IEA e Itaú Social lançam Cátedra de Educação Básica
Reunir medidas que subsidiem políticas para o ensino básico com foco na formação de professores, a partir da análise de experiências inovadoras, de debates com os atores e de estudos de campo. Esse é o principal objetivo da Cátedra de Educação Básica, sediada no IEA e lançada no dia 21 de fevereiro em cerimônia no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. A cátedra é resultado de um convênio firmado no final de 2018 entre a USP, o Itaú Social – patrocinadora da iniciativa – e a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp). [Veja as fotos e o vídeo do lançamento]
O Itaú Social destinou verba de R$ 5 milhões para as atividades da cátedra, dividida em aportes anuais de R$ 1 milhão. O montante irá subsidiar as atividades durante os cinco anos de duração do convênio, que poderá ser renovado no caso de concordância das instituições parceiras.
Para o primeiro semestre, estão previstos três seminários com especialistas no setor [veja a programação inicial], atividade que possibilitará também a sistematização de informações fundamentadas sobre experiências pontuais e políticas educacionais nos três níveis de governo. A participação de cada expositor nos seminários resultará em um vídeo de 15 minutos e um texto. Na segunda metade do ano, a cátedra deve levar seus especialistas a campo para conhecer de perto as experiências mais exitosas na educação básica. Com as informações colhidas, eles retornarão à USP para continuar a pesquisa.
Nílson José Machado, coordenador acadêmico da cátedra. Em 2017 e 2018, ele coordenou no IEA o Grupo de Estudos Educação Básica Pública Brasileira: Dificuldades Aparentes, Desafios Reais, que mapeou as questões mais relevantes da área e produziu o documento Diagnósticos e Propostas para a Educação Básica Brasileira. O trabalho do grupo inspirou a formação da cátedra. "Não queremos produzir um efeito na educação brasileira em 40 ou 50 anos. Queremos ver resultados em quatro ou cinco anos", disse
É com base no resultado dessa pesquisa que Nílson defende que o principal problema da educação brasileira é a falta de um projeto. "Se tivéssemos um projeto para a educação, até a falta de recursos seria mais fácil de administrar".
Para Paulo Saldiva, diretor do IEA, é papel da USP fazer parte do pacote de soluções para o país, ideia compartilhada pelo reitor da Universidade, Vahan Agopyan, presente à cerimônia de lançamento. "A universidade não tem a finalidade de resolver todos os problemas, mas ela tem a obrigação de ajudar, de recomendar soluções", afirmou.
A superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, destacou o caráter estratégico da parceria da fundação com o IEA: “A união entre pesquisadores e os profissionais que estão no dia a dia de escolas e redes educacionais tem, em si, uma potência transformadora".
Convergência de
|
A expectativa da fundação, segundo Angela, é que ao longo dos cinco anos de duração da cátedra haja "um acúmulo de produção de conhecimento, de práticas inovadoras e de formações que promovam avanços significativos" nas propostas para a educação básica. "E com um compromisso que é um diferencial: o olhar e a voz do professor presentes, e valorizados, sempre.”
Premissas
A cátedra se apoia em três premissas, segundo os formuladores da proposta:
- educação de qualidade é aquela que promove o desenvolvimento integral do sujeito;
- a formação de pessoal docente requer relação equilibrada entre teoria e prática, reconhecendo cada indivíduo em sua integralidade;
- a formação do professorado e sua atuação profissional encontram limites em problemas estruturantes, envolvendo variáveis internas e externas à escola.
Ao associar a educação de qualidade à preocupação desta em promover o desenvolvimento integral da pessoa, a cátedra enfatiza a necessidade do reconhecimento de suas diferentes dimensões (cognitiva, emocional, social, ética e física) e da valorização da diversidade de interesses, talentos e trajetórias individuais e grupais. Ao adotar essa noção de educação integral, a cátedra incentiva a complementaridade entre escolas, famílias, organizações locais e da cidade e as de maior amplitude e se propõe a promover a colaboração multidisciplinar, dados os desafios do século 20.
A cátedra considera que a formação sistemática dos docentes deve ser permanente, centrada no que é experimentado na escola, mas ubíqua, colaborativa e híbrida (presencial e por meios digitais). A proposta acrescenta que, assim como cada estudante, cada docente deve ter reconhecida sua integralidade e seu caráter de sujeito. Tal formação amplia a capacidade de observação e reflexão, a partir da articulação entre os desafios, teorias científica e resultados de pesquisa.
Os responsáveis pela cátedra relacionam problemas estruturantes que limitam a formação e atuação dos docentes: alta rotatividade das equipes escolares, ausência de autonomia da unidade escolar para selecionar o corpo docente, pesadas jornadas de trabalho que não comportam elaboração pedagógica coletiva, infraestrutura deficiente, visão fragmentada da gestão educacional, remuneração e carreiras desestimulantes. Nesse sentido, consideram fundamentais as pesquisas que apontem soluções para esses desafios, inclusive sobre experiências já vividas por redes e comunidades escolares.
Para o 1º semestre de 2019, a cátedra já programou três seminários com o tema geral Ação/Formação do Professor: A Fragmentação Disciplinar e seus Antídotos. As datas, os temas dos seminários e das exposições e os responsáveis por elas são:
- 16 de março – Professor: Profissionalismo e Competência
- O Professor e a Ideia de Profissionalismo – Nílson José Machado (IEA e FE-USP)
- O Professor e suas Competências – Lino de Macedo (IEA e IP-USP)
- A Ação do Professor como Profissional – Luís Carlos de Menezes (IEA e IF-USP)
- Atratividade e Carreira Docente – Carolinie Tavares (Itaú Social)
- 13 de abril – Ação do Professor: Planejamento e Avaliação
- Ação do Professor: Liberdade, Responsabilidade, Tolerância – Luís Carlos de Menezes (IEA e IF-USP)
- Planejamento: Concepções de Conhecimento e Ações Docentes – Nílson José Machado (IEA e FE-USP)
- Avaliação: As Ideias de Medida e Valor e o Significado dos Indicadores – Lino de Macedo (IEA e IP-USP)
- Avaliação e Planejamento: Boas Práticas para o Uso da Hora/Atividade na Autoformação – Fundação Itaú Social
- 18 de maio – Formação do Professor: Experiências Inovadoras
- Formação do Professor: Um Panorama das Questões Fundamentais – Bernardete Angelina Gatti (CEE-SP)
- Formação Integrada: A Experiência da USP São Carlos – Yvonne Mascarenhas (IEA e IFSC-USP)
- Formação por Área: Uma Visão Transdisciplinar – Luís Carlos de Menezes (IEA e IF-USP) e Nílson José Machado (IEA e FE-USP)
- Fundação Itaú Social: Panorama de Projetos Relativos aos Anos Finais do Ensino Fundamental – Itaú Social
Governança
Além de comportar a cada ano um pesquisador ou intelectual com atuação relevante na reflexão sobre os desafios da educação básica, a cátedra conta com um Comitê de Governança, um Comitê Consultivo e uma Comissão Executiva.
Os componentes do Comitê de Governança são:
- o diretor do IEA (atualmente, Paulo Saldiva), presidente do comitê;
- o superintendente do Itaú Social (no momento, Angela Dannemann);
- o coordenador-geral da cátedra, Guilherme Ary Plonski, vice-diretor do IEA;
- o coordenador acadêmico, Nílson José Machado, da Faculdade de Educação (FE) da USP e ex-professor visitante e coordenador de grupo no IEA;
- dois representantes do Itaú Social, indicados pela sua Superintendência: Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento, e Juliana Souza Mavoungou Yade, especialista em pesquisa e desenvolvimento;
- o titular da cátedra.
Cinco pesquisadores indicados pelo IEA e cinco escolhidos pelo Itaú Social constituem o Comitê Consultivo, a ser renovado conforme entendimento entre os parceiros.
A Comissão Executiva inclui: o coordenador-geral; o coordenador acadêmico; dois coordenadores adjuntos indicados pela direção do IEA (os professores da USP Luís Carlos Menezes, do Instituto de Física (IF), e Lino Macedo, do Instituto de Psicologia (IP); dois pesquisadores indicados pelos coordenadores dos Polos do IEA em São Carlos e em Ribeirão Preto (um de cada polo); e um secretário.Também participam da cátedra os pesquisadores: Hélio Dias, do IF-USP e professor sênior do IEA; Helena Singer, da ONG Ashoka Brasil; Yvonne Mascarenhas, coordenadora científica do Polo São Carlos do IEA e professora honorária do Instituto; Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas e ex-presidente do Conselho Estadual de Educação; Elie Ghanem, da FE-USP; Guiomar Namo de Melo, presidente da Escola Brasileira de Professores e ex-professora visitante do IEA; e Francisco Aparecido Cordão, diretor da Peabiru Educacional.
Caberá à Comissão Executiva detalhar o escopo da curadoria de pesquisa e definição dos eixos temáticos; definir o processo de seleção e escolha final dos projetos; e definir a programação dos ciclos de seminários e outros encontros.
Colaborou: Fernanda Rezende/IEA
Fotos: Cecília Bastos / USP Imagens