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Ministro da Educação é sabatinado no "Roda Viva"

por Flávia Dourado - publicado 10/06/2015 16:30 - última modificação 10/08/2015 14:26

O ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, ex-conselheiro do IEA e coordenador do Grupo de Pesquisa O Futuro nos Interpela do Instituto, esteve no centro do programa "Roda Viva" desta semana.

Renato Janine RibeiroRenato Janine Ribeiro, ministro da Educação, foi o convidado do programa de entrevistas "Roda Viva", da TV Cultura, exibido no dia 8 de junho, quando anunciou oficialmente que haverá uma nova chamada para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) ainda neste ano (veja o vídeo).

Janine, que é ex-conselheiro do IEA e coordenador do Grupo de Pesquisa O Futuro nos Interpela do Instituto, afirmou que o número de vagas ainda será definido, mas já se sabe que os critérios para concessão do benefício serão diferentes.

Um dos objetivos das mudanças, de acordo com ele, é garantir que o programa contribua para a inclusão social da população de baixa renda. "Vamos mexer na renda. Hoje, é de até 20 salários mínimos, então famílias com renda de R$ 14 mil podem participar."

Além disso, destacou que o Fies vai priorizar cursos em três áreas estratégicas para o país: formação de professores, engenharias e saúde. "Também vamos dar prioridade ao Norte e ao Nordeste e aos cursos de nota mais alta", observou.

Pátria educadora

Indagado sobre o sentido do slogan do governo federal "Pátria Educadora", Janine respondeu que a ideia não é se gabar por educar bem. "O governo sabe que há dados preocupantes na educação, que nós temos muito a fazer. O slogan não é ufanista, é um slogan de trabalho, que abrange muita coisa. Abrange a ideia de uma sociedade mais educada, uma sociedade que se eduque, que respeite mais o outro. É todo um projeto de civilização", disse.

Janine também comentou a redução de mais de R$ 9 bilhões no orçamento do Ministério da Educação (MEC): "O corte de verbas é real, não dá para fingir que não houve. O Brasil está com uma dificuldade econômica".

Para ele, o momento requer debate e reflexão: "Vamos aproveitar esse ano, de dificuldades orçamentárias, para discutir muito e aprimorar os instrumentos que nós temos", arrematou.

O ministro ponderou que é preciso lembrar das falhas da educação brasileira, mas sem esquecer dos inúmeros exemplos de ações efetivas. De acordo com ele, usar apenas adjetivos negativos para qualificar todo o sistema, sem reconhecer os progressos, inibe a ação.

"Por isso os indicadores são tão importantes. É importante você saber que escola está bem, que escola avançou, porque avançou, detectar onde está o problema e, onde há problemas, tentar resolvê-los".

Ensino Médio

Em relação à qualidade do ensino médio, Janine afirmou que é preciso conter a alta taxa de evasão de estudantes. "Temos que conquistar melhor os alunos, investir na educação continuada de professores e fortalecer o ensino."

Um dos caminhos para isso, destacou, é estimular atividades curriculares que envolvam professores de várias disciplinas: "Quando existe uma programação conjunta, o ensino médio avança mais".

Outra saída apontada por Janine para melhoria da qualidade do ensino foi a valorização dos professores. Para o ministro, isso passa pelo aumento dos salários — "tem que ser um compromisso da sociedade brasileira" —, mas não pela oferta de bônus por desempenho.

Na avaliação dele, esse tipo de medida pode criar uma competição destrutiva e dificultar o diálogo entre as diversas disciplinas na articulação de novos currículos. "O bônus por desempenho colide com a ideia de formar times, equipes de professores", afirmou, fazendo alusão à sua experiência como diretor de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cargo que ocupou de 2004 a 2008.

Ele enfatizou, ainda, a necessidade de discutir a carreira. "Qual o melhor modelo? Começar com um salário inicial baixo, com a expectativa de aposentadoria com um salário mais alto, ou oferecer um salário inicial mais alto, mesmo que no final não se tenha um aumento muito grande?"

Janine lembrou que a atuação do governo federal nessa esfera é limitada, uma vez que o ensino fundamental e médio é uma incumbência constitucional dos estados e municípios. "O governo federal tem que trabalhar muito na educação básica, mas não podemos substituir estados e municípios. Temos que trabalhar sempre alinhados com eles", explicou.

Debate político

Questionando sobre como a educação pode contribuir para a qualificação do debate político no Brasil, atualmente marcado pela polarização entre PT e PSDB, Janine destacou que nos últimos anos os ânimos ficaram muito exaltados e que essa radicalização pode ser combatida com a ajuda de uma formação voltada para o respeito à diferença.

"Precisamos diminuir o fogo dessa brasa. Isso é educação: respeitar o outro. Educação até no sentido das boas formas de tratar o outro", disse. "Precisamos nos desapaixonar um pouco. E penso que a educação pode ser uma área para isso", completou.

Entrevistadores

Liderada por Augusto Nunes, a bancada de entrevistadores desta edição do "Roda Viva" contou com a participação de Guiomar Namo de Mello, educadora e membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo; Maria Helena Castro, socióloga e diretora-executiva da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade); João Gabriel de Lima, diretor de redação da revista Época; Fábio Takahashi, repórter do jornal Folha de S. Paulo; e Paulo Saldaña, repórter do jornal O Estado de S. Paulo.

Foto: Sandra Codo/IEA-USP