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Formação de lideranças escolares alcança 49 municípios brasileiros

por Thais Cardoso - publicado 03/07/2024 16:25 - última modificação 03/07/2024 16:25

Segundo módulo de curso oferecido pela Cátedra Sérgio Henrique Ferreira teve início com mais de 600 inscritos

[Texto de Marília Rocha - Assessoria de comunicação da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira]

Teve início o novo módulo da formação para lideranças escolares da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira. Cerca de 600 gestores escolares já estão participando da iniciativa, oferecida em parceria com o Centro Universitário Facens, a Universidade Federal de Alagoas e o Instituto Positivo, com apoio da B3 Social. Ao final do curso, os conteúdos ficarão acessíveis no canal do Instituto de Estudos Avançados polo Ribeirão Preto da USP.

Inicialmente, a formação foi oferecida a 34 municípios com os quais a Cátedra possui um trabalho conjunto. Mas outras 15 secretarias de educação demonstraram interesse e o grupo de participantes agora envolve educadores de 49 redes. Os encontros são realizados a cada 15 dias, de forma remota, permitindo a participação simultânea de profissionais em pelo menos três Estados: São Paulo, Alagoas e Paraná.

“É uma alegria enorme começar mais essa atividade da Cátedra, com parceiros tão significativos que nos apoiam imensamente na articulação com os municípios em cada Estado. Esse curso responde a uma demanda dos próprios gestores, de fazer uma reflexão conectada com os desafios do dia a dia nas escolas”, explicou Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra. Temas como avaliação de resultados e uso de evidências, o desenvolvimento de competências digitais no ambiente escolar, os desafios da equidade racial estarão entre os assuntos abordados por especialistas convidados.

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O titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos

Antes de cada encontro on-line, todos os participantes recebem um material de apoio produzido pelos palestrantes e, ao final da formação, entregarão um trabalho propondo formas para adotar os conteúdos abordados em sua prática escolar. “Essa foi uma metodologia que procuramos para que as pessoas já cheguem aos encontros com um ponto de partida, buscando uma dinâmica de interação e reflexão coletiva. Outra novidade é que vamos identificar diretores de escolas para que compartilhem suas experiências concretas em uma plataforma de gestão escolar que a Cátedra irá desenvolver”, contou Mozart.

O papel dos gestores escolares

Os dois primeiros encontros já abordaram a necessidade de preparar os profissionais para a função de gestão escolar. “É essencialmente necessário atualizar a visão sobre o papel dos gestores escolares e estabelecer debates técnicos voltados para o cotidiano das escolas públicas”, afirmou Gilmara da Silva, consultora educacional. Para ela, a “gestão” é o resultado do trabalho coletivo de um grupo de atores, e o diretor da escola evidencia seu papel quando consegue fazer com que todas as pessoas envolvidas trabalhem para um objetivo comum.

A consultora educacional, Gilmara da Silva
“O grande conceito de liderança não é necessariamente de ser o único a conduzir, mas de evidenciar no grupo aqueles que possam ser condutores de determinadas frentes para aquilo que a gestão propõe, para que a escola opere coletivamente em busca do objetivo comum”, destacou Gilmara no primeiro encontro. “Podemos ter gestores com um perfil de liderança participativa ou pseudo-democrática, aquela que não necessariamente permite a todos expressar suas competências e trabalhar juntos. É preciso apoiar os gestores para promover uma ação coletiva”, defendeu.

Para ela, pouco adianta uma rede ter as melhores políticas públicas ou desenhar programas inovadores, se não oferecer respaldo para que a gestão escolar possa desenvolver suas atribuições sem sobrepor as ações administrativas sobre as pedagógicas, sem se sentir sufocados entre a prestação de contas e as obrigações que não são poucas. “Sermos o suporte do diretor de escola parece ser o melhor caminho para que as secretarias de educação possam chegar ao final de um ano e ter o orgulho de dizer que nenhuma criança saiu da escola sem aprender”, afirmou. “Por isso estamos satisfeitos com a matriz de competências do diretor. A matriz não nos dá todas as respostas, o cotidiano traz dúvidas todos os dias, mas a matriz nos permite ter alguns direcionamentos importantes, parece que faltava esse documento que desse permissão de discutir o papel do diretor.”

Preparando lideranças transformacionais

No segundo encontro, a matriz da Base Nacional de Competências do Diretor Escolar, que teve relatoria de Mozart Neves Ramos no Conselho Nacional de Educação, foi também abordada por dois especialistas, Filomena Siqueira, pós-doutora pela Cátedra, e Alex Moreira, doutor pelas universidades Alberto Hurtado e Diego Portales.

A pós-doutora pela Cátedra, Filomena Siqueira
“A BNC dos Diretores foi um desafio super importante e que gerou resultado inédito. Pela primeira vez, a gente olha para o perfil dos diretores pensando quais são as competências necessárias para esse profissional, o que nos leva a pensar como podemos contribuir para o desenvolvimento dessas competências entre gestores”, argumentou Filomena.

Segundo ela, é possível ver conexão entre as competências propostas pela Base e as características que os estudos e pesquisas, nacionais e internacionais, identificam como mais relacionadas aos profissionais que atuam como lideranças escolares. Entre outras atribuições, essas lideranças estabelecem e compartilham com clareza os objetivos da escola entre toda a equipe, estão comprometidas com a cultura organizacional (a maneira como as atividades são planejadas e realizadas na unidade escolar), constroem espaços nos quais as pessoas estão engajadas e preparadas para exercer bem suas funções, fazem gestão de recursos e promovem o relacionamento da escola com o contexto externo, além de realizar o gerenciamento do programa instrucional – ou seja, instigar, promover discussões e momentos para analisar dados estratégicos buscando compreender quais aspectos do currículo não estão sendo alcançados e quase intervenções pedagógicas serão escolhidas para responder ao cenário.

“Quando a gente entende que não dá para olhar o cargo simplesmente como um conjunto de tarefas a serem cumpridas, podemos compreender também que tipo de recursos e formações precisamos desenhar para permitir que essas pessoas possam exercer a liderança de maneira preparada e consistente”, afirmou a pesquisadora. “A gente sabe que é um cargo que demanda muito, é complexo garantir o funcionamento de uma escola diante de muitas questões administrativas, mas elas não devem ser majoritárias ou exclusivas na rotina da liderança. Então como podemos contribuir para que o perfil de liderança, que tem um potencial tão comprovado na trajetória dos estudantes, consiga de fato estar nas nossas escolas e tomar as decisões mais estratégicas, mesmo diante de limitações?”, refletiu Filomena.

Na sequência, o pesquisador Alex Moreira compartilhou os achados de sua tese de doutorado refletindo também sobre a importância dos gestores para o desenvolvimento profissional da equipe docente. Ele reforça que a gestão das escolas está cada vez mais complexa, e aspectos centrais para um bom gestor, como gerir pessoas, processos e recursos, têm se mostrado insuficientes na promoção de um projeto pedagógico exitoso, especialmente em contextos de baixa aprendizagem dos estudantes e de uma cultura de pouco engajamento dos profissionais da escola. “Não basta o domínio de legislações, conhecimentos técnicos e teorias para garantir que a escola seja um espaço de acolhimento, aprendizagem e desenvolvimento integral dos estudantes. Isso demanda o desenvolvimento de um repertório maior de competências”, afirmou.

O doutor pelas universidades Alberto Hurtado e Diego Portales, Alex Moreira
“Quando levantamentos mostram que boa parte dos diretores no Brasil discorda ou discorda totalmente da afirmação de que antes de assumir a gestão eles receberam alguma formação que os preparou para os desafios, notamos que a estrutura das secretarias ainda tem tido dificuldade de promover o desenvolvimento dessa liderança”, pontuou Alex. Para avançar, de acordo com ele, é preciso que as secretarias otimizem os fluxos administrativos e burocráticos, formem os gestores no fortalecimento da gestão pedagógica e compartilhem boas práticas e ideias adotadas para lidar com situações que têm roubado tempo de qualidade das equipes.

“Os gestores escolares estão sedentos por formação que dialogue com as realidades que vivenciam, e por espaços em que possam compartilhar boas experiências e ferramentas. Isso reforça a importância do trabalho que a Cátedra vem realizado: oferecer formação de qualidade conectada com os desafios centrais com os quais eles lidam, aproximando as universidades da formação continuada dos profissionais que estão no chão das escolas públicas. A iniciativa vai nessa direção, e é muito importante”, analisou o pesquisador.