Dois eventos iniciam programação pública de grupo sobre obra de Marx
O debate sobre ciência e tecnologia a partir das ideias de Karl Marx é o principal interesse de grupo de estudos sobre a obra do filósofo alemão |
A obra de Karl Marx, especialmente no que diz respeito à ciência e à tecnologia, é o tema de grupo de estudo criado no início do ano no âmbito do Grupo de Pesquisa Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do IEA.
A atividade pública inicial do grupo será o seminário Marx, Ciência e Tecnologia, no dia 12 de abril, às 14h. Os expositores serão os autores da proposta de criação da iniciativa: os professores Orlando Lima Pimentel e Marcos Barbosa de Oliveira e o doutorando João Bourbaki, os três do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
No dia 3 de maio, também às 14h, o grupo dará continuidade a sua programação com a conferência A Estrutura e o Sentido do Livro III de "O Capital" de Karl Marx, que será proferida por Jorge Luís da Silva Grespan, professor do Departamento de História da FFLCH-USP.
Os dois eventos serão coordenados por Pablo Mariconda, coordenador do grupo de pesquisa do IEA e professor do Departamento de Filosofia da FFLCH-USP. Haverá transmissão ao vivo pela internet, caso em que não é necessário fazer inscrição. Para participar presencialmente na Sala Alfredo Bosi, no entanto, é preciso fazer inscrição prévia tanto no seminário quanto na conferência.
Ciência e tecnologia
No seminário em 12 de abril, Pimentel tratará da reflexão de Marx sobre o desenvolvimento tecnológico por meio do questionamento quanto às consequências sociais da divisão reiterada de tarefas no espaço de trabalho. Para tanto, discutirá as divergências sobre o tema presentes nas concepções de Marx e do inventor, matemático e economista Charles Babbage (1791-1871).
Pimentel espera que a reflexão sobre "o conflito entre o pensamento econômico dessas duas importantes figuras do século 19 contribua para uma melhor avaliação do que se encontra pressuposto nas perspectivas pessimistas e otimistas quanto ao rumo do desenvolvimento científico e tecnológico da atualidade".
Bourbaki falará sobre a crítica de Karl Popper (1902-1994) ao método de Marx. Segundo ele, Popper disse que o filósofo fez uma tentativa honesta de aplicar métodos racionais aos problemas mais urgentes da vida social, mas teria falhado devido à pobreza de seu método de profecia histórica, na esteira de Hegel e do essencialismo de Aristóteles e Platão.
Integrantes da Escola de Frankfurt também indicam lacunas ou pontos falhos na teoria de Marx, mas também acertos fundamentais, comenta Bourbaki. "Eles entendem a visão de Popper de ciência como uma variante de positivismo associado à tradição da ciência moderna".
"Se é razoável considerar, por exemplo, o avanço da automação no século 21 e seus impactos na sociedade, como uma previsão acertada de Marx, não seria o veredicto de Popper apressado e/ou tendencioso? Se elencarmos uma lista de proposições preditivas de Marx e, à luz do estado social de hoje, sua avaliação for, grosso modo, favorável, o que poderíamos dizer acerca de seu método?"
A exposição de Oliveira tratará da crítica da Teoria do Valor Trabalho de Marx feita por Eugen Böhm-Bawerk no livro "Sobre a Conclusão do Sistema Marxiano", de 1896. Essa crítica é a "historicamente mais marcante e mais intensamente discutida", de acordo com Oliveira.
Na primeira parte de sua apresentação, ele falará dos "elementos primordiais" da teoria marxiana presentes no primeiro capítulo do Livro I de "O Capital". A segunda parte discutirá uma "contradição, pelo menos aparente" presente no mesmo volume. Oliveira explica que Marx reconheceu a existência dessa contradição e tentou demonstrar, no Livro III da obra, que ela é apenas aparente. "Em sua crítica, Böhm-Bawerk argumenta que Marx falhou nessa tentativa."
Livro III
Na conferência de 3 de maio, Grespan discutirá a estrutura particular do Livro III de "O Capital" e o lugar do volume dentro do plano geral da obra projetada por Marx. "A ideia é que, longe de ser um conjunto de textos justapostos, como sugere a publicação de seus manuscritos em 1992 pela Marx-Engels Gesamte Ausgabe (Mega), os capítulos do livro realizam um projeto bem arquitetado de finalização do projeto de crítica da economia política."
Em função dessa estrutura, "é possível rediscutir alguns problemas clássicos da leitura de 'O Capital', como a polêmica 'transformação de valores em preços', bem como a relação entre o capital financeiro e as formas de renda com o capital industrial e o capital comercial", comenta Grespan.
Marx não redigiu a versão final do Livro III. Lançada em 1894, ela foi preparada por Friedrich Engels e despertou polêmica. Apesar disso, "é possível perceber uma lógica e um sentido geral a partir do material dos manuscritos deixados por Marx, cujo caráter inacabado, no entanto, também deve ser compreendido", avalia Grespan.
Marx, Ciência e Tecnologia
12 de abril, 14h
Sala Alfredo Bosi, rua Praça do Relógio, 109, Cidade Universitária, São Paulo
Evento gratuito e aberto a todos os interessados, mediante inscrição prévia
Para assistir pela internet, em www.iea.usp.br/aovivo, não é preciso se inscrever
Mais informações: com Cláudia Regina Pereira (clauregi@usp.br), telefone 3091-1686
Página do evento
A Estrutura e o Sentido do Livro III de "O Capital" de Karl Marx
3 de maio, 14h
Sala Alfredo Bosi, rua Praça do Relógio, 109, Cidade Universitária, São Paulo
Evento gratuito e aberto a todos os interessados, mediante inscrição prévia
Para assistir pela internet, em www.iea.usp.br/aovivo, não é preciso se inscrever
Mais informações: com Cláudia Regina Pereira (clauregi@usp.br), telefone 3091-1686
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