Francisco Weffort será homenageado em webinar no dia 7 de outubro
O cientista político Francisco Weffort, morto aos 84 anos no dia 1º de agosto, será homenageado em webinar no dia 7 de outubro, a partir das 9h30, com a participação de Fernando Henrique Cardoso, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Luiz Werneck Vianna, Lourdes Sola, José Álvaro Moisés, Elizabeth Balbachevsky, João Paulo Cândia Veiga e Juan Carlos Torre.
O encontro Homenagem ao Prof. Francisco Corrêa Weffort é organizado pelo Grupo de Pesquisa Qualidade da Democracia do IEA, Núcleo de Pesquisa de Política Públicas (NUPPs), sediado no Instituto, e pelo Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Weffort era professor titular aposentado da FFLCH-USP e dedicou a vida e a carreira acadêmica à defesa da democracia. Foi um dos fundadores e secretário-geral do Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi filiado até 1994. Em 1995, assumiu o Ministério da Cultura do governo FHC, cargo em que permaneceu até 2002. Também fundou a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec).
Segundo o coordenador do Grupo de Pesquisa Qualidade da Democracia, José Álvaro Moisés, Weffort foi o principal responsável pela reorganização da área de ciência política da USP após a aposentadoria forçada de professores pelo regime militar, tendo assumido depois a chefia do departamento da área. Além disso, "foi o mais longevo ministro da Cultura do país e sua principal política para o setor foi a democratização do acesso dos brasileiros à cultura".
Weffort foi também professor visitante na Universidade de Essex, do Reino Unido, no Wilson Center e no Helen Kellogg Institute da Universidade de Notre Dame, instituições dos EUA. Após o golpe militar de 1964, foi para o Chile, onde trabalhou sob a chefia de José Medina Echeveria na Cepap e conviveu com outros exilados brasileiros, entre os quais Fernando Henrique Cardoso e Almino Affonso.
Em 1968, tornou-se doutor em sociologia política pela USP, com a tese “Populismo e Classes Sociais”, e, em 1977, obteve o título de livre-docente, com a tese “Sindicatos e Política”. Weffort escreveu diversos livros, entre os quais, “O Populismo na Política Brasileira”, “Formação do Pensamento Político Brasileiro”, “Por Que Democracia?”, ”Qual Democracia?” e “Espada, Cobiça e Fé”. Seu último trabalho publicado foi a “Crise da Democracia Representativa e Neopopulismo no Brasil”, em coautoria com o José Álvaro Moisés.
Um pensador da democracia
De acordo com Moisés, Weffort dedicou a sua vida e a sua carreira acadêmica à defesa da democracia e toda sua obra aborda, de diferentes perspectivas, as questões mais fundamentais do devir e do funcionamento do regime democrático. "Em seus principais livros e artigos sobre o tema, abordou a multidimensionalidade do fenômeno democrático sem recorrer a qualquer definição maximalista, mas tendo por referência a noção relativamente consensual na ciência política contemporânea, segundo a qual a democracia supõe, antes de tudo, o império da lei, ao qual se subordinam – ou devem se subordinar – governados e governantes", afirmou.
Outro pressuposto do fenômeno democrático enfatizado por Weffort é a liberdade dos cidadãos para se organizar e competir de modo pacífico pelo poder e o direito de escolha dos eleitores, através do voto, das condições de constituição do poder, assim como de definição de políticas públicas fundamentais demandadas pela sociedade, comentou Moisés.
"Sua leitura do fenômeno democrático foi sempre influenciada pela sua crítica das desigualdades sociais e pela defesa da justiça social. Weffort tratou todos esses elementos como atributos mínimos e essenciais da democracia de qualquer tempo ou de qualquer lugar em que o regime exista ou tenha existido."
Moises ressaltou que um dos aspectos mais importantes de atividade acadêmica de Weffort foi o diálogo intelectual que manteve com os atores situados tanto no campo da esquerda quanto no campo do liberalismo em torno da necessidade de reconhecimento do valor universal da democracia.
"Ele chamou a atenção, assim, para o papel estratégico das lideranças políticas comprometidas com a democracia para a criação e o desenvolvimento da cultura cívica que reconhece e legitima o regime democrático como o fiador da solução pacífica dos conflitos que são próprios de sociedades complexas e desiguais."
Para Moisés, a homenagem a Weffort é uma oportunidade de retomar essas reflexões num momento em que alguns desenvolvimentos recentes do quadro político "provocaram o surgimento de tendências de segmentos que – no desejo de participar da vida política – estão, no entanto, apelando para formas de ação que recusam o diálogo e a negociação, e antes adotando a ação que envolve o confronto e, em alguns casos, a violência voltada para a destruição de instituições democráticas fundamentais".
"Na esperança de que essas atitudes sejam expressões meramente episódicas ou momentâneas de uma experiência democrática que ainda tem muito por avançar, a retomada do legado de Francisco Weffort se constitui – como ele sempre desejou – em uma nova oportunidade para se repensar as suas implicações para a qualidade da democracia brasileira", afirmou. Isso é possível por causa da "extrema atualidade do pensamento político de Weffort em um momento em que existem ameaças à democracia no país", concluiu Moisés.
Homenagem ao Prof. Francisco Corrêa Weffort
7 de outubro, a partir das 9h30
Evento online público e gratuito com transmissão ao vivo pela internet
Mais informações: Cláudia Regina Pereira (clauregi@usp.br), telefone (11) 3091-1686
Página do evento
Foto: Leonor Calasans/IEA-USP