Seminário discute efeitos sociais dos danos ambientais da Amazônia
As ameaças à biodiversidade da Floresta Amazônica representam riscos globais e abrangentes a médio e longo prazo. Mas o desmatamento e as queimadas já causam danos imediatos às comunidades ribeirinhas que vivem na região que engloba os estados da Amazônia, Rondônia e Roraima. Além dessas ameaças, essa população ainda enfrenta a carência de serviços básicos de saúde e educação.
A situação dos moradores dessas comunidades será abordada no seminário Amazônia: Povos e Projetos, que ocorrerá no dia 2 de setembro, às 9h, no IEA. O evento é público e gratuito, mas requer inscrição prévia. Para assistir a transmissão ao vivo no site do IEA não é preciso se inscrever.
A discussão partirá do olhar e da análise de quatro especialistas que viajaram em maio pela região do Baixo Rio Branco, um curso de água no estado de Roraima em que os pesquisadores conheceram 16 comunidades. A expedição fez parte do projeto “Estratégias de ordenamento territorial em comunidades de interesse socioambiental na Amazônia”, uma parceria entre a Universidade Federal de Roraima (UFRR), a Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e a Universidade Federal do Ceará (UFC).
Mulheres do Xingu |
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Após o seminário, será exibido o documentário “Mulheres do Xingu”, cobertura jornalística de um encontro realizado no Parque Indígena do Xingu em março de 2019 que reuniu mulheres de 16 etnias. Vendo o desmatamento avançar em suas terras, elas se encontram para organizar uma defesa da floresta e discutir sobre as ameaças ao território preservado e o papel das mulheres nessas comunidades. Após a exibição, as diretoras Maria Fernanda Ribeiro e Nádia Pontes conversarão com os participantes e com o público sobre o projeto. |
Danos visíveis
Wagner Costa Ribeiro, professor do Departamento de Geografia da FFLCH-USP e membro do Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade do IEA, acompanhou a expedição e é o coordenador do seminário. Segundo ele, os moradores das comunidades já percebem algumas mudanças na dinâmica natural da região causadas pelas interferências do homem na floresta. Entre elas, estão a alternância do ritmo de chuvas e do curso do rio.
A percepção dos ribeirinhos tem sustentação científica: se uma área próxima do rio é desmatada, a erosão aumenta e a dinâmica hidrográfica é afetada. “Com mais assoreamento, a cheia do rio fica maior”, explica Wagner. Isso afeta seriamente a vida dos moradores. “Algumas comunidades têm áreas mais altas para se deslocar durante a cheia, mas outras não. Então uma das consequências do desmatamento pode ser a água avançando e chegando na porta da casa das pessoas”, diz. Mas há outras. Se a cheia aumenta, explica, as águas do rio perdem velocidade e força. “Isso pode afetar, por exemplo, a pesca”.
As comunidades vivem de ciclos econômicos de aproximadamente três meses. Além da pesca, estão entre as atividades a coleta de açaí e cupuaçu e a produção de mandioca (que inclui períodos de colheita e de produção de farinha). “É um trabalho permanente, de produção e coleta do que a natureza oferece”, explica Wagner. “É importante ressaltar que eles não devastam a floresta para isso. O cultivo de mandioca é feito em pequenas roças, e a coleta respeita os ciclos da natureza sem afetar sua biodiversidade”.
As queixas da população local são principalmente em relação às condições de infraestrutura de saúde e educação. Só há um hospital na região, o da vila de Santa Maria de Boiaçu. O deslocamento de lancha entre uma comunidade e o hospital leva, aproximadamente, de 4 a 6 horas. Mas nem todas comunidades têm veículos com motor à disposição.
O mesmo problema se aplica à educação: algumas comunidades só têm o ensino até o 5º ano. A partir daí, é necessário se deslocar até outro ponto. “Algumas crianças levam de 2 a 3 horas remando para ir para a escola”, conta Wagner. Quando se trata do ensino médio, só há escolas em Santa Maria de Boiaçu. “Nesse caso, o adolescente precisa deixar a sua casa e família para morar em outro lugar. Isso acarreta uma série de custos para os pais”, explica. “Muitas vezes, o primeiro e talvez o segundo filho vão estudar, mas se há outros na família, os pais não conseguem pagar para todos”.
Especialistas
Cada um dos quatro expositores abordará um aspecto específico sobre a situação dessas comunidades. Especialista em questões de gênero, Maria das Graças Silva Nascimento Silva (UNIR) dedicou-se na viagem à situação das mulheres, entendendo, por exemplo, quais são as questões de saúde enfrentadas por moradores jovens e idosas nestas regiões.
Antonio Tolrino de Rezende Veras (UFRR), especialista em organização territorial, pretende propor um plano de ação para salvaguardar o estilo de vida dessas comunidades — garantindo, por exemplo, a continuidade do modelo econômico por ciclos.
O impacto causado pelas hidrelétricas em comunidades tradicionais e indígenas na região amazônica será abordada por Maria Madalena de Aguiar Cavalcante (UNIR). Em Rondônia, por exemplo, duas usinas foram inauguradas na última década: a de Jirau e a de Santo Antônio. Nesses casos, o principal impacto é a perda da terra — em alguns casos com indenização, e em outros com uma realocação que não permite o mesmo estilo de vida que a população tinha antes.
Finalmente, Josué da Costa Silva (UNIR) se dedica a estudar o modo de vida dessas comunidades, baseado em uma premissa de viver em consonância com o ritmo da natureza, e ao mesmo tempo buscar ser feliz e contemplar necessidades de lazer e bem-estar.
Amazônia: Povos e Projetos
2 de setembro, 9h
Auditório do IEA, Rua Praça do Relógio, 109, Cidade Universitária, São Paulo
Evento gratuito e aberto ao público (mediante inscrição prévia) - Para assistir à transmissão ao vivo pela internet não é preciso se inscrever
Mais informações: com Sandra Sedini (sedini@usp.br), telefone (11) 3091-1678
Página do evento