darVOZ, uma iniciativa para estimular a diversidade cultural e política na internet
Gilson Schwartz, professor em período sabático no IEA em 2017, é um dos criadores do coletivo criativo darVOZ |
No início de 2017, ativistas de vários países preocupados com a concentração de riqueza e poder na internet organizaram-se num coletivo criativo destinado a estimular a produção colaborativa de conteúdos e sua disseminação via redes.
Chamado darVOZ (um trocadilho com Davos, nome da cidade sede do Fórum Econômico Mundial, que reúne anualmente a elite econômica internacional), o coletivo tem entre seus integrantes o economista e jornalista Gilson Schwartz, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e participante da edição 2017 do Programa Ano Sabático do IEA, além de David Bovill e outros ativistas britânicos, franceses e colombianos.
A participação na criação do darVOZ foi o cerne do projeto de Schwartz em seu período sabático no IEA no primeiro semestre do ano passado. Um dos resultados desse trabalho é o suporte do coletivo à quinta edição do Improfest - Festival International de Improvisação e Arte Sonora, aberto com a chamada darVOZ/Improfest, de 8 de fevereiro a 8 de março. O festival tem também o apoio da Cidade do Conhecimento - grupo de pesquisa criado por Schwartz no IEA em 2001 e agora sediado na ECA-USP -, da organização londrina de ativistas políticos e tecnológicos Newspeak House e da Radio USP .
O Improfest 2018 participa das comemorações do Dia Internacional do Rádio, definido pela Unesco como o dia 13 fevereiro. Na semana que antecede a data, a Radio USP (em São Paulo, 93,7, e em Ribeirão Preto, 107,9) transmitirá as contribuições sonoras (sons, mensagens, canções, poemas etc.) com 15 a 30 segundos enviadas ao site do festival. Cada participante pode enviar até três arquivos, com no máximo 4 MB e em qualquer formato de áudio. Também na Rádio USP, no dia 23 de fevereiro, o programa ao vivo "Diálogos USP" discutirá o tema "Diversidade de Vozes na Era da Internet", com a participação de Schwartz.
Outro projeto a que o pesquisador se dedica no momento é a efetivação do processo de design, desenvolvimento tecnológico e emissão de moedas criativas por meio do darVOZ. "A proposta é fazer uma invenção monetária criativa global e local que utilize o áudio como suporte de fundação de toda a plataforma de produção cultural, associando a criação e circulação de clipes de áudio à invenção e acumulação de 'tokens' registrados sobre uma infraestrutura do tipo 'holochain', que é uma forma sucedânea do 'blockchain' voltada à governança da digitalização monetária, financeira e creditícia na chamada 'internet das coisas'."
Segundo ele, projetos como o darVOZ e o Improfest buscam "recuperar o potencial tecnológico e criativo" da internet, ampliando sua diversidade cultural e política, "restringida atualmente pelo poder de de 5 ou 6 empresas que controlam quase tudo, desde a armazenagem e disseminação de conteúdos até o tráfego de informação por satélites e cabos submarinos".
Essa situação deve se agravar com o fim da neutralidade da internet - aprovado em dezembro pela Comissão Federal de Telecomunicações dos Estados Unidos -, permitindo que as empresas provedoras de acesso estabeleçam preços diferenciados de acordo com o site, conteúdo ou serviço de interesse do internauta.
O domínio econômico da internet por grandes conglomerados corporativos afetará não apenas as pessoas comuns no seu uso das redes, mas também o pequeno empreendedor tecnológico, que terá dificuldades em iniciar uma startup e consolidá-la como negócio, afirma Schwartz.