Ao final, encontram-se as conclusões e recomendações do evento que originou o livro, entre as quais destacam-se a incerteza em relação às conseqüências das mudanças globais, a necessidade da realização de mais pesquisas e, principalmente, estimulo ao debate junto à sociedade para que as alterações possam ser comprendidas e assimiladas sem maiores transtornos sociais.