2º encontro dos Diálogos de Competitividade discute infraestrutura e capital
Por Ivan Bicudo, da ABDI
Como superar os atuais gargalos de infraestrutura e simultaneamente construir as infraestruturas para o século 21 foi uma das questões indutoras do debate |
Dando continuidade à série Diálogos de Competitividade, especialistas se reuniram no dia 28 de abril, na Sala de Eventos do IEA-USP, para discutir os desafios para a competitividade industrial do Brasil relacionados com aspectos da infraestrutura e do capital.
O debate foi o segundo em um calendário de quatro encontros promovidos pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Movimento Brasil Corporativo (MBC), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Grupo de Pesquisa Observatório da Inovação e Competitividade/NAP (OIC) do IEA-USP. O objetivo dos debates é abrir um canal de diálogo sobre a competitividade brasileira, vista em comparação com a de outros países, e refletir sobre quais são os elementos para uma agenda estratégica de desenvolvimento para o país.
Para o segundo tema debatido, Infraestrutura e Capital, o ponto de partida foi a apresentação e a análise dos indicadores em questões como “infraestruturas do século 21” (usuários de Internet, acesso à banda larga), sofisticação e capilaridade do sistema financeiro, investimentos externos e reservas internacionais. Os dados foram extraídos da ferramenta web, um decodificador de competitividade chamado DecoderTM — em versão alpha —, que aborda 8 dimensões, reunindo 164 indicadores, de 65 países diferentes, referentes a uma série de 12 anos.
Participaram da mesa redonda Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Paulo Cesena, diretor-presidente da Odebrecht TransPort; Francisco Graziano, diretor de Relações Institucionais da Camargo Correa; Jaime Henrique Parreira, diretor de Engenharia da Infraero; Luiz Roberto Calado, diretor da BRAiN Brasil Investimentos & Negócios; e Carlos Campos, coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea. O formato do encontro foi o de uma conversa moderada por Roberto Alvarez, gerente de Análises e Projetos Estratégicos da ABDI, e Mário Salerno, coordenador do OIC e professor da Escola Politécnica (Poli) da USP.
A apresentação introdutória de Roberto Alvarez destacou a influência de padrões de infraestrutura do século 21 no agrupamento dos países dentro do banco de dados do decodificador. Além disso, o gerente da ABDI demonstrou a distribuição dos países na ferramenta em torno de indicadores de capital, como o volume de capital disponível e investido, e a participação de empresas de capital aberto na economia. “Como superar os gargalos de infraestrutura e, ao mesmo tempo, construir infraestruturas do século 21? Como financiar esse processo?”, indagou Alvarez. Essas foram as principais questões provocadoras do debate.
Tecnologia e infraestrutura
Para responder a questão sobre a construção harmoniosa de infraestrutura básica e de alta tecnologia, Luciano Coutinho apontou que é difícil usar métricas para prever as transições e avanços tecnológicos que provocam mudanças de paradigmas. “Elas podem produzir mudanças bruscas e radicais na configuração de competitividade dos vários sistemas de infraestrutura”, lembrou Coutinho. “Estamos no início de um ciclo de aplicações radical de tecnologias de informação na infraestrutura”.
Como exemplo, ele citou os sistemas de transporte urbano que podem incorporar automações para que o fluxo de veículos tenha processamento online, gerando racionalização do serviço com informação ao usuário. Citou também a aplicação de smart grids e big data em redes de distribuição de água e esgoto e em sistemas de distribuição e logística do varejo. “A infraestrutura de tecnologia de informação será essencial nesse processo, pois, inevitavelmente, ela irá se entrelaçar com estruturas básicas.”
Investimentos e garantias
Quanto a financiamento e capitais, Luiz Roberto Calado mostrou-se bastante otimista com os indicadores, citando avanços em mercado de capitais, PPPs e atrações de investimentos. Segundo ele, no entanto, o Brasil precisa aprimorar alguns pontos: a melhoria da imagem do Brasil no exterior, para atração de investimentos, e a criação e o fortalecimento de uma rede de mercados de capitais na América Latina, a exemplo das redes que existem em outros continentes.
Luciano Coutinho destacou a importância de um sistema robusto de garantias e seguros para projetos, especialmente aqueles em PPPs e concessões. "O Brasil possui um conjunto de empresas habilitadas e capacitadas para fazer frente ao desafio", disse o economista. Ressaltou, porém, que as empresas precisam de reforço na estrutura de capital, pois a escala de desafios é muito grande. Ele sugeriu que o mercado de capitais pode resolver os problemas de captação de recursos e capitalização de empresas, com o apoio do BNDES para absorver parte do risco.
Transportes
“A perspectiva é que o tráfego de passageiros e carga pelo sistema aéreo de transportes dobre nos próximos 18 anos”, informou Jaime Parreira. Em um momento de grande demanda por investimentos, é necessário melhorar a eficiência do sistema de contratações, incluindo licenciamento ambiental e gerenciamento de projetos. “Agora começa uma segunda leva de grandes investimentos no Brasil: temos uma carteira de 20 a 25 aeroportos que serão desenvolvidos e o desafio é compactar os prazos."
Carlos Campos apontou que o investimento em transportes avançou de aproximadamente 0,25% do PIB em 2003 para 0,6% em 2013, mas o volume ainda é pouco em relação ao dos países emergentes que competem com o Brasil. “Os investimentos cresceram, mas ainda são insuficientes”, destacou. “Os investimentos privados em rodovias e ferrovias representam em torno de 45%. Fala-se em atrair o setor privado para investir em transportes, mas eles já estão nesse setor há muito tempo.” Segundo ele, o problema é a ineficiência na alocação dos recursos: “Falta planejamento e gestão. É preciso fazer mudanças".
Marco regulatório e projetos
Francisco Graziano elogiou a criação pelo governo da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), mas acha que é necessário avançar ainda mais na área de projetos. “Já teríamos uma evolução no plano técnico se melhorasse o processo de contratação de projetos de engenharia de longo prazo”, disse. De acordo com ele, uma lei específica para grandes obras de infraestrutura daria agilidade ao processo de tomada de decisão em contratações. Foi sugerida a criação de uma espécie de “mecanismo de resolução de controvérsias”, a exemplo do que ocorre na Organização Mundial de Comércio, para dar mais celeridade às discussões.
Paulo Cesena mencionou a dificuldade em se conseguir licenças ambientais e a questão de desapropriações, que são fundamentais em obras de grande porte, especialmente em centros urbanos. “Alguns projetos precisam de alinhamentos entre as esferas federal, estadual e municipal. Há uma demanda de uma série de planejamentos que geram atrasos e são especialmente desafiadores nos projetos de mobilidade urbana”.
Próximos encontros
Os Diálogos de Competitividade continuam no dia 6 de maio, quando será discutido o tema Talento e Inovação, e encerram-se no dia 8 de maio, com o tema Qualidade de Vida e Crescimento Futuro. Os encontros serão às 10 horas, na Sala de Eventos do IEA-USP, com o mesmo formato das sessões anteriores e com transmissão ao vivo pela web. .
Foto: Sandra Codo/IEA-USP