Suzana Herculano-Houzel propõe nova teoria para a evolução humana
Na conferência de encerramento do ciclo 2023-2024 da Cátedra Otávio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade, a neurocientista e titular da cátedra Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Vanderbilt, EUA, apresentou sua teoria da evolução humana, contrária à concepção tradicional baseada na seleção natural. Com o título “Uma Nova Estória para a Evolução Humana Feita de Oportunidades, não Seleção”, o evento online foi transmitido pelo IEA no dia 7 de maio e contou com a participação de André Chaves de Melo, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, e Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha de S.Paulo, parceira do IEA na cátedra.
A proposta da pesquisadora explica a evolução humana a partir da disponibilidade de oportunidades. Contestando a teoria evolucionista de Darwin, na qual o ambiente pressiona e seleciona os mais aptos a sobreviver, Suzana afirmou que a história da evolução humana tem a ver com o aumento do número de neurônios no córtex cerebral, possível por conta das oportunidades que a espécie teve.
“A narrativa mais simples da história da espécie humana é feita de oportunidades, e não de seleção, melhorias, ou vantagens que teriam tornado nossa espécie o suprassumo do que quer que seja”, disse Suzana. A partir de seus estudos com tilápias “irmãs” que foram criadas com oportunidades energéticas diferentes, a conferencista explicou que o aumento do cérebro das espécies depende do número de neurônios e da disponibilidade energética.
Segundo sua teoria, mais oportunidades energéticas significam maior tempo de formação para a espécie, o que gera um aumento da longevidade. No caso dos humanos, a pesquisadora afirma que essas possibilidades deram mais tempo para o homem desenvolver diferentes habilidades, a partir de suas capacidades biológicas. Isso culminou no crescimento da quantidade de neurônios no córtex cerebral, maior capacidade para processar informações, transmitir cultura e conhecimento, acrescentou.
Outro ponto levantado por Suzana foi a maior duração da infância humana se comparada com espécies de sangue quente, o que é explicado, segundo sua linha de pesquisa, pelo maior número de neurônios, os quais precisam de mais tempo para se desenvolver. A pesquisadora questiona o darwinismo, pois, em relação à maturidade sexual, se reproduzir rápido é considerado uma vantagem pela teoria, porém, os humanos demoram cerca de 12 anos para chegar à idade madura, mesmo sendo a espécie com mais neurônios no córtex cerebral.
O evento também refletiu sobre a forma como a sociedade atual está usando o tempo disponibilizado para o desenvolvimento, que só aumentou com a tecnologia. Para os participantes do evento, as pessoas não utilizam o tempo livre para adquirir conhecimento porque estão reféns dos dispositivos tecnológicos e redes sociais, que foram criados com o propósito de facilitar o dia a dia.
Além disso, foi discutida a pressão do ambiente acadêmico e de trabalho em relação à necessidade de produzir intensamente em busca de realizações e lucro, o que também dificulta o desenvolvimento de conhecimento. De acordo com Suzana, as gerações precisam de tempo e oportunidade para continuar esse ciclo de conhecimento iniciado por seus ancestrais.
Foto: Susan Urmy