Ciclo de conferências trata da necessidade da pesquisa multiestratégica
A metodologia da pesquisa em agroecologia se beneficia do diálogo entre pesquisa multiestratégica e saberes tradicionais, segundo Hugh Lacey |
As características e possibilidades da pesquisa multiestratégica serão analisadas em um ciclo em abril e maio organizado pelo Grupo de Pesquisa Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia.
As três conferências do ciclo Sobre a Necessidade da Pesquisa Multiestratégica acontecerão no IEA, com transmissão ao vivo pela internet. Para participar presencialmente é preciso realizar inscrição prévia [veja abaixo].
Proposta pelo filósofo Hugh Lacey, integrante do grupo e professor emérito do Swarthmore College, dos EUA, a pesquisa multiestratégica pressupõe uma abordagem alternativa à forma de fazer pesquisa predominante. A esta ele chama de tecnociência comercialmente-orientada, caracterizada pela prioridade dada à produção de inovações tecnológicas voltada ao crescimento econômico a aos valores a ele relacionados.
Pablo Mariconda, coordenador do grupo e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, apresentará a primeira conferência - Tecnociência Comercialmente Orientada e a Necessidade de Pesquisa Multiestratégica -, no dia 10 de abril, às 14h30. Ele discutirá as principais funções desempenhadas pelas estratégias de pesquisa e suas relações com os valores de imparcialidade, neutralidade cognitiva e objetividade, detendo-se particularmente no valor de neutralidade de aplicação.
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A partir disso, tratará da hegemonia das estratégias descontextualizadas e apresentará o circuito de pesquisa por elas permitido, bem como a concepção de pesquisa que incorporam. Discutirá ainda os limites dessas estratégias e a necessidade de estratégias de contextualização, sua função e a concepção de pesquisa que pressupõem. Na parte final, Mariconda apresentará uma agenda de pesquisa multiestratégica em seis direções e levantará questões direcionadas às instituições e organizações de pesquisa.
As outras duas conferências serão feitas por Lacey, que vai explorar as implicações da pesquisa multiestratégica. No dia 19 de abril, às 14h, o tema será O Diálogo entre a Pesquisa Multiestratégica e os Saberes Tradicionais; no dia 10 de maio, às 14h, ele falará sobre A Democracia e a Pesquisa Multiestratégica.
Na primeira, Lacey pretende explorar a possibilidade de diálogo entre a ciência moderna (entendida em termos de pesquisa multiestratégica) e os saberes tradicionais/indígenas. Ele exemplifica a importância dessa relação com a relevância desse diálogo para as metodologias da pesquisa em agroecologia.
De acordo com ele, a discussão sobre essa possibilidade depende da análise da pesquisa multiestratégica; da distinção entre as estratégias descontextualizadoras e aquelas sensíveis ao contexto; e especialmente de três teses: há relações de reforço mútuo entre a adoção de uma estratégia e a sustentação de valores éticos e sociais particulares; há limites ao alcance dos objetos (e tipos dos objetos) que podem ser investigados sob qualquer estratégia; estratégias diferentes desempenham papeis complementares na pesquisa.
Na segunda conferência, Lacey discutirá como a ciência moderna e os valores afirmados por ela podem contribuir para o fortalecimento da democracia. As respostas a essa questão dependem de como a democracia e a ciência são entendidas, afirma o filósofo. Ele desenvolverá sua argumentação a partir dos conceitos de democracia representativa e democracia participativa e dos dois tipos de concepções de ciência: a ciência descontextualizada (que incorpora a ciência básica e a tecnociência, inclusive a tecnociência comercialmente orientada) e a pesquisa multiestratégica.