Coletânea em homenagem a Anna Peliano reúne amostra de seus principais trabalhos
Considerada uma das principais pesquisadoras sobre fome, insegurança alimentar e pobreza no Brasil e sobre as políticas para combatê-las, a socióloga Anna Peliano, morta em agosto de 2021, foi homenageada pela Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), onde atuou durante décadas, com a publicação de uma coletânea com alguns dos principais trabalhos que produziu, entre artigos e relatórios de pesquisa.
O lançamento do livro "Anna Peliano: Uma Batalha Incansável contra a Fome, a Pobreza e a Desigualdade Social" ocorreu no evento Um Ano sem Anna Peliano - Memórias para Sempre, no dia 14 de junho, organizado pelo Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do IEA, do qual ela era coordenadora. [Clique aqui para baixar a versão digital da coletânea.]
A coletânea contém 11 capítulos, que incluem dez dos trabalhos mais conhecidos da socióloga (um de autoria individual e nove em parceria com outros pesquisadores) e um sobre ela, publicado logo depois de sua morte, em agosto de 2021, por uma de suas principais colaboradoras, Nathalie Beghin.
Os capítulos estão divididos em três partes. A primeira, chamada Retrospectiva, é constituída pelo Capítulo 1, “Lições da História – Avanços e Retrocessos na Trajetória das Políticas Públicas de Combate à Fome e à Pobreza no Brasil”, único de autoria exclusiva de Anna. Nesse texto, ela expressa sua “satisfação por ter contribuído para que o tema ganhasse espaço na agenda pública, mas, ao mesmo tempo, manifesta sua insatisfação pelas dificuldades enfrentadas para garantir que as coisas evoluíssem, nos quarenta anos em que esteve na vanguarda dessa batalha, segundo o organizador do livro, o sociólogo Fernando Rezende, viúvo de Anna e ex-diretor do Ipea.
O Capítulo 2, que abre a Parte 2 (Trajetória), é o de Nathalie Beghin sobre Anna e leva o título “Anna Peliano e as Políticas de Alimentação e Nutrição”. De acordo com Rezende, Nathalie “recorda os anos em que conviveu com Anna e apresenta um breve balanço do trabalho que acompanhou durante essa convivência, adicionando alguns pontos que, de certa forma, complementam a retrospectiva”.
A reconstituição histórica dos programas voltados à alimentação e à nutrição de 1990 a 1993 está no Capítulo 3, “Brasil: Os Programas Federais de Alimentação e Nutrição”, que Rezende considera um trabalho “ilustrativo das profundas transformações” pelas quais a área passou naquele período.
Ele recorda que a oportunidade de “dar um salto na direção daquilo que ambicionava” surgiu ainda na primeira metade dos anos 90, quando Anna produziu, com o apoio do então presidente da República, Itamar Franco, e da equipe do Ipea, o documento “O Mapa da Fome: Subsídios à Formulação de uma Política de Segurança Alimentar” (Capítulo 4). Esse trabalho indicou que não era a falta de alimentos que gerava a insegurança alimentar, mas sim as desigualdades econômicas e sociais que não permitiam que as famílias pobres conseguissem superar as dificuldades para uma alimentação adequada, segundo Rezende.
No mesmo período, ela coordenou dois trabalhos (Capítulos 5 e 6) de análise da atuação governamental em relação ao problema. Neles, ela chamou a atenção para a importância de uma maior mobilização da sociedade, “para dar suporte ao trabalho que os órgãos públicos precisavam fazer com vistas à obtenção de melhores resultados”, afirma Rezende.
Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, Anna foi secretária executiva do programa Comunidade Solidária, “afastando-se temporariamente da pesquisa aplicada para se envolver no tema de mobilização da sociedade”, comenta Rezende. A trajetória do programa, seus princípios, objetivos, arcabouço institucional e frentes de atuação estão descritos no Capítulo 7, “O Comunidade Solidária: Uma Estratégia de Combate à Fome e à Pobreza”.
Os Capítulos 8 e 9, iniciais da Parte 3, chamada Novas Fronteiras, tratam de duas pesquisas que ela realizou no segundo mandato de FHC, ao voltar ao Ipea. Essas pesquisas analisam a mobilização de empresas privadas, uma iniciativa “para compensar as dificuldades que o governo enfrentava para tomar medidas mais eficazes”, diz Rezende. A repercussão desses trabalhos estimulou-a a assumir a coordenação da pesquisa (Capítulo 10) sobre o investimento social corporativo no Brasil empreendida pela Comunitas, vinculada ao Centro Ruth Cardoso.
Rezende destaca o período de atuação de Anna (até sua morte) no Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do IEA, onde foi primeiro apenas integrante e depois coordenadora. Nele, ela teve a oportunidade de "combinar a pesquisa empírica com um grupo de pessoas que partilhavam seu compromisso com o tema". Uma amostra dessa combinação é o Capítulo 11, “A Família e o Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável", originalmente publicado na edição 97 da revista Estudos Avançados, em 2019.