Mostra de trabalhos dá a alunos experiência de congresso científico
Um friozinho na barriga tomou conta de treze alunos de ensino médio no dia 26 de novembro, em pleno saguão da Biblioteca Achille Bassi, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos. Após sete meses imersos em experimentos, palestras e passeios do Clube de Ciências Digital Interativo, os estudantes tiveram o desafio de apresentar os trabalhos finais propostos por eles para o encerramento das atividades.
O Clube é fruto de uma parceria entre o Instituto de Estudos Avançados (IEA) Polo São Carlos e o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Software Livre (NAP-SoL), com sede no ICMC-USP. A coordenação é da docente do ICMC Ellen Francine Barbosa.
Divididos em seis grupos, os participantes tiveram três semanas para propor um tema, pesquisar, reproduzir um experimento e criar um pôster explicativo sobre ele, semelhante à apresentação em congressos científicos. Eles tiveram o apoio dos alunos do curso de Licenciatura em Ciências Exatas da USP Rafaela Masson e Gevair Norberto de Souza, mas a maior parte do trabalho foi por conta própria. “Eles fizeram toda a pesquisa sozinhos, procuramos não interferir porque a ideia do Clube é que as atividades sejam feitas de forma investigativa”, explica Rafaela.
Além de explicarem os resultados dos trabalhos para quem passava pelo saguão da Biblioteca, os estudantes foram avaliados por um grupo de cinco convidados, entre eles estudantes de graduação, um doutorando e um educador. “É uma iniciativa legal porque, apesar do receio deles, vemos que estão empolgados com a apresentação e querem mostrar os resultados”, diz o estudante de Licenciatura em Ciências Exatas Paulo Henrique Chiari, um dos avaliadores.
“O interessante é que um mesmo experimento pode explicar vários conceitos, como densidade e polaridade. Embora eles não utilizem termos científicos, por não ser de seu cotidiano, cada um consegue dar a definição com suas próprias palavras. Além disso, é importante que esses alunos comecem a ter contato logo cedo com a rotina e a pressão de uma apresentação de trabalho que vemos somente na graduação”, lembra a estudante de Licenciatura em Ciências Exatas Patrícia Fernanda Rossi, que também avaliou os participantes do Clube.
Para quem estava na berlinda, a experiência foi válida. “Assim, quando tivermos que apresentar um trabalho nesses moldes, já vamos estar preparados”, diz a aluna do 1º ano do ensino médio da ETEC Paulino Botelho Bianca Oliveira Pessa, uma das participantes do Clube.
O melhor trabalho escolhido pelos avaliadores foi o do grupo formado pelos estudantes Helena Cristine de Medeiros, da ETEC Paulino Botelho, Letícia Felice Olaia, da Escola Estadual Jesuíno de Arruda, e Roberto Luiz Masson, da Escola Estadual Dr. Álvaro Guião. Utilizando uma garrafa pet, água, um secador de cabelos e papel toalha, eles montaram uma espécie de “máquina de fumar” e mostraram os malefícios causados pelo cigarro na saúde do homem.
Contato com a universidade
Além de proporcionar aos alunos de ensino médio de escolas públicas um melhor entendimento de conteúdos de ciências exatas a partir da realização de atividades práticas investigativas, o Clube contribuiu para que eles convivessem com o ambiente acadêmico antes mesmo de entrar na universidade. Todos os encontros, com exceção das visitas a museus e centros de ciências, eram realizadas no campus 1 da USP, em São Carlos, e eles também tinham palestras com docentes sobre o desenvolvimento de pesquisas.
“Sempre admirei universidade como a USP e a UFSCar, e poder trabalhar aqui dentro foi muito legal. Eu já gostava de Ciências Exatas e queria seguir carreira nessa área, mas não esperava que pudesse ser selecionada para um Clube como esse”, conta a estudante do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Dr. Álvaro Guião Rebecca Gaetani Alvarez.
Para Bianca, que também quer seguir carreira na área de Exatas, a oportunidade ajudou no esclarecimento da família sobre o curso de graduação que deseja fazer. “Desde pequena, eu pedia minilaboratórios de Natal, mas minha mãe não achava que eu quisesse seguir carreira nessa área. Ela me colocou em balé, teatro e sempre quis que eu fizesse Direito porque, para ela, Química não dava dinheiro. Depois que entrei no Clube, passei a contar para ela tudo o que víamos e fazíamos durante as atividades e acho que estou conseguindo convencê-la a aceitar minha escolha”, diz a estudante.