Observatório lança videocurso sobre gestão da inovação
Mario Salerno, coordenador do OIC, apresenta o videocurso "Gestão da Inovação" |
Empresas interessadas em inovar contam agora com um novo recurso online e gratuito. Em maio, o Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação (Nagi) lançou o videocurso "Gestão da Inovação", iniciativa que visa a capacitar as empresas brasileiras na implantação e no aprimoramento de sistemas de gestão da inovação.
Os objetivos e a estrutura do videocurso foram apresentados por Mario Salerno, coordenador geral do Nagi e do Grupo de Pesquisa Observatório da Inovação e Competitividade (OIC) do IEA, em evento de lançamento realizado pelo Instituto no dia 15 de maio.
De acordo com ele, que é também professor titular do Departamento de Engenharia da Produção da Escola Politécnica (Poli) da USP, os 64 vídeos que compõem o curso abordam métodos, ferramentas e modelos para elaborar, introduzir, organizar ou transformar os processos de gestão da inovação de empresas.
O professor afirmou que o conteúdo é apresentado em formatos diversos, que incluem aulas didáticas sobre os principais temas e conceitos-chave, além de palestras e entrevistas nas quais gestores, agentes de inovação, empreendedores, representantes de fundos de investimento e consultores falam sobre suas experiências.
Aulas, palestras e entrevistas são divididas em 11 blocos temáticos:
- Introdução à gestão da inovação
- Estratégia e tecnologia
- Ecossistema de inovação
- Cadeia de valor da Inovação
- Cadeia de valor da inovação – Conversão I
- Cadeia de valor da inovação – Conversão II
- Cadeia de valor da inovação – Difusão
- Organizando para inovar
- Inovando mais e mais radicalmente
- Organizando para inovar mais radicalmente
- Empreendedorismo tecnológico de alto impacto
Entre os tópicos explorados nos blocos estão: como inovar pela primeira vez; tipos de inovação; liderança, estratégias de negócios e indicadores de desempenho; planejamento e gestão tecnológica; propriedade intelectual; estabelecimento de parcerias; criatividade, geração de ideias e design thinking; estruturação e gerenciamento de portfólios; desenvolvimento de produtos; estratégias de marketing e introdução de novos produtos no mercado; inovação radical e sistemática; projeto organizacional e gestão por competência; enfoques para lidar com a incerteza; e startups tecnológicas.
Projeto Nagi
O videocurso foi produzido com recursos do Nagi — projeto financiado pela Agência Brasileira de Inovação (Finep) e realizado em convênio com a USP no âmbito do Programa Nacional de Sensibilização e Mobilização para Inovação (Pró-Inova) e da Mobilização Empresarial para a Inovação (MEI).
Salerno comentou que a ideia do projeto é contribuir para a melhoria do sistema brasileiro de gestão da inovação e aumentar a competitividade das empresas por meio da oferta de cursos presenciais e online de curta e média duração, caso do videocurso, bem como de assessoria na preparação de diagnósticos de empresas e na elaboração de planos e projetos de ação.
Rodrigo Fonseca, da Finep, comenta a atuação do Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação |
Segundo Rodrigo Rodrigues da Fonseca, diretor da Diretoria de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep, o objetivo central da chamada pública que contemplou o projeto era "preencher as lacunas do nosso sistema de inovação de forma a transformar conhecimento em inovação e bem-estar".
Para ele, que atuou como debatedor do encontro de lançamento do videocurso, o Nagi conseguiu atingir as metas estabelecidas no edital: atendimento às empresas, produção e divulgação do conhecimento, formação de pessoas e, principalmente, sistematização das empresas em torno de três segmentos, a qual apontou como uma das grandes contribuições do projeto: "Descobrimos que há três tipo de empresas", observou.
Segmentação
Na avaliação de Salerno, essa segmentação mostra-se fundamental porque os cursos presenciais foram pensados de forma a respeitar as particularidades dos diversos perfis empresariais. De acordo com ele, antes de dar início ao trabalho do Nagi, acreditava-se que as empresas eram todas iguais, mas logo notou-se que variavam muito segundo o grau de maturidade do sistema de gestão da inovação. Por isso, foram desenvolvidos cursos para cada um dos segmentos identificados, levando-se em consideração, ainda, as subdivisões de cada grupo homogêneo.
O primeiro grupo compreende empresas nascentes com base tecnológica, como spin offs e startups, que podem estar em três estágios, conforme destacou Salerno: sem ação (têm uma ideia e o financiamento, mas não conseguiram desenvolver nada); sem um mínimo produto viável (não dispõem de um protótipo); e com mínimo produto viável.
O segundo é composto por empresas estabelecidas de médio e grande porte que querem inovar e não sabem como, que inovam de forma assistemática ou que inovam sem processo de inovação incremental. De acordo com Salerno, no caso dessas empresas, os esforços se concentram em localizar o elo fraco da cadeia de inovação para, então, melhorá-lo.
"Nosso conselho para essas empresas é: copiem! Mas de forma melhor. Copiem com atributos, incrementando recursos", observou. Ele advertiu que o processo de inovação incremental é tão importante porque a empresa que está sendo copiada não fica parada e também investe no aperfeiçoamento. "Quando você lançar, ele já estará lá na frente."
O terceiro e último segmento, por sua vez, é formado por empresas que já possuem um sistema de gestão da inovação estabelecido, mas que inovam radicalmente de forma assistemática.
Assim como os cursos, os diagnósticos do Nagi também são feitos caso a caso: "O consultor trabalha a partir de contingências específicas da empresa para fazer o diagnóstico e elaborar o plano de ação", explicou Salerno. "Não tratamos empresas diferentes de forma igual. Tratamos empresas diferentes de forma diferente", completou, lembrando que este é o grande diferencial do Nagi no assessoramento das 80 empresas atendidas pelo projeto.
Inovação no Brasil
Após a apresentação do videocurso, Salerno e Fonseca debateram o sistema de inovação brasileiro.
"O principal problema do Brasil é a dificuldade de dar continuidade a políticas públicas. Essa é uma das grandes falhas da política de inovação e tecnologia do país: manter o apoio e continuar com o que deu certo", avaliou Fonseca.
Mario Salerno e Rodrigo Fonseca debatem o sistema de inovação brasileiro |
Já Salerno criticou as políticas voltadas para a criação de novos negócios no Brasil: "Nosso ecossistema empreendedor ainda é frágil; as empresas iniciantes têm dificuldade de se articular umas com as outras", afirmou.
Na opinião do professor, os órgãos de fomento deveriam repensar as contrapartidas que exigem das empresas que apoiam em termos de propriedade intelectual e de receita.
"Não vejo sentindo na Fapesp pedir participação no faturamento de uma empresa nascente. A única coisa que uma empresa nascente não tem é faturamento", disse. "A empresa vai ressarcir de outra forma quando crescer: pagando impostos e gerando empregos. Deixa ela faturar e depois a gente cobra imposto", completou.
Sobre o tema, Fonseca disse que "a Finep tem a melhor política de propriedade intelectual entre as agências de fomento: nenhuma". Ele ressaltou que os resultados nem sempre são imediatos e, por isso, o sistema de fomento deve dar espaço para que os empreendedores falhem e aprendam com os erros.
"Às vezes a empresa não dá certo na primeira rodada, não dá certo na segunda, nem na terceira. A estatística é que um cara quebra quatro empresas antes que uma dê certo. O resultado pode não acontecer naquela vez, mas o aprendizado daquela falha vai levar ao acerto na próxima empresa que o cara montar", comentou, lembrando que a experiência adquirida também pode ser levada para outras instituições nas quais o empreendedor for trabalhar, como centros de pesquisa e o próprio governo.
Fotos: Leonor Calasans/IEA-USP