Conceito de "observatório"
Como é sabido, o termo "observatório" tem uma longa tradição na astronomia, referindo-se a locais equipados para observar eventos celestiais. No entanto, nas últimas décadas, o conceito foi adaptado e ampliado para outros campos, especialmente nas ciências sociais, política, sociologia e saúde. Nesses contextos, um "observatório" refere-se geralmente a uma entidade ou projeto que coleta, monitora, analisa e dissemina informações sobre um tema ou área específica.
Nas ciências sociais, em política e em sociologia, um observatório pode ter as seguintes características:
Coleta de Dados: Observatórios frequentemente reúnem dados, seja por meio de pesquisas, relatórios, entrevistas ou outras formas de pesquisa.
Monitoramento Contínuo: Observatórios costumam acompanhar tendências e mudanças ao longo do tempo, permitindo que analistas identifiquem padrões, desafios e oportunidades.
Análise e Interpretação: Além de coletar dados, observatórios também os analisam, muitas vezes produzindo relatórios, artigos e recomendações.
Disseminação de Informações: Observatórios muitas vezes servem como centros de conhecimento, disseminando suas descobertas para o público, decisores políticos, acadêmicos e outras partes interessadas.
Eles desempenham um papel vital na coleta e análise de informações, ajudando a informar políticas públicas, pesquisa acadêmica e decisões da sociedade civil. Entre outras coisas, esses observatórios podem produzir relatórios, criar bancos de dados públicos, desenvolver índices e indicadores, e realizar outras atividades que auxiliem na tomada de decisões fundamentadas em evidências.
No campo da Saúde Pública,
Os “observatórios” são caracterizados principalmente por sua capacidade de produzir e comunicar informação útil e em tempo hábil para apoiar ações e políticas de saúde. Por um lado, realizam a coleta, análise e disseminação de informações e o desenvolvimento de pesquisas aplicadas. Por outro lado, possuem o papel de constituir espaços de diálogo, advocacy e controle social. De forma geral, possuem elevada capacidade técnica e de articulação constituindo-se uma ferramenta de apoio à governança e o desenvolvimento de políticas. (Campos, Vasconcellos e Machado, 2018.p.826)
Como bem elucidam os autores, em seu funcionamento os observatórios distinguem-se de outras instituições relacionadas à Saúde Pública, por um lado, da gestão e o provimento de serviços de saúde e, de outro, da academia, situando-se entre os dois, apoiando o desenvolvimento de políticas baseadas em evidência e na produção de conhecimento direcionado para a ação. (Campos, Vasconcellos e Machado, 2018)[1]
O conceito de translação de conhecimento (knowledge translation) é chave para compreensão da atuação dos observatórios. (Straus, Tetroe e Graham, 2009)[2]
Baseia-se na ideia de que existem lacunas na aplicação de conhecimento técnico e científico nas práticas de saúde, e é entendido como a síntese, intercâmbio e aplicação de conhecimento por atores relevantes, para ampliar os benefícios de inovações globais e locais no fortalecimento de sistemas de saúde, com vistas à melhoria das condições de saúde das populações. (Campos, Vasconcellos e Machado, 2018. p.827)
Assim, o “Observatório” observará o “mundo do trabalho”, o “futuro do trabalho”, mas, muito especialmente (na correção de assimetrias históricas), o “futuro das pessoas que vivem do trabalho” (como se entende, atualmente, o conceito de “classe trabalhadora”), frente às forças determinantes das ‘novas morfologias do trabalho” e geradoras de ‘impactos’ que a sociedade deve conhecer e deve se mobilizar para o seu enfrentamento e contenção. Por certo, “há no mundo muito mais de possível do que de realizado”, nos ensina Nicolai Hartmann, em Ontologia II: posibilidad y efectivad (1956).
[1] CAMPOS, A. S.; VASCONCELLOS, L. C. F.; MACHADO, J. M. H. Observatórios de Saúde do Trabalhador. In: MENDES, R. (Org.) Dicionário de Saúde e Segurança do Trabalhador: conceitos – definições – história – cultura. Novo Hamburgo/RS: Proteção Publicações, 2018. p.826-828.
[2] STRAUS, S. E.; TETROE, J.; GRAHAM, I. Defining knowledge translation. Canadian Medical Association Journal (CMAJ), 181(3-4): 165-168, 2009.