IEA: 30 anos em sintonia com a ciência, a cultura e a sociedade
Alfredo Bosi (à esq.), Gerhard Malnic (entrevistado pela Rádio USP) e José Goldemberg no lançamento da revista "Estudos Avançados" em dez/1987 |
No dia 29 de outubro, o IEA celebrou o 30º aniversário de sua criação, ocorrida no primeiro ano da volta do país à democracia.
A Abertura Democrática, fase final da ditadura, possibilitara várias mudanças na USP. Professores que haviam sido aposentados compulsoriamente pelo Ato Institucional nº 5 em 1969 foram anistiados e podiam se reintegrar à Universidade. Em 1976 foi criada a Associação de Docentes da USP (Adusp) e reativado o Diretório Central de Estudantes (DCE). Em 1979, a Associação dos Funcionários da USP (Afusp, atual Sintusp) passava a atuar como sindicato. Essas três entidades organizaram o 1º e o 2º Congresso da USP (1980 e 1984, respectivamente) para a discutir a estrutura e a governança da Universidade
Foi nesse contexto de gradativa transformação das instituições, ampliação das liberdades democráticas e de reconstrução da sociedade brasileira pós-ditadura que surgiu o IEA, por meio de portaria do reitor José Goldemberg. A ideia já tinha sido debatida em vários fóruns, como a Adusp e o 2º Congresso da USP, e por grupo de estudo especialmente criado para esse fim.
A criação do IEA insere-se num amplo movimento de revitalização cultural e social, como exemplificam outras iniciativas surgidas 1986, caso da editora Companhia das Letras, do “Caderno 2” do jornal “O Estado de São Paulo”, da revista “Nova Escola” da Editora Abril e da Fundação SOS Mata Atlântica.
Nesses 30 anos, foram inúmeras as atividades desenvolvidas pelos programas, áreas, projetos, grupos de pesquisa, grupos de estudo, cátedras e pesquisadores (integrantes de agrupamentos de pesquisa e professores visitantes, honorários e em período sabático).
Assuntos internacionais, meio ambiente, educação, direitos humanos, ciências moleculares, Mercosul, livre comércio, saúde pública, Amazônia, segurança alimentar, revisão constitucional, mudanças climáticas, sistema de governo, biodiversidade, democracia e relações capital-trabalho passaram a ter no Instituto um espaço propício ao debate interdisciplinar.
Noan Chonsky foi um dos conferencistas no 10º aniversário do IEA, em nov/1996 |
É preciso destacar também importância do papel desempenhado pela revista "Estudos Avançados" ao longo da história do Instituto. Lançada no final de 1987, a publicação chega neste quadrimestre à sua 88ª edição e desde o ano passado é o periódico mais consultado na SciELO (Scientific Electronic Library Online).
Momento atual
Ser avançado é prospectar o futuro. Por isso é da natureza do Instituto estar sempre em busca de novas oportunidades e formatos para o incentivo à pesquisa e ao debate de ideias.
Nos últimos anos, uma das diretrizes foi atingir maior grau de internacionalização. Isso foi possível com o ingresso na rede Ubias (University-Based Institutes for Advanced Study), da qual o IEA participou da criação, em 2010. Atualmente, o Instituto é um dos vice-coordenadores da rede, que reúne 37 IEAs vinculados a universidades de todos os continentes.
Em abril de 2015 e março de 2016, o IEA e o Instituto de Pesquisas Avançadas da Universidade de Nagoya, Japão, realizaram a Intercontinental Academia, primeira atividade conjunta de integrantes da Ubias. Nela, 13 pesquisadores com menos de 40 anos de vários países e várias áreas das ciências naturais e sociais tiveram como tema de trabalho as várias concepções do tempo na ciência e na cultura.
Outra iniciativa recente foi a implantação, em 2016, do Programa Ano Sabático, pelo qual pesquisadores da USP podem se afastar das atividades normais em suas unidades para se dedicar a um projeto específico no Instituto pelo prazo de seis meses a um ano.
Também este ano, foi inaugurado um novo posto de pesquisa, a Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, patrocinada pelo Itaú Cultural. Seu primeiro ocupante é o sociólogo e filósofo Sergio Paulo Rouanet.
Todavia, como bem lembra o diretor do Instituto, Paulo Saldiva, “ao se falar dos desafios do IEA o que está em pauta são os desafios da própria Universidade”. Para ele, além do diálogo com a sociedade, há o desafio natural de “produzir conhecimento de melhor qualidade, combater os fundamentalismos de qualquer natureza e procurar dissecar os problemas complexos por meio do questionamento em todas as áreas do saber”.
Com esses objetivos em mente, o IEA adicionou à sua agenda no ano de seu 30º aniversário quatro novos programas temáticos.
O primeiro é o projeto USP Cidades Globais, já em andamento, que pretende aglutinar pesquisas da universidade que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida nas metrópoles, tendo como foco inicial, evidentemente, a Região Metropolitana de São Paulo.
No início de 2017, terá início outro projeto: o Seminário Avançado de Formação de Lideranças Políticas, com a intenção de colaborar com a preparação de atores políticos com mais credibilidade e conhecimento suficientes para o enfrentamento das questões críticas da sociedade brasileira.
A terceira iniciativa prioritária para o período 2016-2020 é induzir discussões que façam a USP passar de objeto a ser transformado a agente transformador. Prevê-se para o IEA um papel de centro de referência sobre processos e perspectivas de mudança da Universidade e, ao mesmo tempo, incubadora de iniciativas inovadores no que se refere à participação da Universidade na transformação da sociedade.
A partir da esquerda, Fábio Feldmann, Wilson Jacob Filho (FM-USP), Vahan Agopyan (vice-reitor), Fernando Haddad (prefeito de São Paulo), Paulo Saldiva (diretor do IEA) e Marcos Buckeridge (IEA) no lançamento do projeto USP Cidades Globais, em 13 de julho |
A criação de um núcleo de estudo sobre novas metodologias de aprendizado voltadas ao ensino fundamental e médio é a quarta diretriz. O objetivo é integrar educadores, professores, cientistas, alunos, game designers e outros profissionais na criação de recursos digitais mais eficazes para o processo de aprendizado dos jovens.
Como se vê, o IEA está sempre em transformação, e nem poderia ser diferente para uma instituição que trabalha com a ciência, a cultura e as prioridades para o desenvolvimento do país.
As realizações em 30 anos são muitas e extremamente diversificadas. Constituem um passado de contribuições à USP e à sociedade. O IEA se orgulha do que já fez, pois em tudo perseguiu objetivos vinculados aos compromissos perenes que assumiu desde a fundação em 1986.
Essa coerência é a plataforma que permite ao Instituto projetar-se em direção ao futuro, uma tarefa que exige criatividade, ousadia e determinação, além de extrema sintonia com as prioridades de cada momento, pois, como disse um recente laureado com o Prêmio Nobel, “os tempos estão mudando”. Sempre.