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Marco Antônio Tavares Coelho: militante político e defensor do patrimônio cultural e ambiental do Brasil

por Mauro Bellesa - publicado 23/12/2015 15:45 - última modificação 19/01/2016 08:47

Nota sobre a morte de Marco Antônio Tavares Coelho em 21 de novembro de 2015.
Marco Antônio Coelho Tavares - dezembro de 2006
Marco Antônio Tavares Coelho em dezembro de 2006, aos 80 anos, durante o lançamento da edição 54 da revista "Estudos Avançados", da qual foi editor executivo

No encerramento das atividades acadêmicas e administrativas de 2015, ano de grandes realizações e conquistas, das quais são exemplos a Intercontinental Academia, o Programa Ano Sabático e a reforma no processo de escolha de diretor e vice-diretor, o IEA não poderia deixar de registrar que este ano também será lembrado por um acontecimento que é causa de grande tristeza para a comunidade do Instituto: a morte do jornalista e escritor Marco Antônio Tavares Coelho, aos 89 anos, no dia 21 de novembro, em São Paulo, em decorrência de insuficiência renal.

Coelho foi um dos mais dedicados e versáteis colaboradores do IEA, onde ingressou em 1991 como assistente da Direção, tornando-se depois assistente acadêmico, cargo em que permaneceu até ter de se aposentar compulsoriamente em 1996, quando completou 70 anos.

No entanto, mesmo aposentado, ele continuou a colaborar com o Instituto, tornando-se editor executivo da revista "Estudos Avançados", função que desempenhou até 2009.

Coelho também atuou com entusiasmo como membro da então Área de Assuntos Internacionais. Seja como integrante dessa área, assistente acadêmico ou editor executivo da revista, são inumeráveis as suas contribuições ao IEA.

Elas incluem, entre outras atividades, a organização de conferências e seminários sobre diversos temas, edição de dossiês e realização de entrevistas com cientistas para a revista (com destaque para a produção do nº 22, dedicado aos 60 anos da USP) e até mesmo a captação de recursos que asseguraram a produção e a periodicidade de "Estudos Avançados" .

Capa do livro "Herança de um Sonho"
O primeiro dos seus quatro livros: a autobiografia "Herança de um Sonho — As Memórias de um Comunista", publicado em 2000

Mas falar de Coelho sem mencionar sua militância política é dizer muito pouco sobre ele. O jornalista era o último remanescente da cúpula de 1964 do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Quando do golpe militar, era deputado federal pelo estado da Guanabara. Teve seu mandato cassado e a única alternativa foi viver na clandestinidade. Mas no dia 14 de janeiro de 1975, no Rio de Janeiro, foi sequestrado por agentes da ditadura, preso e barbaramente torturado.

Solto em função da Anistia Política de 1979, voltou a atuar como jornalista, tendo trabalhado depois no CNPq e na USP. Ao longo de sua vida, atuou na imprensa do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiânia, além de escrever em publicações partidárias, mesmo quando na clandestinidade.

Foi logo depois da aposentadoria na USP que ele iniciou a atividade de escritor, primeiro com a autobiografia "Herança de um Sonho — As Memórias de um Comunista" (2000) e depois com três livros sobre rios de Minas Gerais: "Rio das Velhas — Memórias e Desafios" (2002), "Os Descaminhos do São Francisco" (2005) e "Rio Doce" (2012). Nos últimos anos, era o editor da revista "Política Democrática", da Fundação Astrogildo Pereira.

Capa do livro "Rio Doce"
O último livro, "Rio Doce", publicado em 2012

Em seu blog, o cientista político Marco Aurélio Nogueira afirmou que em Coelho se articulou "o defensor do patrimônio nacional com o militante comunista que jamais fez de suas convicções políticas e ideológicas um fator de distinção dogmática ou uma arma para discriminar e atacar adversários". Acrescentou que o jornalista foi "um político e um intelectual que soube ser comunista sem perder a perspectiva crítica, a tolerância e a ideia de que a democracia é não somente um valor universal, mas o caminho pelo qual se poderá construir um mundo melhor".

Roberto Freire, presidente do Partido Popular Socialista (PPS), divulgou nota no portal da agremiação sobre a morte de Coelho. Disse ser ele uma "cabeça lúcida e privilegiada que desde ainda jovem fez uma opção ideológica consequente e deixou uma marca exemplar na vida brasileira, sobretudo nos anos 1950/1970, na condição de cidadão simples e incorruptível, de advogado combativo, de escritor e jornalista dos mais competentes, de militante e um dos mais valorosos dirigentes partidários do PCB, de parlamentar federal dos mais argutos e de articulador político de altíssimo nível".

Foto: Mauro Bellesa/IEA-USP