Rouanet e Barbara Freitag questionam o 'prazer desinteressado' da arte
O público e a "Mona Lisa" no Museu do Louvre |
De acordo com a teoria da arte de Kant, expressa em sua "Crítica do Juízo" (1790), a avaliação estética de uma obra de arte é desprovida de qualquer desejo por parte do sujeito que a contempla, com a obra não cumprindo nenhuma função prática, utilitária, nem atendendo à busca de conhecimento ou se subordinando a preceitos morais. Ele chama isso de “prazer desinteressado”. Mas seria esse prazer possível com a reprodutibilidade técnica da obra de arte e sua consequente massificação e mercantilização?
Essa questão será discutida no seminário O Prazer Desinteressado da Arte? De Kant à Cultura Pós-Aurática de Walter Benjamin, no dia 15 de agosto, às 14h30, na Sala de Eventos do IEA, com transmissão ao vivo pela web. Os conferencistas serão o sociólogo e filósofo Sérgio Paulo Rouanet e a socióloga Barbara Freitag.
O evento terá como debatedores Cremilda Medina e Martin Grossmann (ex-diretor do IEA e coordenador da cátedra), ambos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Willi Bolle, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e Jeanne Marie Gagnebin, da Unicamp e da PUC-SP.
A atividade é organizada pela pela Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência (da qual Rouanet é o primeiro titular), fruto de parceria entre o IEA e o Itaú Cultural.
A nova aura
Rouanet e Barbara partirão de uma reflexão sobre a teoria kantiana da arte para em seguida abordar a teoria de Walter Benjamin (1892-1940) sobre a perda e recuperação da aura na era da reprodutibilidade técnica da obra de arte.
Sérgio Paulo Rouanet e Barbara Freitag durante visita ao IEA em 2015 |
No livro "Édipo e o Anjo: Itinerários Freudianos em Walter Benjamin", publicado em 1981, Rouanet comenta que, para Benjamin, a obra de arte clássica, derivada historicamente da tradição religiosa, partilhava com o objeto de culto a característica de ser única, irreprodutível, autêntica e intocável: "A característica temporal da aura é sua unicidade e sua característica espacial é a distância". Assim, nas palavras de Benjamin, a aura "é o aparecimento único de um objeto distante, por mais próximo que esteja".
RelacionadoOutros eventos da 15 de agosto, 9h30 17 de agosto, 9h
Inauguração da A Modernidade e suas Ambivalências Midiateca |
Com a multiplicação dos meios de reprodução técnica, sobretudo a partir do advento da fotografia, essa estrutura espaço-temporal da obra de arte se modifica, lembra Rouanet: "Reprodutível ao infinito, ela deixa de ser única, e pode, ao mesmo tempo, ser tocada pelo observador, deixando de ser longínqua. A arte perde sua aura".
Ainda em "Édipo e o Anjo", Rouanet destaca que, "se a aura da grande arte desaparece, não é para ceder lugar à ação libertadora das massas, e sim para abrir um espaço onde se instala uma nova aura: a da mercadoria, cujo fetichismo suscita no consumidor uma atitude incomparavelmente mais alienante que a arte baseada no ritual".
O evento ocorrerá na Sala de Eventos do IEA. Os interessados devem fazer inscrição prévia. Quem não puder comparecer poderá assistir ao seminário ao vivo pela internet. Na manhã do mesmo dia haverá um encontro com Rouanet no IEA aberto apenas a artistas e acadêmicos convidados. À noite, a partir das 19h30, haverá uma conversa entre Rouanet e convidados (Alfredo Bosi, Oswaldo Giocoia Jr., Wilson Levy e Luiz Paulo Rouanet) na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (avenida Paulista, 2.073), ocasião em que será lançado o livro "Rouanet 80 Anos", que reúne as discussões de congresso ocorrido em 2014 em homenagem ao ensaísta.
Fotos (a partir do alto): Pixabay; Cecília Bastos/Agência USP