Monumentos refletem relação das sociedades com o passado
A destruição de monumentos ligados a memórias dolorosas, como a escravidão, voltou a ser discutida após protestos do Movimento Black Lives Matter (em português, Vidas Negras Importam). O USP Analisa está debatendo esse tema em uma série especial que apresenta, nesta semana, sua segunda parte. A conversa será com a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Giselle Beiguelman, o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro Alberto Goyena e o especialista do Centro de Preservação Cultural da USP Gabriel Fernandes.
Alberto destaca que os monumentos têm um papel muito importante porque mostram como cada sociedade se relaciona com o passado e com a ideia de patrimônio. “São pontos de encontro, marcos referenciais de locomoção das pessoas na cidade, então também lugares às vezes ditos abandonados, mas abandonados para quem? Que usos esses monumentos podem ter para além da sua função pragmática pedagógica que talvez um dia foi escrita sobre ele?”, questiona o pesquisador.
Uma das possibilidades em relação a monumentos ligados a memórias traumáticas discutida pelos entrevistados é que eles sejam retirados das ruas e levados a museus. Segundo Gisele, é preciso assumir que as “memórias da barbárie” também constituem nossa história cultural.
“É o nosso problema com os monumentos aos bandeirantes. A eleição da figura do bandeirante como a figura de construção da identidade paulista em um determinado contexto histórico faz parte da nossa memória. Portanto, simplesmente pôr um fim nesses monumentos nos deixa com uma lacuna essencial para compreender as nossas contradições. A curadoria de monumentos atua no sentido de, por um lado, tensionar essa memória da barbárie e, por outro, preservar grupos que foram vítimas desses processos em alguns casos ou que de alguma maneira se sentem agredidos pela presença desses marcos no espaço urbano. Então é uma solução em termos de se refazer ou de recontar a história da barbárie sem abstrair que ela é parte constitutiva da nossa memória e do nosso patrimônio”, afirma a professora.
O segundo programa da série, que conta com a parceria do Centro de Preservação Cultural da USP, vai ao ar nesta quarta (2), a partir das 18h05, com reapresentação no domingo (6), a partir das 11h30. Ele também pode ser ouvido pelas plataformas de streaming iTunes e Spotify.
O USP Analisa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o programa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram.