Exposição celebra a obra e a vida de Alfredo Bosi
por Ananda Silva de Almeida e Leandra Rajczuk Martins
Entre os dias 21 de março e 26 de agosto, o Centro MariAntonia da USP recebe a exposição Alfredo Bosi: entre a crítica e a utopia, realizada em parceria com o Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). Com curadoria de Viviana Bosi, professora de literatura e filha de Alfredo e Ecléa Bosi, a mostra parte do acervo do historiador da cultura, professor e crítico literário para iluminar aspectos de uma trajetória marcada por fortes compromissos éticos na vida pessoal, acadêmica e na militância.
“É com alegria que compartilhamos com todos os interessados aspectos dessa vida dedicada a revelar a beleza e a potência da literatura para a compreensão dos processos históricos, sempre ao lado de uma persistente e generosa busca por tudo o que pudesse contribuir para a justiça social e o bem comum, notadamente em relação à educação pública, aos direitos humanos, ao respeito à natureza e aos mais desprotegidos socialmente”, ressalta Viviana.
A escolha do edifício Rui Barbosa do Centro MariAntonia como local da exposição não é fortuita. Foi nesse endereço que, entre os anos 1955 e 1959, Alfredo Bosi frequentou o curso de letras neolatinas da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, onde teve seu primeiro contato com autores fundamentais para a formação de seu método crítico. Foi no prédio histórico também que, de volta ao Brasil após cumprir uma bolsa de estudos em Florença, na Itália, o crítico começou a dar aulas de literatura italiana durante os anos 1960, período em que o golpe militar de 1964 e os eventos de 1968 levaram-no a aprofundar-se na literatura nacional em busca de momentos de insubordinação aos discursos de dominação. A História concisa da literatura brasileira (1970), escrita a pedido do poeta, tradutor e, à época, editor José Paulo Paes, é resultado dessa investigação.
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Essas são algumas das passagens do percurso de Alfredo Bosi que o visitante poderá conhecer na exposição, que traz documentos pessoais, fotos do álbum de família, cartas trocadas com personalidades, como o também crítico e professor Antonio Candido e o poeta Carlos Drummond de Andrade, manuscritos e datiloscritos com estudos e o planejamento de aulas, além de objetos de seu uso pessoal e profissional, como uma máquina de escrever.
A exposição oferece ainda encadernados e reproduções fac-símiles para manuseio. Entre eles está a adaptação ilustrada feita por Paulo e Cecília de Salles Oliveira ao ensaio “Os trabalhos da mão”, publicado em O ser e o tempo da poesia (1977).
Dividida em cinco eixos, começando pela infância e juventude do crítico, a mostra aborda a formação e atuação de Alfredo Bosi como docente de literatura no secundário e na USP, na qual lecionou por mais de 40 anos, além de sua militância junto a entidades como o Centro de Defesa de Direitos Humanos D. Paulo Evaristo, em Cotia, a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, e a Pastoral Operária de Vila Yolanda, em Osasco, SP, nos anos 70. Reunindo-se com os operários nos fins de semana a convite do padre Domingos Barbé, “Alfredinho”, como era conhecido pelos frequentadores por seu jeito afetuoso, lia com eles obras como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, suscitando reflexões e o estímulo à construção de coletivos organizados de trabalhadores.
Em sua atuação no Instituto de Estudos Avançados, onde foi diretor (1998-2001), vice-diretor (1987-1997 e 2002-2006) e editor da revista por mais de três décadas (1989-2019), a mostra destaca o desejo do professor de contribuir com pesquisas para a criação de políticas públicas transformadoras, aumentando os pontos de contato entre a universidade e a sociedade.
Central na exposição, o eixo dedicado ao pensamento crítico do autor evidencia, por meio da apresentação de algumas de suas principais obras, questionamentos que o acompanharam desde muito cedo em seus estudos, como a relação complexa entre expressão subjetiva e experiência histórica na literatura. Tirada de um dos últimos poemas do italiano Giacomo Leopardi, a imagem da flor de giesta, espécie que nasce nas encostas do Vesúvio, foi escolhida por Alfredo Bosi para falar da resistência que muitas vezes se manifesta na poesia. Décadas após o ensaio de 1977 em que a imagem é apresentada pelo autor, uma giesta foi plantada na casa onde ele viveu com a esposa, a professora de psicologia e escritora Ecléa Bosi. Esta paixão de toda a vida que surge na exposição por meio de um depoimento inédito de Alfredo Bosi, concedido à Academia Brasileira de Letras em 2003.
“É uma singela homenagem a uma pessoa da dimensão do professor Alfredo Bosi”, diz Roseli de Deus Lopes, vice-diretora do IEA e coordenadora da mostra. “Ele é daqueles que iluminam caminhos, por isso a exposição é importante: para que a gente possa compartilhar com outras pessoas que não tiveram a oportunidade de conhecê-lo alguns elementos de sua vida pessoal e acadêmica, e sua postura política. É uma satisfação muito grande poder propiciar esse momento de inspiração para quem visitar a exposição”.
No dia 21, às 18h, uma mesa-redonda marcará a abertura da exposição. Participarão Alcides Villaça (FFLCH-USP), Pedro Meira Monteiro (Universidade de Princeton, EUA) e Augusto Massi (FFLCH-USP), três ex-alunos, orientandos e amigos de Bosi, hoje professores de literatura brasileira. Além deles, também estarão presentes os diretores do IEA e do MariAntionia, Guilherme Ary Plonski e José Lira, e os vices, Roseli de Deus Lopes e Ana Castro. A mediação será feita por Viviana Bosi.
Serviço:
Exposição "Alfredo Bosi: entre a crítica e a utopia"
Quando: a partir de 21 de março (abertura às 19h)
Onde: Centro MariAntonia da USP – Edifício Rui Barbosa
Rua Maria Antônia 294 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)
Quando: de 21 de março a 26 de agosto
Visitação: terça a domingo e feriados, da 10 às 18 horas
Quanto: Gratuita
Informações: (11) 3123-5202