Especialistas listam cuidados para o eleitor não ser enganado pela inteligência artificial
Mesmo com as regras aprovadas em março pelo Tribunal Superior Eleitoral para o uso de inteligência artificial nestas eleições municipais, o eleitor precisa se manter vigilante para não ser enganado com conteúdos criados por meio dessa tecnologia. Os professores da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP, Cristina Godoy Bernardo de Oliveira, e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, Evandro Eduardo Seron Ruiz, dão uma série de dicas sobre isso no USP Analisa que vai ao ar nesta sexta (31).
Cristina lembra que até existem algoritmos que permitem a detecção dos chamados deep fakes, uma técnica que permite criar vídeos com inteligência artificial e simular com perfeição situações ou falas que nunca existiram. Ela cita como exemplo um vídeo que circulou durante as eleições de 2022 com o então candidato a presidente Jair Bolsonaro dançando e cantando “Ilariê”, da cantora e apresentadora Xuxa Meneghel.
“Conhecendo o Bolsonaro, qual era a probabilidade de ele estar fazendo um vídeo vestido de Xuxa e cantando Ilariê? Nesse sentido, já gera uma estranheza. Ou eu vou compartilhar no sentido de sátira, ou eu vou querer realmente gerar confusão, depende do tom, mas é preciso a gente avaliar o contexto. Também é preciso atentar ao local em que está sendo veiculado. Por exemplo, vídeos dos quais você nem sabe a origem e que estão circulando no WhatsApp. E sempre pensar na sua responsabilidade como cidadão antes de compartilhar”.
Segundo Cristina, existem algumas dicas para reconhecer uma manipulação, como a sincronia da fala com o movimento da boca ou mesmo a aparência dos dentes enquanto a pessoa está falando no vídeo, porém a tecnologia está se aperfeiçoando com rapidez.
“A gente não pode esquecer que os deep fakes serão cada vez mais verossímeis e vai ser muito difícil a gente identificá-los. Mas é muito importante analisar o contexto e o conteúdo transmitido pelos vídeos, que é uma das principais ferramentas para que nós não sejamos enganados com essas montagens de deep fakes”, diz ela.
Evandro destaca que, apesar do lado negativo, a tecnologia pode trazer uma importante economia de recursos, permitindo, por exemplo, utilizar o dinheiro do Fundo Eleitoral - que soma 4,9 bilhões de reais - para outros fins que beneficiem diretamente a população.
“Para a gente ter uma ideia, uma unidade básica de saúde, a mais top delas, nível quatro, custa hoje 800 mil reais. Se a gente considerar que o Brasil tem 5.500 municípios, dá para colocar uma UBS dessa em cada município do país, sendo que muitos não tem nenhuma. É muito dinheiro. Então, eu acho que a gente devia prestar atenção que esse mundo digital novo pode encurtar o distanciamento entre o povo e esse sistema eleitoral. E a gente podia pensar em cortar um pouco - ou muito - desse dinheiro, porque com as redes sociais a gente elimina esse espaço que teoricamente antes era muito grande porque só tinha rádio e TV”, sugere ele.
Além de Cristina e Evandro, o podcast USP Analisa conversou com outra integrante do Grupo de Estudos TechLaw, a professora da FDRP Cíntia Rosa Pereira de Lima. O conteúdo pode ser acessado na íntegra nas plataformas de podcast Spotify, Apple Podcasts, YouTube Music, Deezer e Amazon Music.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.