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A ciência e o sentido da vida numa época de desencanto

por Flávia Dourado - publicado 03/04/2014 10:20 - última modificação 08/09/2015 12:16

No dia 8 de abril, às 09h30, acontece no IEA o seminário A Ciência e o Politeísmo de Valores, com exposição de Bernardo Sorj, professor visitante do Instituto.
Bernardo Sorj
Bernardo Sorj: cabe ao indivíduo "o direito e a responsabilidade de escolher entre crenças e valores muitas vezes conflitantes e excludentes"

A formação do mundo moderno está associada ao processo de secularização, que muito deve ao desenvolvimento científico e tecnológico dos últimos séculos. No entanto, se a racionalidade levou a uma profunda transformação da sociedade, onde a liberdade substituiu os dogmas e certezas anteriormente proporcionadas pela imersão da cultura e do poder em crenças religiosas, ela levou também a um sentimento de relativização de valores. A consequência parece ser um mundo onde o sentido da vida ficou fragilizado e o individualismo, o utilitarismo e o consumismo não deixam espaço para a procura de transcendência.

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Esse diagnóstico da atualidade é o ponto de partida do seminário A Ciência e o Politeísmo de Valores, que o IEA-USP realiza no dia 8 de abril, às 9h30. Entre os temas a serem analisados no encontro estão o lugar da ciência e da religião nesse universo plural, os desafios que o pluralismo de valores coloca num mundo globalizado e a posição da cultura brasileira nesse contexto.  Trata-se do evento de abertura do ciclo Em Busca do Sentido Perdido: Diálogos Interdisciplinares sobre Ciência e Transcendência.

O expositor será o sociólogo Bernardo Sorj, professor titular aposentado da UFRJ e professor visitante do IEA-USP. Os debatedores serão: Alfredo Bosi, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e editor da revista "Estudos Avançados", e Enrique Larreta, diretor do Instituto de Pluralismo Cultural (IPC) da Universidade Cândido Mendes (UCM). A moderação ficará a cargo de Martin Grossmann, diretor do IEA.

Segundo Sorj, as ideologias políticas da modernidade — como o liberalismo iluminista,  o fascismo, o comunismo e o nacionalismo — mantiveram do monoteísmo religioso a noção de que os valores podem ser organizados em torno de princípios universais e que existe uma única verdade. Com o declínio das “religiões seculares”, surge um mundo de “politeísmo de valores, que transfere ao indivíduo o direito e a responsabilidade de escolher entre crenças e valores muitas vezes conflitantes e excludentes”.

Esse politeísmo de valores é a principal característica da atualidade, na opinião de Sorj, para quem "o desafio das sociedades democráticas é o de assumir essa situação, completando o processo de secularização iniciado no Renascimento".

Gratuito, aberto ao público e sem necessidade de inscrição, o evento terá transmissão ao vivo pela web. A Sala de Eventos do IEA-USP fica na rua Praça do Relógio, 109, bloco K, 5º andar (localização). Para mais informações, envie mensagem para sedini@usp.br.

CICLO

O ciclo Em Busca do Sentido Perdido: Diálogos Interdisciplinares sobre Ciência e Transcendência, coordenado por Sorj, terá quatro encontros. O objetivo é tratar das mudanças ocasionadas pelo declínio das grandes ideologias políticas e discutir a produção de sentido nesse novo contexto sociocultural.

De acordo com Sorj, nesse contexto, o cotidiano é invadido pelas preocupações imediatas de sucesso, status e consumo, por meios de comunicação que transmitem uma enxurrada de informações imediatistas que se esgotam em si mesmas e por laços sociais transferidos para redes sociais, nas quais a quantidade substitui a densidade.

"Vivemos num mundo no qual a tecnologia permeia cada passo de nossas vidas, mas não entendemos como ela funciona; a comunicação é onipresente, mas seu conteúdo é raso; o tempo se esgota no presente e na insegurança sobre o que o futuro trará; e a procura da felicidade eliminou o sofrimento da vida coletiva para ser entregue nas mãos de terapeutas e fármacos", acrescenta o sociólogo.

Com foco nesse panorama de transformações, o ciclo se concentrará em algumas questões-chave: qual é o papel da universidade e do conhecimento científico neste cenário? existe um novo ponto de encontro entre as ciências naturais e as humanas? há espaço para um diálogo entre produtores de conhecimento científico e outras áreas que refletem sobre a condição humana? como o local e o global interagem e produzem novas sínteses culturais?