Megatendências Globais e Desafios à Democracia
Sucessivas vagas democráticas – em Portugal, na Espanha e na Grécia nos anos 70, na América do Sul nos anos 80 e no Leste Europeu nos anos 90– foram ampliando o número de democracias no Mundo. As revoluções democráticas nos países árabes, no início desta década, inscrevem-se na mesma tendência, mas, por enquanto, deram lugar a resultados contraditórios já que se confundem processos de consolidação democrática com fatores de fragmentação. Nesse contexto, estudos sobre o tema indicam que três megatendências terão impacto sobre o futuro da Democracia:
A tendência para o empoderamento dos cidadãos que contempla a progressiva redução da pobreza e o simultâneo crescimento da classe média; a emancipação das mulheres; os progressos significativos na educação, bem como o desenvolvimento das tecnologias da informação. O empoderamento dos cidadãos tira o monopólio da política aos partidos e tira o monopólio da informação aos meios de comunicação tradicionais (escrita e áudio visual). Assiste-se, consequentemente, a um aumento da liberdade de expressão, acompanhado pela exigência de uma democracia mais participativa e crítica –a que o movimento de indignados em Espanha chama de “Partidocracia”–, sendo certo porém que, ao mesmo tempo, a crescente crítica à democracia representativa cria condições propícias ao crescimento do populismo.
A difusão do poder do Estado para instituições não estatais, principalmente para grandes corporações, que é acompanhada por uma enorme concentração de capital. O custo astronômico das campanhas eleitorais leva a uma corrupção da política, já que os candidatos ficam dependentes do financiamento de uma minoria, que detém a maioria do capital, razão pela qual exerce uma enorme influência no processo político, a que o movimento Occupy Wall Street chama de “corporatocracy”: o poder corrosivo de 1% da população sobre o processo democrático.
A emergência do nacionalismo identitário. A globalização da economia e da informação têm sido acompanhada por uma crescente afirmação das identidades locais, religiosas e culturais. Ao contrário da tese do “fim da história”, seguindo a crise das ideologias políticas, emergiu, como alternativa à Democracia, o Nacionalismo Identitário, que tem assumido várias formas, desde o nacional-comunismo sérvio nos Balcãs nos anos 90, ao populismo anti-imigrantes e islamofóbico da extrema-direita europeia, às várias correntes do extremismo político em nome da religião –como é o caso das formas mais radicais do islamismo político.
As três tendências, identificadas em relatórios europeus e norte-americanos, têm um significativo impacto no futuro da democracia brasileira, como o confirma o trabalho desenvolvido por um grupo do IRI-USP apresentado e discutido na conferência internacional, organizada por aquele Instituto e pelo GG10, intitulada “Brazil: surfing global trends Citizens and the future of governance in a Polycentric world”.
Será que a expansão da democracia é hoje mais difícil? Será que as democracias enfrentam novas democracias e que poderemos entrar em um período de involução?
O Instituto de Estudos Avançados (IEA), em colaboração com o IRI e coordenado por Álvaro Vasconcelos, organiza o laboratório Megatendências globais e desafios à Democracia, com o objetivo responder essas questões e discutir de que forma as grandes tendências mundiais impactam no futuro da democracia em geral, e do Brasil em particular.
Encontros
1 - O Desafio do Nacionalismo Identitário, 24 de junho de 2015
2 - O Desafio da Hospitalidade: Emigrantes e Refugiados, 22 de outubro de 2015
3 - O Desafio da Democracia Participativa: Brasil, Portugal, Espanha, 26 de fevereiro de 2016
4 - Corrupção na Política e a Exigência de Alternativas, 9 de março de 2017