IEA seleciona participantes da edição 2020 do Programa Ano Sabático
Os oito professores da USP escolhidos pelo Conselho Deliberativo do IEA no início de outubro para participar da edição 2020 do Programa Ano Sabático desenvolverão projetos sobre governança climática, financiamento eleitoral, proteção a dados pessoais, acesso à educação por crianças carentes e imigrantes, aspectos culturais e econômicos do mundo da tatuagem e aproveitamento de tecidos descartados na produção de moda.
O selecionados são provenientes de seis unidades da USP: Faculdade de Direito (FD), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Faculdade de Educação (FE), Instituto de Psicologia (IP), Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP), Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) e Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each).
Programa
O programa conta com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa, que concede auxílio a cada participante. Os selecionados ficam dispensados de atividades didáticas e administrativas em suas unidades de origem para que possam se dedicar a pesquisas individuais interdisciplinares durante seis meses ou um ano.
Para participar das seleções anuais do programa, os professores devem estar enquadrados há sete anos no RDIDP (Regime de Dedicação Integral à Docência e Pesquisa). Cada participante deve realizar ao menos uma conferência pública por semestre de participação e produzir um artigo inédito e original ou outro produto acadêmico (livro, exposição, documentário em vídeo ou obra de arte, por exemplo),
Os escolhidos para 2020 e seus projetos
Ana Maria de Oliveira Nusdeo (FD)
Projeto: Mudanças Climáticas: Desafios
para uma Governança Multiescala
Período: 1 ano
O objetivo do projeto é analisar com vem se estruturando uma “governança climática”, caracterizada por normas, programas e ações para a mitigação ou adaptação às mudanças climáticas nos níveis internacional, nacional, subnacional e local.
Para efetuar essa análise, Nusdeo realizará uma pesquisa qualitativa, destinada à compreensão da complexidade da questão e à interação das normas jurídicas com outras variáveis.
Além das medidas regulatórias estatais há aquelas autorregulatórias, empreendidas por atores privados que procuram seguir agendas parcialmente coincidentes com as definidas pelos ordenamentos internacional e nacionais, destaca Nusdeo.
Em paralelo ao desenvolvimento do projeto, Nusdeo pretende realizar dois seminários com a participação de pesquisadores do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each) e de outras unidades da USP, bem como de outras universidades brasileiras, a fim de aprofundar o diálogo interdisciplinar sobre o tema das políticas públicas vinculadas às mudanças climáticas. Tenciona também publicar dois artigos científicos sobre os resultados da pesquisa.
Nusdeo é professora associada do Departamento de Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Faculdade de Direito (FD) da USP e presidente do Instituto O Direito Por um Planeta Verde. Seu tema central de pesquisa são as relações entre direito, economia e meio ambiente. É coordenadora do Grupo de Pesquisa Direito Ambiental, Economia e Sustentabilidade (GPDAES) da FD e integra o Conselho da Academia de Direito Ambiental da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). É autora do livro “Pagamento por Serviços Ambientais: Sustentabilidade e Disciplina Jurídica", vencedor do Prêmio Jabuti, na categoria Direito, em 2012.
Wagner Pralon Mancuso (FFLCH)
Projeto: Dinheiro e Política: Um Estudo do Financiamento
Eleitoral Lícito e Ilícito no Brasil Contemporâneo
Período: 1 ano
O projeto de Mancuso tem duas metas: analisar o impacto das contribuições empresariais lícitas sobre a produção legislativa dos deputados federais eleitos em 2010 e em 2014; investigar a dinâmica do financiamento ilícito através do estudo de ações interpostas na Justiça Eleitoral no período 2010-2018, no qual ocorreram três eleições nacionais e duas municipais.
Segundo Mancuso, “os avanços realizados simultaneamente nas duas frentes proporcionarão um quadro abrangente das relações entre dinheiro e política na democracia brasileira.
As duas partes da pesquisa serão viabilizadas por projetos do pesquisador em andamento. No caso do financiamento lícito, trata-se do projeto Lobbying, Financiamento de Campanhas e Produção Legislativa na Câmara dos Deputados: 2011-2021, ligado a bolsa concedida pelo CNPq. A análise do financiamento ilícito terá o apoio do projeto Crime Corporativo e Corrupção Sistêmica no Brasil, coordenado por Mancuso no âmbito de acordo de cooperação entre a Fapesp e a Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (DFG).
Mancuso é professor do Departamento de Ciência Política Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Atua como professor e orientador nos Programas de Pós-Graduação em Ciência Política, na FFLCH, e em Relações Internacionais, no Instituto de Relações Internacionais (IRI). É mestre e doutor em ciência política pela FFLCH, onde graduou-se em ciências sociais. Graduou-se também em filosofia no Centro Universitário Assunção. Mancuso integrou a diretoria da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP). Seus principais temas de pesquisa são: grupos de interesse e de pressão, lobby, ação política empresarial, financiamento político e análise do processo decisório.
Marcia Aparecida Gobbi (FE)
Projeto: Crianças e Mulheres em Luta por Moradia: Na Lida
Cotidiana, as Escolas Frequentadas e Representadas
Período: 1 ano
A partir de relatos orais, desenhos e fotos produzidos por mulheres e crianças moradoras de ocupações situadas nas regiões centrais da cidade de São Paulo, Gobbi analisará as representações que elas têm sobre as práticas e abordagens educacionais oferecidas pelas instituições às crianças,
O projeto é um desdobramento da pesquisa Imagens de São Paulo: Moradia e Luta em Regiões Centrais e Periféricas da Cidade a partir de Representações Imagéticsa Criadas por Crianças, coordenado por Gobbi e apoiado pela Fapesp.
Gobbi considera que a pesquisa poderá auxiliar no diálogo entre a escola e os movimentos sociais de luta por moradia, uma vez que levará em consideração os ocupantes de moradias, as escolas e o entorno social, cultural e econômico, “o que implica repensar questões urbanas fundamentalmente do ponto de vista das crianças, sem esquecer de outros agentes, como as mulheres e movimentos sociais”.
O projeto deve resultar num artigo ou capítulo de livro, além de livro resultante das pesquisas e leituras aprofundadas sobre a temática em formato e-book a ser submetido à plataforma de livros digitais da USP.
Os desenhos e fotografias produzidos pelas mulheres e crianças serão expostos na USP e nas ocupações participantes. “A curadoria da exposição envolverá a todos e todas e será usada como método para uma produção coletiva de conhecimento sobre as pessoas e sua relação com a escola e o entorno.”
Gobbi é professora da Faculdade de Educação (FD) USP, onde atua na Licenciatura em Ciências Sociais, em Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Possui graduação e licenciatura em ciências sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e mestrado e doutorado em educação pela Unicamp. Atualmente dedica-se a investigar representações e criações da infância em luta por moradia em ocupações na cidade de São Paulo e atua na formação de professores e ensino de sociologia, com ênfase em práticas e metodologias do ensino, além de coordenar projetos de extensão voltados à escola pública e ensino de sociologia.
Lineu Norio Kohatsu (IP)
Projeto: Imigração e Educação Escolar
Período: 6 meses
Para contribuir com a produção de conhecimento sobre os desafios na inclusão de alunos de origem estrangeiras nas escolas públicas, a pesquisa de Kohatsu abordará como ocorre essa inclusão num escola do Estado de São Paulo.
Ele fará também um comparativo com pesquisas sobre a educação de imigrantes produzidas na Universidade Nacional de Córdoba e na Universidade de Buenos Aires, Argentina, e na Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha.
A parte empírica do projeto é uma pesquisa qualitativa numa escola estadual da Zona Norte da cidade de São Paulo iniciada em 2018 e com término previsto para o final de 2019.
O trabalho final da pesquisa deverá ser apresentado na forma de tese de livre docência no Instituto de Psicologia (IP). Kohatsu pretende produzir três artigos científicos, sendo um deles em parceria com pesquisadores argentinos e espanhóis. Estão previstos também dois encontros: um seminário com pesquisadores brasileiros e encontro com pesquisador da Argentina ou da Espanha.
Kohatsu é professor do Instituto de Psicologia (IP), onde desenvolve pesquisas sobre licenciatura e ensino de psicologia no ensino médio e no ensino técnico, educação inclusiva, educação de alunos imigrantes e o uso de fotografia e vídeo em pesquisas de psicologia. Graduado em psicologia pela PUC-SP, com especialização em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Kohatsu obteve os títulos de mestre e doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP. Realizou pesquisa de pós-doutorado na Universidade do Porto, em Portugal. Integra o Grupo de Pesquisa Migrações e Identidade do Centro de Estudos Rurais e Urbanos (Ceru).
Evandro Eduardo Seron Ruiz (FFLCRP)
Projeto: Aspectos Computacionais do Tratamento de Dados
Pessoais no Âmbito da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
Período: 6 meses
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) (13.709/18), que deve entrar em vigor em agosto de 2020, deverá mudar radicalmente a forma de tratamento dos dados pessoais dos brasileiros, segundo Ruiz.
Com o projeto a ser desenvolvido no IEA, ele pretende produzir materiais técnico-científicos sobre metodologias de desindentificação, anonimização, desanonimização e pseudo-anonimização de dados pessoais, principalmente dos dados abertos divulgados pelas administrações públicas de organizações municipais, estaduais e federais.
“Espero que os artigos científicos e os materiais de divulgação a serem produzidos sejam úteis para esclarecer e alinhas as atividades da Autoridade Nacional de Proteção de Dados e de outras agências governamentais.”
Entre os objetivos secundários do projeto estão a compilação de métodos de tratamento de dados pessoais referenciados por autoridades de proteção de dados de vários países, entre os quais Áustria, Bélgica, Dinamarca, Croácia, Uruguai, Nova Zelândia e Estados Unidos, e de algumas fontes públicas de dados abertos e pessoais, entre estes, dados de saúde, “os quais possuem registros não anonimizados ou com potencial desanonimização trivial”.
Ruiz é professor associado do Departamento de Computação e Matemática da FFLCRP, onde é orientador no Programa de Pós-graduação em Computação Aplicada. Professor livre docente pela USP, com pós-doutorado na Universidade Columbia, EUA, Ruiz obteve o título de doutor em engenharia eletrônica pela Universidade de Kent em Canterbury, Reino Unido, e de mestre na mesma área pela Unicamp. Graduou-se em ciências de computação pelo Instituto de Ciências Matemáticas de São Carlos (ICMSC). Realiza pesquisas principalmente nas áreas de aplicações de processamento de linguagem natural e mineração de textos.
Cíntia Rosa Pereira de Lima
Projeto: A Dicotomia entre Dados Pessoais e Dados
Anônimos: Desafios e Perspectivas Regulatórias no Brasil
Período: 6 meses
Lima pretende relacionar direito e tecnologia para investigar se a dicotomia entre dados pessoais e anônimos se sustenta no atual estágio tecnológico.
Com isso, espera rediscutir os modelos regulatórios sobre armazenagens de dados dos indivíduos e sugerir soluções legislativas e tecnológicas, bem como propor boas práticas aos controladores e operadores de tratamento de dados pessoais para a garantia efetiva da proteção desses dados.
Lima ressalta que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPDP) (13.709/18) assegura ao titular o direito a anonimização de seus dados. Dado anonimizado é considerado aquele relativo a uma pessoa que não possa ser identificada, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na época do tratamento do dado. “No entanto, afirma-se que o uso de algoritmos que analisam o relacionamento entre dados poderia resultar na reidentificação precisa do titular dos dados”, alerta a pesquisadora.
Lima é livre docente em direito civil existencial e patrimonial pela FDRP, onde é professora associada. Doutora em direito civil pela FD, com estágio na Universidade de Ottawa, Canada, e pós-doutorado na Universidade de Estudos de Camerino, na Itália, ela graduou-se na Faculdade de Direito da Unesp. Integrou a Comissão de Biotecnologia e Biodireito da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Seção São Paulo. É líder do Grupo de Pesquisa Tutela Jurídica dos Dados Pessoais na Internet e do Grupo de Pesquisa Observatório do Marco Civil da Internet no Brasil, ambos certificados pelo CNPq.
Valéria Cazetta (Each)
Projeto: A Tatuagem no Brasil: Trajetórias
e Tendências de uma Prática
Período: 6 meses
O objeto de estudo do projeto é a prática da tatuagem no Brasil, bem como a sua emergência como objeto de saber. Cazetta analisará o uso da tatuagem como um procedimento arquivístico, a fim de compreender como uma prática milenar tornou-se regra na contemporaneidade. Segundo ela, “ser excêntrico atualmente é ter quase toda a superfície do corpo tatuada, inclusive a esclerótica [membrana branca do olho]”.
Cazetta ressalta que a tatuagem tem adensado múltiplos interesses, inclusive o de produção de materiais e instrumentos, envolvendo “um amplo modelo de negócios num mercado competitivo e em expansão”.
A pesquisadora tem elaborado um hipótese geral relacionada com uma nova “pedagogização” dos corpos via tatuagem, num processo que se configura, na atualidade, “também por intermédio de uma prática de submissão e não apenas como manifestação de liberdade, resistência e contestação ao status quo, de acordo com grande parte dos estudos sobre a temática produzidos nos últimos 30 anos”.
Alguns outros objetivos do trabalho são verificar o tipo de regulação sobre a prática da tatuagem no Brasil e avaliar como ela tornou-se parte da educação visual contemporânea.
Professora da Each, Cazetta dedica-se a pesquisas na fronteira entre imagens (mapas, fotografias, tatuagens, imagens orbitais, desenhos e produção de narrativas audiovisuais), estudos culturais, geografia e educação. É doutora, mestre e graduada em geografia, com pesquisas de pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade Politécnica de Madri, Espanha. Atua como professora e orientadora credenciada no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da USP e coordena o Grupo de Pesquisa em Culturas Visuais e Experimentações Geográficas, certificado pelo CNPq.
Francisca Dantas Mendes (Each)
Projeto: Arte e Cultura a partir do Lixo e da Invisibilidade
Período: 1 ano
A proposta de Mendes é trabalhar arte e cultura com a população de rua da cidade de São Paulo. A ideia é utilizar pedaços de tecidos descartados como lixo para a confecção de peças de “artesanato artístico impregnado de cultura”. O projeto dá sequência a pesquisas iniciadas por Mendes há cinco anos.
A pesquisadora justifica o projeto em razão da necessidade de soluções para minimizar os impactos causados pelas indústrias de vestuário ao meio ambiente. Ao longo dos anos, a indústria da moda, amparada por sistemas intensivos de produção, distribuição e marketing, encurtou os ciclos de renovação do vestuário, afirma. “Novas minicoleções de roupas chegam às inúmeras lojas multimarcas a cada 15 dias, causando rápida obsolescência das peças consumidas”. O resultado disso é a crescente geração de resíduos de produção e descarte de peças de roupas pós-consumo, segundo Mendes.
Ela é professora associada da Each e pesquisadora de pós-doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Obteve os títulos de doutora e mestre em engenharia de produção pela Universidade Paulista (Unip). É coordenadora do Núcleo de Apoio à Pesquisa Sustexmoda da USP e líder do Grupo de Pesquisa na Moda na Cadeia Têxtil, certificado pelo CNPq. Suas pesquisas concentram-se em: modelagem; desenvolvimento de produto; paradigmas produtivos na manufatura do vestuário de moda; e sustentabilidade na cadeia têxtil e confecção.
Fotos (a partir do alto): Leonor Calasans/IEA-USP; Caeni-IRI-USP; FE-USP;
IP-USP; FFCLRP-USP; Jornal da USP; Each-USP; Arquivo pessoal