Partidos devem se abrir aos movimentos de base, diz André Singer
Por Daniela Chiaretti | Valor
SÃO PAULO — “Os partidos políticos deveriam fazer um processo de reflexão no sentido da sua desburocratização e da abertura aos seus movimentos de base”, disse o cientista político André Singer, no segundo encontro da série de debates “UTI Brasil”, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), sobre as manifestações nas ruas e suas consequências.
“Isso vale para todos os partidos, não se aplica apenas aos de esquerda. Os conservadores também têm base”, continuou. Singer confessou, no entanto, não ser otimista em relação a esse processo. “Acho difícil que façam essa operação. Entre o que deveria ser feito e o que irá ser feito, existe a realidade.”
Matheus Preis, que representou o Movimento Passe Livre (MPL) no debate, lembrou que o movimento existe desde 2005 e que se “a jornada, de revogar o aumento das passagens, foi realizada”, o processo político não terminou. “A luta não acaba aqui, vamos continuar na luta pela tarifa zero.” Preis explicou que o MPL “se recolheu agora para construir um novo processo”.
Plebiscito
Para Eugenio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes e membro do Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Cidade de São Paulo, o plebiscito da reforma política proposto pela presidente Dilma “é uma resposta, e é importante que exista esta resposta. Mas a democracia representativa pode abrir outros espaços”.
Singer, Preis e Bucci foram entrevistados por dez professores de especialidades diversas – desde química, medicina, psicologia, sociologia, história, letras, filosofia –, em um evento de formato plural, com participação também pela internet, organizado pelo professor Martin Grossmann, diretor do IEA. Os painéis buscam entender as manifestações nas ruas do país, analisar suas demandas e como os movimentos podem avançar.
Tragédia, drama ou comédia?
Um dos entrevistadores, o professor Sérgio Adorno, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, lembrou que as manifestações foram uma “eclosão da coragem cívica”.
Adorno, que também é coordenador científico do Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP), disse que “estávamos todos acreditando que os canais de participação eram suficientes, mas as ruas mostraram que há vozes no subsolo que querem ser ouvidas”.
Ele fez uma analogia entre os manifestantes com máscaras e os coros do teatro. “Temos que interpretar um pouco essa simbologia. Mas, nas óperas, só há três saídas: tragédia, drama ou comédia”, concluiu.