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Lucia Santaella inicia atividades na Cátedra Oscar Sala

por Letícia Martins Tanaka - publicado 22/04/2021 15:30 - última modificação 26/04/2021 14:58

Primeira escolhida para ser titular na Cátedra Oscar Sala, a semioticista Lucia Santaella tomou posse no dia 16 de abril. A Cátedra é uma parceria entre o IEA e o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), no âmbito de convênio de cooperação firmado entre a USP e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) em agosto do ano passado. Tem a finalidade de fomentar, orientar e patrocinar o intercâmbio multidisciplinar entre os saberes de áreas diversas para fortalecer e cultivar o conhecimento sobre a internet, seu funcionamento, suas aplicações e suas ferramentas.

Perfil

Lucia Santaella é professora emérita da PUC-SP, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e coordena o Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital. Doutora em teoria literária pela PUC-SP e livre-docente em ciências da comunicação pela USP, ela realizou diversas pesquisas de pós-doutorado em universidades europeias e latino-americanas. Suas áreas mais recentes de pesquisa são: comunicação; semiótica cognitiva e computacional; inteligência artificial; estéticas tecnológicas; e filosofia e metodologia da ciência.

Segundo Santaella, as atividades a serem desenvolvidas sob a sua orientação têm o objetivo de “redefinir a inter, multi e transdisciplinaridade no contexto da Inteligência artificial e seus sucedâneos, em prol da defesa dos valores fundamentais da democracia, governança e segurança frente às ambivalências das redes e na busca de direcionamentos para a sustentabilidade em um mundo em crise”.

Para a semioticista, as tecnologias passam por mudanças, mas apresentam contínua aproximação com o humano, tornando-as cada vez mais complexas, sendo necessário investigar suas ambivalências. “A aceleração tecnológica em ritmo geométrico e o passo aritmético da capacidade de compreensão humana abriram um abismo de contradições, paradoxos e ambivalências. Avançam as simbioses humano-tecnologias enquanto as relações humano-humano patinam na desorientação ética e nos despropósitos morais, em um jogo de perdas e ganhos que sempre marcaram e agora intensificam não só as incertezas sobre o nosso destino”, afirmou em seu discurso de posse na Cátedra.

“Nosso investimento se dará pela entrada no jogo dos versos e reversos das ideias, apalpando, nesta nova simbiose, os riscos que não podem ser minimizados e os benefícios cujas nesgas de luz devem ser dilatadas. Em suma: mergulhar nas contradições para atiçar a potência do pensamento”, completou.

Na Cátedra, ela pretende selecionar cinco subtemas em contraponto. Cada um deles contará com convidados que colocam mais ênfase nos riscos e, de outro lado, os que levantam benefícios dessa simbiose entre tecnologia e o humano.

Sessão Solene

Marcada por palavras de elogio e esperança, a cerimônia online foi aberta pelo coordenador acadêmico da Cátedra Oscar Sala, o jornalista Eugênio Bucci. Ele afirmou que a presença de Lucia é uma vitória e uma motivação para a Cátedra. “Com todas essas inteligências de envergaduras históricas que estiveram conosco e ajudaram a gente a pensar a Cátedra, posso dizer que sentíamos falta de juventude, de frescor do espírito, de coragem intelectual.  Quem pode pensar as simbioses entre a tecnologia e o humano em fronteiras tão pouco conhecidas, nas profundas consequências da IA, o que há de governança e desgoverno nisso tudo? É assim que nossos pensamentos se dirigiam à figura de Lucia Santaella”, disse Bucci.

Lucia Santaella toma posse na Cátedra Oscar Sala
Da esquerda para direita, em linhas: Lucia Santaella; Eugênio Bucci; Guilherme Ary Plonski; vice-diretora do IEA Roseli de Deus Lopes; a mestre de cerimônia Silvia Bonassa; professora da USP Elizabeth Balbachevsky; Demi Getschko e Marcio Nobre Migon

O coordenador do CGI.br, Marcio Nobre Migon, ressaltou a trajetória de Santella, depositando confiança em suas ações como catedrática. “Em tempos de narrativas e contranarrativas, verdades mais ou menos críveis e falsidades mais ou menos bem engenheiradas, é muito benfazejo e traz uma esperança muito grande de tempos melhores e mais luz ter alguém com o currículo e a produção acadêmica de Lucia Santaella”, afirmou.

Para Demi Getschko, diretor presidente do NIC.br, a necessidade de  buscar respostas sobre as novas tecnologias e consequências leva às humanidades e à filosofia. “Essa abertura para essas novas áreas é uma sinalização muito importante para a Cátedra Oscar Sala, e quem entende de sinais é a semiótica. Então, obviamente, tendo alguém que é titular em semiótica para sinalizar para onde iremos, estaremos em ótimas mãos”, comentou.

O diretor do IEA Guilherme Ary Plonski deu as boas-vindas ao IEA para a catedrática e afirmou que suas atividades cumprirão o papel de ajudar a compreensão dos benefícios e malefícios das novas tecnologias. “Penso que estamos muito bem orientados para que possamos fazer um conjunto de atividades que sejam de reflexão e propositivas, com consequências de poder ajudar a sociedade mais ampla a compreender os vários lados e identificar de que maneira podemos aproveitar os aspectos positivos e mitigar riscos colossais”.

Plonski também ressaltou a relevância da Cátedra, uma vez que a desgovernança global ao lado obscuro da era digital coloca em risco a existência do mundo comum, junto com outras ameaças emergentes, como as tensões políticas e as mudanças climáticas.

Desejando sucesso à Cátedra, o reitor da USP Vahan Agopyan comentou sobre a importância do primeiro catedrático e das boas expectativas que a professora Santaella traz para as atividades. “O primeiro titular dá ritmo e a alma da cátedra. Fiquei muito satisfeito que meus colegas conseguiram envolvê-la nessa tarefa. Quando a primeira líder é uma pessoa que por si só já cria grande expectativa para a cátedra, nós somos felizes”, disse Vahan.