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IEA e Itaú Social lançam Cátedra de Educação Básica

por Mauro Bellesa - publicado 22/02/2019 00:00 - última modificação 11/06/2020 06:19

Por meio de convênio firmado em dezembro de 2018 entre a USP e o Itaú Social, foi criada no IEA a Cátedra de Educação Básica, destinada a promover reflexão e debates sobre experiências inovadores para o ensino e políticas públicas para o setor.
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O diretor do Instituto de Estudos Avançados, Paulo Saldiva; o reitor Vahan Agopyan; a superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, e o coordenador da Cátedra, Nílson José Machado

Reunir medidas que subsidiem políticas para o ensino básico com foco na formação de professores, a partir da análise de experiências inovadoras, de debates com os atores e de estudos de campo. Esse é o principal objetivo da Cátedra de Educação Básica, sediada no IEA e lançada no dia 21 de fevereiro em cerimônia no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. A cátedra é resultado de um convênio firmado no final de 2018 entre a USP, o Itaú Social – patrocinadora da iniciativa –  e a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp). [Veja as fotos e o vídeo do lançamento]

O Itaú Social destinou verba de R$ 5 milhões para as atividades da cátedra, dividida em aportes anuais de R$ 1 milhão. O montante irá subsidiar as atividades durante os cinco anos de duração do convênio, que poderá ser renovado no caso de concordância das instituições parceiras.

Para o primeiro semestre, estão previstos três seminários com especialistas no setor [veja a programação inicial], atividade que possibilitará também a sistematização de informações fundamentadas sobre experiências pontuais e políticas educacionais nos três níveis de governo. A participação de cada expositor nos seminários resultará em um vídeo de 15 minutos e um texto. Na segunda metade do ano, a cátedra deve levar seus especialistas a campo para conhecer de perto as experiências mais exitosas na educação básica. Com as informações colhidas, eles retornarão à USP para continuar a pesquisa.

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Nílson José Machado, coordenador acadêmico da Cátedra
"Não queremos produzir um efeito na educação brasileira em 40 ou 50 anos. Queremos ver resultados em quatro ou cinco anos", disse Nílson José Machado, coordenador acadêmico da cátedra. Em 2017 e 2018, ele coordenou no IEA o Grupo de Estudos Educação Básica Pública Brasileira: Dificuldades Aparentes, Desafios Reais, que mapeou as questões mais relevantes da área e produziu o documento Diagnósticos e Propostas para a Educação Básica Brasileira. O trabalho do grupo inspirou a formação da cátedra.

É com base no resultado dessa pesquisa que Nílson defende que o principal problema da educação brasileira é a falta de um projeto. "Se tivéssemos um projeto para a educação, até a falta de recursos seria mais fácil de administrar".

Para Paulo Saldiva, diretor do IEA, é papel da USP fazer parte do pacote de soluções para o país, ideia compartilhada pelo reitor da Universidade, Vahan Agopyan, presente à cerimônia de lançamento. "A universidade não tem a finalidade de resolver todos os problemas, mas ela tem a obrigação de ajudar, de recomendar soluções", afirmou.

A superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, destacou o caráter estratégico da parceria da fundação com o IEA: “A união entre pesquisadores e os profissionais que estão no dia a dia de escolas e redes educacionais tem, em si, uma potência transformadora".

Convergência de
iniciativas pela educação

Desde o início dos anos 90, o IEA tem se empenhado em refletir sobre o ensino básico público brasileiro e colaborar na formulação de políticas públicas para a área.

Três professores visitantes se dedicaram ao tema em períodos diferentes daqueles anos: o próprio coordenador acadêmico da nova cátedra, Nílson José Machado; a educadora Guiomar Namo de Mello, que foi secretária da Educação da cidade de São Paulo, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e especialista em educação do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento; e o físico Sérgio Costa Ribeiro, cujos estudos demonstraram ter sido a repetência e não a evasão o principal empecilho para que a escolaridade e a competência cognitiva da população jovem do país aumentassem durante a segunda metade do século 20.

Outra iniciativa do Instituto foi o Programa Mobilizador Educação para a Cidadania, dedicado à coleta de dados sobre o sistema educacional brasileiro. Um dos resultados do programa foi um relatório coordenado por Guiomar Namo de Mello sobre políticas públicas para educação.

Diagnósticos, desafios, políticas públicas e experiências exitosas em educação básica foram temas de dossiês e artigos na revista “Estudos Avançados” e de conferência e seminários públicos ao longo dos últimos 30 anos do Instituto.

Ao concorrer para a eleição dos novos diretor e vice-diretor do IEA, os então candidatos e agora ocupantes dos respectivos cargos, os professores Paulo Saldiva e Guilherme Ary Plonski, incluíram entre as prioridades de seu Plano de Gestão 2016-2020 a criação de um núcleo de estudos dedicado ao ensino fundamental e médio.

A diretriz foi concretizada com a implantação no início de 2017 do Grupo de Estudos Educação Básica Pública: Dificuldades Aparentes, Desafios Reais, sob a coordenação de Nílson José Machado. Em cinco seminários realizados em 2017 e 2018 com professores da USP, educadores e gestores públicos, o grupo analisou a formação dos professores, a qualidade da educação, o papel dos documentos oficiais e experiências inovadoras. As conclusões do grupo foram divulgadas em julho deste ano no documento “Diagnóstico e Propostas para a Educação Básica Brasileira”.

O Itaú Social atua desde 1993 no desenvolvimento de programas para a melhoria da educação pública brasileira. São exemplos desse empenho a criação do Prêmio Itaú-Unicef, do programa Melhoria da Educação no Município, os Ciclos de Debates em Gestão Educacional e a criação do programa Redes de Territórios Educativos.

A assinatura do convênio com a USP para a criação da cátedra no IEA soma-se às várias parcerias do Itaú Social com o poder público: acordos de cooperação com os Fundos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente de 44 municípios de vários estados, com o Ministérios da Educação e o Ministério de Desenvolvimento Social, com a Secretaria Municipal  de Educação de Manaus e com os estados integrantes do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Brasil Central (Tocantins, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal).

O Itaú Social tem 17 parceiros institucionais, entre os quais o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, a Fundação Lemann, o Instituto Ayrton Senna e a Fundação Roberto Marinho.

A expectativa da fundação, segundo Angela, é que ao longo dos cinco anos de duração da cátedra haja "um acúmulo de produção de conhecimento, de práticas inovadoras e de formações que promovam avanços significativos" nas propostas para a educação básica. "E com um compromisso que é um diferencial: o olhar e a voz do professor presentes, e valorizados, sempre.”

Premissas

A cátedra se apoia em três premissas, segundo os formuladores da proposta:

  1. educação de qualidade é aquela que promove o desenvolvimento integral do sujeito;
  2. a formação de pessoal docente requer relação equilibrada entre teoria e prática, reconhecendo cada indivíduo em sua integralidade;
  3. a formação do professorado e sua atuação profissional encontram limites em problemas estruturantes, envolvendo variáveis internas e externas à escola.

Ao associar a educação de qualidade à preocupação desta em promover o desenvolvimento integral da pessoa, a cátedra enfatiza a necessidade do reconhecimento de suas diferentes dimensões (cognitiva, emocional, social, ética e física) e da valorização da diversidade de interesses, talentos e trajetórias individuais e grupais. Ao adotar essa noção de educação integral, a cátedra incentiva a complementaridade entre escolas, famílias, organizações locais e da cidade e as de maior amplitude e se propõe a promover a colaboração multidisciplinar, dados os desafios do século 20.

A cátedra considera que a formação sistemática dos docentes deve ser permanente, centrada no que é experimentado na escola, mas ubíqua, colaborativa e híbrida (presencial e por meios digitais). A proposta acrescenta que, assim como cada estudante, cada docente deve ter reconhecida sua integralidade e seu caráter de sujeito. Tal formação amplia a capacidade de observação e reflexão, a partir da articulação entre os desafios, teorias científica e resultados de pesquisa.

Os responsáveis pela cátedra relacionam problemas estruturantes que limitam a formação e atuação dos docentes: alta rotatividade das equipes escolares, ausência de autonomia da unidade escolar para selecionar o corpo docente, pesadas jornadas de trabalho que não comportam elaboração pedagógica coletiva, infraestrutura deficiente, visão fragmentada da gestão educacional, remuneração e carreiras desestimulantes. Nesse sentido, consideram fundamentais as pesquisas que apontem soluções para esses desafios, inclusive sobre experiências já vividas por redes e comunidades escolares.

Para o 1º semestre de 2019, a cátedra já programou três seminários com o tema geral Ação/Formação do Professor: A Fragmentação Disciplinar e seus Antídotos. As datas, os temas dos seminários e das exposições e os responsáveis por elas são:

  • 16 de março – Professor: Profissionalismo e Competência
    • O Professor e a Ideia de Profissionalismo – Nílson José Machado (IEA e FE-USP)
    • O Professor e suas Competências – Lino de Macedo (IEA e IP-USP)
    • A Ação do Professor como Profissional – Luís Carlos de Menezes (IEA e IF-USP)
    • Atratividade e Carreira Docente – Carolinie Tavares (Itaú Social)
  • 13 de abril – Ação do Professor: Planejamento e Avaliação
    • Ação do Professor: Liberdade, Responsabilidade, Tolerância – Luís Carlos de Menezes (IEA e IF-USP)
    • Planejamento: Concepções de Conhecimento e Ações Docentes – Nílson José Machado (IEA e FE-USP)
    • Avaliação: As Ideias de Medida e Valor e o Significado dos Indicadores – Lino de Macedo (IEA e IP-USP)
    • Avaliação e Planejamento: Boas Práticas para o Uso da Hora/Atividade na Autoformação – Fundação Itaú Social
  • 18 de maio – Formação do Professor: Experiências Inovadoras
    • Formação do Professor: Um Panorama das Questões Fundamentais – Bernardete Angelina Gatti (CEE-SP)
    • Formação Integrada: A Experiência da USP São Carlos – Yvonne Mascarenhas (IEA e IFSC-USP)
    • Formação por Área: Uma Visão Transdisciplinar – Luís Carlos de Menezes (IEA e IF-USP) e Nílson José Machado (IEA e FE-USP)
    • Fundação Itaú Social: Panorama de Projetos Relativos aos Anos Finais do Ensino Fundamental – Itaú Social

 

Governança

Além de comportar a cada ano um pesquisador ou intelectual com atuação relevante na reflexão sobre os desafios da educação básica, a cátedra conta com um Comitê de Governança, um Comitê Consultivo e uma Comissão Executiva.

Os componentes do Comitê de Governança são:

  • o diretor do IEA (atualmente, Paulo Saldiva), presidente do comitê;
  • o superintendente do Itaú Social (no momento, Angela Dannemann);
  • o coordenador-geral da cátedra, Guilherme Ary Plonski, vice-diretor do IEA;
  • o coordenador acadêmico, Nílson José Machado, da Faculdade de Educação (FE) da USP e ex-professor visitante e coordenador de grupo no IEA;
  • dois representantes do Itaú Social, indicados pela sua Superintendência: Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento, e Juliana Souza Mavoungou Yade, especialista em pesquisa e desenvolvimento;
  • o titular da cátedra.

Cinco pesquisadores indicados pelo IEA e cinco escolhidos pelo Itaú Social constituem o Comitê Consultivo, a ser renovado conforme entendimento entre os parceiros.

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Parte do grupo de especialistas que irá atuar na Cátedra de Educação Básica
A  Comissão Executiva inclui: o coordenador-geral; o coordenador acadêmico; dois coordenadores adjuntos indicados pela direção do IEA (os professores da USP Luís Carlos Menezes, do Instituto de Física (IF), e Lino Macedo, do Instituto de Psicologia (IP); dois pesquisadores indicados pelos coordenadores dos Polos do IEA em São Carlos e em Ribeirão Preto (um de cada polo); e um secretário.

Também participam da cátedra os pesquisadores: Hélio Dias, do IF-USP e professor sênior do IEA; Helena Singer, da ONG Ashoka Brasil; Yvonne Mascarenhas, coordenadora científica do Polo São Carlos do IEA e professora honorária do Instituto; Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas e ex-presidente do Conselho Estadual de Educação; Elie Ghanem, da FE-USP; Guiomar Namo de Melo, presidente da Escola Brasileira de Professores e ex-professora visitante do IEA; e Francisco Aparecido Cordão, diretor da Peabiru Educacional.

Caberá à Comissão Executiva detalhar o escopo da curadoria de pesquisa e definição dos eixos temáticos; definir o processo de seleção e escolha final dos projetos; e definir a programação dos ciclos de seminários e outros encontros.

Colaborou: Fernanda Rezende/IEA

Fotos: Cecília Bastos / USP Imagens