Paulo Herkenhoff e Helena Nader serão os novos titulares da Cátedra Olavo Setubal
O curador de arte Paulo Herkenhoff e a bioquímica Helena Nader |
Em 2019, a Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência terá dois titulares, contemplando ao mesmo tempo as artes visuais e a ciência, além das intersecções entre elas.
Ocuparão as posições o crítico, curador e gestor cultural Paulo Herkenhoff, com destacada atuação no Brasil e no exterior, e a bioquímica Helena Nader, professora da Unifesp e ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
A posse dos dois será no dia 28 de março, em cerimônia na Sala do Conselho Universitário, substituindo a atual titular, a ativista social, educacional e cultural Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré. Eliana, no entanto, continuará vinculada à cátedra, onde coordenada o projeto Democracia, Artes e Saberes Plurais.
O coordenador da cátedra, Martin Grossmann, ex-diretor do IEA, ressalta que a iniciativa, fruto de convênio entre o IEA e o Itaú Cultural, tem uma configuração aberta, tanto temática quanto organizacional, daí a possibilidade de explorar simultaneamente duas áreas do conhecimento.
Para ele, a escolha de Paulo Herkenhoff e Helena Nader deve-se ao papel de "curadores" que ambos desempenham em suas áreas de atuação. "Paulo tem uma participação relevante do ponto de vista institucional no campo das artes e Helena atua quase como uma diplomata do mundo da ciência e das políticas de ciência, tecnologia e inovação."
Participações
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Não será a primeira vez que a ciência estará ao lado da arte na cátedra. Uma das atividades organizadas pelo primeiro titular, Sérgio Paulo Rouanet, em 2016, foi o seminário A Ciência e Suas Fronteiras.
Em encontro preliminar no dia 8 de março entre a direção do IEA, coordenação da cátedra e os dois novos titulares, o diretor do Instituto, Paulo Saldiva, disse que a escolha Herkenhoff e Helena permitirá uma reflexão sobre a falsa dualidade entre o processo criativo e o científico. Em referência ao livro "Ciência e valores humanos", de Jacob Bronowski, afirmou haver "coisas extremamente intuitivas quando se faz ciência e muito exatas quando se pinta um quadro".
Ainda em relação ao diálogo entre arte e ciência, Herkenhoff citou como exemplo o conceito de "buraco negro" aplicado a guetos pelo artista Cildo Meirelles: "A energia presa no gueto acaba crescendo e se autoalimentando; exemplo disso é o renascimento da cultura negra no Harlem, em Nova York, nos anos 20".
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Outro aspecto ressaltado por Saldiva é a importância da atuação dos novos titulares para que a cátedra seja um espaço de divulgação e esclarecimento para a arte e a ciência "num momento em que as duas áreas estão sob ataque". Essa é uma função crucial no contexto atual do país, segundo Helena: "Temos de aproveitar esse espaço para fortalecer a arte, a cultura e a ciência." Nesse sentido, ela e Herkenhoff esperam que sua estada no IEA contribua com o desenvolvimento da educação científica e artística.
No que se refere especificamente ao papel da arte nesse contexto, Herkenhoff a vê como possibilidade de cura, de algo que torna a vida possível: "Como disse a escultora Louise Burgeois, 'a arte é uma garantia de sanidade'".
Perfil de Paulo Herkenhoff
Herkenhoff costuma dizer que ingressou na área de curadoria "pelas bordas". Nos anos 70, trabalhava num escritório de advocacia e acabou participando da reorganização do Museu do Açude e do Museu Chácara do Céu, criados pela Fundação Raymundo Ottoni de Castro Maya em 1964 e 1972, respectivamente.
Na década seguinte, foi trabalhar na Funarte e viajou para diversas cidades do país. Ele destaca dois trabalhos que realizou na instituição: uma mostra em Curitiba, PR, com a participação de 250 artistas das Américas, e um projeto em Belém, PA, sobre a visualidade e a diversidade da Amazônia.
Um de seus trabalhos mais famosos foi a curadoria-geral da 24ª Bienal de São Paulo, a chamada "Bienal da Antropofagia", ocorrida em 1998. Para que a mostra tivesse um caráter historiográfico e crítico sobre a cidade de São Paulo, Herkenhoff considerou o Movimento Antropofágico como uma representação da cidade e uma resposta a ela. O objetivo foi lidar com o conceito de antropofagia como "processo de formação cultural com vistas à autonomia". Também merece destaque sua curadoria do pavilhão brasileiro na 47ª Bienal de Veneza, em 1997.
Outras posições na carreira Herkenhoff como curador e dirigente cultural foram as atividades como diretor do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, curador-chefe do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), curador da Fundação Eva Klabin Rappaport, curador adjunto no Departamento de Pintura e Escultura do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e diretor cultural do Museu de Arte do Rio (MAR).
No MoMA, em 2002, ele teve três meses para organizar a exposição "Tempo", na qual artistas de diversos países trataram das percepções fenomenológicas e ficcionais de aspectos temporais. A mostra foi apontada pelo jornal "The New York Times" como referência para os rumos a serem tomados pelo museu.
A produção bibliográfica de Herkenhoff inclui obras sobre vários artistas brasileiros, coleções, produção artística em períodos históricos e arte contemporânea no Brasil e na América Latina.
Perfil de Helena Nader
Professora titular de biologia molecular na Unifesp, Helena Nader tem aliado suas atividades como docente e pesquisadora com a atuação como administradora acadêmica, dirigente de entidades científicas e assessora de agências de apoio à pesquisa.
Helena graduou-se em ciências biomédicas na Unifesp e fez licenciatura em biologia na USP. Realizou pesquisa de pós-doutorado na Universidade do Sul da Califórnia, EUA. É bolsista de produtividade do CNPq (nível 1A), membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e participa da Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (TWAS, na sigla em inglês).
Ela é assessora de diversos periódicos nacionais e internacionais e foi pesquisadora visitante nos Estados Unidos (Escola de Medicina Loyola, em Chicago, e Centro de Ciência Celular William Alton Jones, em Lake Placid) e na Itália (Instituto de Pesquisa Química e Bioquímica Giacomo Ronzoni, em Milão, e Laboratórios de Pesquisa da Opocrin, em Modena).
Os focos principais de suas pesquisas são glicobiologia e biologia celular e molecular de proteoglicanos, em especial de heparina e heparam sulfato. Seus trabalhos estão relacionados com o envolvimento desses compostos na hemostasia, no controle da divisão celular e na transformação celular.
Helena foi presidente por três mandatos (2011 a 2017) da SBPC, presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), pró-reitora de Graduação e pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da Unifesp, coordenadora do Comitê de Assessoramento em Biofísica, Farmacologia, Fisiologia e Neurociências (CABF) do CNPq, coordenadora adjunta da Área de Avaliação Biológicas II da Capes e membro da Coordenação de Biologia da Fapesp.
Entre as honrarias que recebeu estão a Ordem Nacional do Mérito Científico (na classe Comendador, em 2002, e na classe Grã-Cruz, em 2008), a Medalha Mérito Tamandaré da Marinha do Brasil, em 2013, e o Prêmio Scopus 2007, concedido pela Elsevier e Capes.
Com a colaboração de Fernanda Rezende/IEA-USP
Fotos: Leonor Calasans/IEA-USP