Projeto constrói plataforma digital com produção da USP sobre periferias
Pesquisadores e o público em geral agora contam com uma base de dados multidisciplinar sobre iniciativas da USP relacionadas com periferias e favelas. É a plataforma digital Conexões USP-Periferias (vinculada ao site do IEA), que será lançada no dia 2 de agosto, às 10h, em evento online. Leia mais.
A plataforma reúne desde dados sobre a produção acadêmica consolidada em publicações até informações sobre a atuação individual ou coletiva de docentes e estudantes em atividades de ensino, pesquisa e extensão ligadas ao tema. A perspectiva é que seu conteúdo se torne referência para pesquisadores e formuladores de políticas públicas para essas comunidades.
A implantação da plataforma integra o projeto Democracia, Artes e Saberes Plurais (Dasp) da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, parceria entre o IEA e o Itaú Cultural. Com apoio da Fundação Tide Setubal, o Dasp foi idealizado em 2018 pela educadora e ativista social Eliana Sousa Silva, titular da cátedra na época. Desde então ela é a coordenadora-geral do projeto (a partir de 2019, como professora visitante do IEA), além de integrante da equipe da cátedra.
O trabalho é resultante de um levantamento das ações e produções da USP nas áreas de ensino, pesquisa e extensão no que diz respeito “às particularidades empíricas e formulações teóricas sobre as periferias e as favelas e suas populações”, afirma a coordenadora da plataforma, Érica Peçanha do Nascimento, antropóloga social e pesquisadora de pós-doutorado do IEA vinculada à cátedra.
O levantamento - a partir de diversas palavras-chave - foi realizado de janeiro de 2019 a abril de 2020 e teve como principal fonte de consulta as bases de dados do Sistema USP. Os trabalhos de mapeamento foram estendidos de forma retroativa até data de publicação do registro mais antigo disponível nas bases de consulta: 1945, no caso das teses e dissertações; 1985, para as publicações e trabalhos de eventos; e 2009, quanto às monografias de conclusão de curso.
Retorno social |
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Quando assumiu a titularidade da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência em 2018, Eliana Sousa Silva já estabelecera como objetivo de sua atuação estimular discussões mais aprofundadas sobre as periferias e o reconhecimento do que a USP tem produzido sobre o tema. A ideia de criar a plataforma Conexões USP-Periferias “tem a ver com a perspectiva de mostrar essa produção para a comunidade acadêmica e torná-la acessível a pessoas da sociedade civil atuantes nas periferias, um público que normalmente não acessa o que a USP produz”, afirma Eliana. A iniciativa tem um sentido político ao mapear pessoas, grupos e unidades da Universidade que estão produzindo conhecimento sobre as periferias, segundo a professora visitante do IEA. E há o sentido acadêmico, “por criar um espaço que vai dialogar diretamente com quem está atuando na periferia”. A reunir esse conhecimento, a plataforma não busca colaborar diretamente na resolução de problemas práticos da vida das pessoas das periferias e favelas, segundo Eliana. Trata-se de um passo anterior: “A universidade é pública e é um direito das pessoas de terem um retorno dos trabalhos em que muitas vezes elas são objeto de estudo. Mais do que uma ação instrumental, direta, a universidade tem que ter um retorno social”. Para Eliana, os movimentos organizados, instituições públicas e organizações não governamentais atuantes nas periferias poderão utilizar esses conhecimentos para elucidar para elas muitas questões relativas a desigualdade, falta de direitos e violações de direitos. Para Vítor Soares Miceli, graduando da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e um dos pesquisadores do projeto, a maior surpresa durante a coleta de dados da plataforma foi quantidade existente de pesquisas, artigos, coletivos e produções sobre as periferias: “Tal constatação desmente a ideia de que a academia não olha para as periferias e sua população”. Outra pesquisadora do projeto, Cláudia Rosalina Adão, doutoranda da FAU-USP, exemplifica a importância da plataforma com sua própria experiência como pesquisadora. Segunda ela, “algumas reflexões realizadas ali contribuíram muito para o desenvolvimento da minha atual pesquisa, especialmente no que se refere a periferia como espaço social: território, sujeitos, equipamentos, produções/movimentos sociais e políticos e a forma como usualmente as periferias vêm sendo abordadas nos estudos acadêmicos”. Cláudia destaca a relevância da plataforma para estudos sobre quais trabalhos visibilizam a carência e quais a potência das periferias e sobre quantos grupos de pesquisa, docentes e cursos existem que discutem as periferias e qual é a perspectiva de trabalho deles. “A plataforma reúne e disponibiliza de forma gratuita milhares de dados para o público, com uma curadoria que parte do conceito de potência das/com/nas periferias”, ressalta Leandro de Oliva Costa Penha, também pesquisador da plataforma e doutorando da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. As referências teóricas, as informações empíricas e os dados oficiais podem ser utilizados “tanto para o desenvolvimento de novas investigações quanto para a criação de iniciativas e projetos nas periferias em prol da conquista de direitos, da valorização de saberes plurais, de equidade social e transformação de realidades”, afirma o pesquisador. |
Os dados foram produzidos por uma equipe especialmente formada para desenvolver o conteúdo da plataforma, composta por pesquisadores-bolsistas de graduação, pós-graduação e pós-doutorado. A equipe contou com a colaboração de profissionais das áreas de Comunicação e Informática do IEA.
Lançamento |
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A plataforma Conexões USP-Periferias será lançada no dia 2 de agosto, às 19h, no evento Sobre Sujeitos e Territórios Periféricos: Produção de Conhecimento em Perspectiva. Haverá transmissão ao vivo pela internet aberta à público. Estão previstas as participações de: Abertura
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Em termos de ensino, foram identificadas disciplinas de graduação e pós-graduação, monografias de conclusão de curso, dissertações e teses que contemplam discussões ligadas às periferias e favelas.
No âmbito da pesquisa, o levantamento mapeou grupos de pesquisa e estudos que se dedicam às temáticas da plataforma, bem como a produção científica concretizada na forma de artigos, livros e trabalhos apresentados em eventos acadêmicos.
A coleta de informações sobre as atividades de extensão reuniu editais da USP de estímulo a iniciativas que aproximem universidade e sociedade, além dos programas e projetos desenvolvidos por docentes e/ou discentes em regiões periféricas ou para as populações que habitam esses territórios.
Também foram identificados os docentes com trajetórias de pesquisas relacionadas às questões das periferias e favelas e os coletivos discentes com atuação voltada para a presença/permanência na Universidade de estudantes provenientes das periferias, bem como para “o combate às variadas opressões baseadas em raça, gênero e sexualidade relacionadas com a produção territorial da periferia”, de acordo com Érica.
Os dados referentes à produção acadêmica (artigos, livros, trabalhos publicados em eventos, dissertações, teses etc.) são os constantes na Biblioteca Digital de Produção Intelectual da Universidade de São Paulo, e as monografias de conclusão de curso foram mapeadas na Biblioteca Digital de Trabalhos Acadêmicos.
Até agora, a plataforma incluiu 3.474 registros desse tipo, sendo: 1.617 teses e dissertações, 622 publicações (livros, capítulos de livro, produção didática ou artística, textos de jornal ou internet, relatórios técnicos), 623 artigos de periódicos acadêmicos, 491 trabalhos de eventos e 121 trabalhos de conclusão de curso de graduação.
Com relação ao mapeamento das disciplinas, as fontes foram os sistemas Júpiter e Janus, que são os portais de apoio à graduação e pós-graduação. Foram sistematizadas 336 disciplinas, sendo 189 de graduação e 147 de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). De acordo com Érica, foram consideradas pertinentes à plataforma “aquelas que contemplam discussões teóricas relacionadas às periferias e favelas nos seus objetivos, conteúdo programático e referências bibliográficas, como também as que abrangem visitas e trabalhos de campo em áreas periféricas”.
A plataforma sistematizou informações referentes a 125 docentes especialistas na temática, ligados a todas as unidades de ensino da USP, identificados a partir do próprio levantamento de produções acadêmicas realizado pelo projeto. “Essa lista serviu como ponto de partida para o mapeamento de 35 grupos de pesquisa e estudos”, afirma a coordenadora.
Já os coletivos discentes foram mapeados a partir de pesquisas nas redes sociais e por meio da indicação de estudantes e professores da USP. Houve a identificação de 62 coletivos, sendo que 27 deles forneceram informações por meio de entrevistas.
As ações de extensão foram sistematizadas a partir da consulta aos sites de cada unidade de ensino e das Pró-Reitorias de Cultura e Extensão, de Graduação e de Pesquisa. “O trabalho privilegiou apenas as iniciativas com regularidade ou constância na promoção de interação entre a Universidade e sociedade”, segundo Érica.
Foram mapeadas 101 ações desse tipo: 18 editais regulares de apoio financeiro a novos projetos docentes e discentes, sete programas permanentes de integração universidade-comunidade ligados à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, sete Núcleos de Apoio à Cultura e à Extensão (Nace), 14 cursos pré-vestibulares destinados à população de baixa renda e 55 iniciativas de extensão e cultura desenvolvidas por professores e/ou estudantes e funcionários.