IEA expõe réplicas de fósseis em instalação sobre evolução humana
Viabilizada com recursos do Instituto, a instalação tem como organizador e curador o paleoantropólogo Walter Neves, professor sênior do IEA e aposentado do Instituto de Biociências (IB) da USP. As peças foram produzidas pelo paleoartista Rogério Corrêa de Souza.
Apesar de existirem centenas de hominínios descobertos, foram selecionados seis que, segundo Neves, são os mais icônicos na linha do tempo evolutiva: Sahelanthropus tchadensis (viveu entre 6 e 7 milhões de anos atrás), Australopithecus afarensis (viveu entre 3,9 e 2,9 milhões de anos atrás), Homo habilis (viveu entre 2,6 e 1,5 milhões de anos atrás), Homo erectus (viveu entre 1,89 milhão e 100 mil anos atrás), Homo neanderthalensis (viveu entre 200 mil e 30 mil anos atrás) e o Homo sapiens (surgiu há 200 mil anos).
A réplica do Australopithecus afarensis é de corpo inteiro e baseada no fóssil conhecido como Lucy, encontrado em 1974 na Etiópia e considerado o mais famoso de um ancestral humano. Datada em 3,2 milhões de anos, Lucy media cerca de 1,10 m e andava ereta como nós, mas tinha proporções corporais similares às de um chimpanzé.
Entre todas as réplicas, o mais antigo ancestral humano é o Sahelanthropus tchadensis, que viveu entre 6 e 7 milhões de anos atrás. Seu fóssil foi encontrado em 2001 no Chade.
As características de cada um dos ancestrais são temas de videoaulas de Walter Neves, disponíveis no YouTube. Na instalação, um QR Code ao lado de cada réplica dá acesso ao vídeo do ancestral exposto.
O painel da linhagem evolutiva, com 1,85 m de largura por 1,15 de altura, é uma adaptação do painel “Hominid Evolutionary Tree” do Museu de História Natural de Londres, Inglaterra, e resume 7 milhões de anos de evolução.
Divulgação científica
Walter Neves é um dos maiores nomes nas áreas de biologia evolutiva, antropologia evolutiva e arqueologia no Brasil. Ao dedicar-se à origem do homem na América do Sul, foi responsável pelo estudo de "Luzia", esqueleto humano mais antigo (11 mil anos) até agora descoberto no subcontinente. O nome do fóssil, batizado por Neves, foi inspirado em Lucy.
Desde que iniciou sua carreira acadêmica, há mais de 40 anos, Neves esforça-se em prol da divulgação científica e da disseminação da teoria evolucionista e do processo evolutivo humano para o grande público. Essa é a primeira vez que o pesquisador consegue criar dentro da USP uma exposição como essa. Ao longo de sua carreira, ele reuniu um acervo de réplicas suficiente para fazer na USP uma grande exposição que repassaria toda a linha do tempo evolutiva humana.
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Atualmente, Neves se mostra preocupado com o que vê como um crescimento exponencial da aceitação da teoria criacionista entre órgãos governamentais brasileiros, como o Ministério da Educação. “A bancada evangélica no Congresso Nacional tem articulado esse movimento, que pode culminar no ensino obrigatório do criacionismo em escolas públicas”, diz.
“As instituições de pesquisa, universidades e museus estão paradas em relação a isso. Falta uma reação. Precisamos aproveitar todas as oportunidades e espaços para divulgar o evolucionismo”, diz o professor, que destaca a “sensibilidade do IEA em perceber que este é um tema candente”.
Para Neves, a Universidade de São Paulo e todas as capitais brasileiras deveriam ter uma exposição permanente sobre evolução humana. “Assim, as pessoas podem ser apresentadas ao que a ciência tem a dizer sobre o assunto. A partir disso, optar pelo criacionismo ou evolucionismo é uma decisão pessoal. Mas precisa haver essa exposição à ciência”.
Ocupação Hominínia
Instalação sobre evolução humana
Aberta ao público
De segunda a sexta-feira, das 7h às 18h
Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo, SP