Pesquisadores discutem relação entre mudanças climáticas e pandemia e medidas para evitar o surgimento de novas doenças
Um ano após o surgimento do primeiro caso de Covid-19 na China, pesquisadores brasileiros se reunirão virtualmente no dia 4 de dezembro, às 14h, para discutir o que deve ser feito a fim de evitar que novas doenças surjam e se propaguem com a velocidade e gravidade do coronavírus. Certos de que há uma relação entre epidemias e mudanças climáticas, eles aproveitarão o lançamento mundial do relatório Lancet Countdown de 2020 para demonstrar como se dá a conexão entre os problemas com o clima e o surgimento de doenças infecciosas. O IEA transmitirá o evento ao vivo em seu site e canal do YouTube.
Lançamentos anteriores do Lancet Countdown no IEA |
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2018: Países mais pobres são os mais afetados por mudanças climáticas e poluição |
O webinar Mudanças Climáticas e a Pandemia: Quais Decisões Devemos Tomar Agora para o Futuro? terá a participação dos pesquisadores Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden); Sandra Hacon, da Fundação Oswaldo Cruz; Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP e do IEA; e Mayara Floss, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Também participará Alice McGushin, representante da revista The Lancet, que apresentará o relatório 2020 da publicação, simultaneamente aos lançamentos internacionais.
Clima e pandemias
De acordo com os organizadores do seminário, cerca de 70% a 80% das doenças infecciosas emergentes, e quase todas as pandemias recentes, são originárias de animais, a maioria na vida selvagem. O surgimento decorre de complexas interações entre animais selvagens e/ou domésticos e humanos. “O dito efeito de spillover ou transbordamento, que supostamente aconteceu com o SARSCOV-2, está provavelmente relacionado à proximidade entre pessoas e espécies silvestres portadoras de múltiplas variedades de coronavírus, e com a diminuição da biodiversidade”, explica a médica Mayara Floss. Durante o seminário, os pesquisadores discutirão como o maior contato com a biodiversidade no Brasil, resultante em parte do desmatamento, pode ser responsável por essa situação de proximidade e "transbordamento", levando ao surgimento de doenças inéditas por aqui.
“O surgimento de novas epidemias e pandemias infectocontagiosas parece estar se intensificando em associação à grande aceleração do período Antropoceno e com a transformação dos determinantes socioambientais da saúde”, avalia Antonio Saraiva, coordenador do Grupo de Estudos Saúde Planetária do IEA e que organiza o encontro. Apoiam a atividade o Cemaden, a Fiocruz e a SBMFC.
O relatório da The Lancet
The Lancet Countdown: Tracking Progress on Health and Climate Change é uma colaboração de pesquisa internacional que fornece uma visão global da relação entre saúde pública e mudança climática. A revista científica rastreia a resposta do mundo às mudanças climáticas e os benefícios para a saúde que emergem dessa transição. Em 2018 e 2019, foram publicadas as recomendações para políticas públicas do Brasil. Este ano, o relatório mundial, que também traz dados brasileiros, fará também o recorte da pandemia e das decisões que precisam ser tomadas agora para o futuro.
Os dados do Lancet Countdown ajudam a balizar as principais decisões políticas a respeito das mudanças climáticas baseadas em evidências científicas. Nos relatórios dos anos anteriores, havia recomendações políticas e alertas sobre a capacidade de trabalho, doenças transmitidas por vetores e segurança. Também estava claro, nos textos de 2019, a necessidade de parar completamente a produção de carvão para a proteção da saúde humana, tanto no Brasil quando em todo o mundo.
“Já foi demonstrado que a poluição do ar está intimamente relacionada à infecção respiratória causada por outros microorganismos. As partículas finas com diâmetro de 2,5 micrômetros ou menos (PM2,5), 10 micrômetros ou menos (PM10), dióxido de enxofre (SO₂), dióxido de nitrogênio (NO₂), monóxido de carbono (CO) e ozônio (O₃) afetam as vias aéreas através de inalação e, sabidamente, causam aumento de morbimortalidade por pneumonias em crianças menores de 5 anos e pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC, e asma”, explica Mayara.
Saraiva e Mayara lembram que em 2020 o Brasil registrou um aumento nas queimadas e incêndios nos principais biomas e que, em final de setembro e começo de outubro, diversas ondas de calor afetaram o país. “As tendências nos impactos, exposições e vulnerabilidades das mudanças climáticas demonstram um nível de risco inaceitavelmente alto para a saúde atual e futura das populações em todo o mundo, chamando isso também de emergência climática”, afirma Mayara. Para ela, a falta de progresso na redução de emissões e na construção de capacidade adaptativa ameaça tanto as vidas humanas quanto a viabilidade dos sistemas nacionais de saúde, já sobrecarregados com a pandemia.