Bernardo Sorj
Projeto“O Conflito no Oriente Médio: Alcances e Limites da Politica Exterior do Brasil” Justificativa acadêmica Plano de Trabalho
Introdução O mundo unipolar que parecia afirmar-se nos anos noventa, com o fim da União Soviética e a criação de uma ordem internacional sob a hegemonia dos Estados Unidos, deu lugar a um período de transição complexa. Na atual fase, os Estados Unidos diminuíram seu peso na economia mundial e sua capacidade de impor uma ordem política global à sua imagem e interesses, embora continue tendo uma capacidade militar inigualável. Entre as novas “potências emergentes” prevalece um discurso que enfatiza a necessidade de regular os conflitos através de instituições internacionais, enquanto simultaneamente buscam maximizar os interesses nacionais, como é o caso do Brasil e sua expectativa de ocupar um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Entramos assim num período de hegemonia negociada, que dificilmente gerará um marco estável de regulação da ordem internacional, pois abre espaços para uma maior autonomia e demandas de países que procuram aumentar sua projeção de poder, certamente ao nível regional, mas também em foros internacionais. A atual projeção internacional do Brasil se baseia numa combinação específica de elementos subjetivos e objetivos. O fim da Guerra Fria significou o desaparecimento dos parâmetros que, por meio século, organizaram a percepção que os principais atores políticos tinham do sistema internacional. Junto com o desaparecimento das amarras ideológicas e dependência estratégica em relação aos Estados Unidos — associada à luta contra o comunismo —, na última década, em particular por influência da China, aumentou a diversificação do comércio exterior. Como resultado destes processos se incrementou a margem de autonomia dos países, que passaram a desenvolver políticas exteriores com geometria variável. No caso brasileiro, a partir da realidade objetiva do crescimento econômico na primeira década do século e da enorme promoção que o país teve na mídia internacional, o governo do presidente Lula procurou construir uma nova narrativa de sua própria ascensão para a liga de atores globais. A politica exterior, que tradicionalmente se concentrava na defesa e na promoção de interesses comerciais passou a incluir questões politicas, não só no âmbito regional, como global. A genealogia desta postura inclui vários fatores. Ao nível regional, a inclusão da “Clausula Democrática” no Tratado do Mercosul promoveu e legitimou o abandono da tradicional postura de neutralidade nos assuntos políticos internos dos países vizinhos. Certamente o presidente Lula avançou este sinal no sentido de expressar o apoio em relação a candidatos presidenciais de países vizinhos ou realizar julgamentos sobre suas dinâmicas politicas internas. Se o comércio exterior em outros momentos da história afetou a politica exterior brasileira, a diversificação de interesses comerciais e de investimentos em outros países — na América Latina, no Oriente Médio, na África — muitas vezes feita com a participação ou intermediação direta do estado brasileiro e do estado parceiro, aproximou interesses econômicos e políticos, a promoção de interesses econômicos e o apoio, implícito ou explicito, a regimes que desrespeitam os direitos humanos, muitos dos quais recentemente foram derrubados como resultado de revoltadas populares. Objetivo da pesquisa O novo contexto internacional, associado ao ativismo do presidente Lula, levaram a politica exterior brasileira a experimentar, e testar os limites, de uma postura caraterizada por procurar marcar sua presença em conflitos distantes de sua zona de influência direta — a América Latina. Se na região é discutível o papel preciso da liderança brasileira e a forma em que ela foi e é exercida, não restam duvidas de que, na América Latina, o país é chamado a ter um papel central, tanto ao nível econômico como politico. Em outros trabalhos analisamos as dificuldades que se colocam perante o Brasil no desenho de uma estratégia regional, [1] mas certamente o país não pode se furtar, por seu peso econômico e amplas fronteiras, a ter um papel ativo e decisivo nos diversos problemas que enfrenta a região. No caso de conflitos mais distantes, a pergunta que se coloca é se o país possui o que o ex-chanceler Celso Lafer denominava de “excedente de poder” suficiente para ter uma influência relevante. O objetivo da pesquisa é analisar a experiência — durante o mandato do presidente Lula — de intervenção no conflito no Oriente Médio, em particular a tentativa fracassada de promover, em cooperação com a Turquia, um acordo entre o Irã e o chamado P5 +1 (grupo formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) sobre o programa nuclear iraniano. Experiência que culminou, nos olhos da opinião pública nacional e internacional, como um fracasso da diplomacia presidencial e do Itamaraty. Como entender esta iniciativa? Foi resultado da falta de experiência diplomática numa área no qual o Brasil está dando seus primeiros passos? Ou foi a culminação de uma postura que incluiu o abandono da defesa dos direitos humanos em foros internacionais e a aproximação com regimes políticos distantes do universo cultural com os quais o país tradicionalmente tratou? Qual foi o papel da assessoria de relações internacionais da Presidência, influenciada por afinidades ideológicas com o Partido dos Trabalhadores? O Brasil foi iludido pelos sinais emitidos pela diplomacia dos Estados Unidos? Que ensinamentos podem ser regatados? Desenvolvimento da Pesquisa A pesquisa de processos de decision making depende fundamentalmente de documentos e de entrevistas com os atores participantes do evento. No caso da pesquisa proposta, o papel das entrevistas com participantes ocupará um papel central, dado que se trata de um acontecimento recente e no qual a documentação existente é bastante limitada.. Pretendemos entrevistar pessoas que participaram diretamente das negociações, tanto no Itamaraty como no grupo de assessores do Presidente Lula, e se possível, inclusive ele próprio. Contataremos igualmente pessoas no Departamento de Estado dos Estados Unidos. 2. Justificativa acadêmica A permanência no Instituto de Estudos Avançados me oferecerá a oportunidade de participar de suas atividades e de aprofundar contatos com um conjunto único de pesquisadores, tanto no IEA como na USP em geral, em áreas relacionadas ao meu projeto de pesquisa e aos meus campos de interesse intelectual mais gerais. Tenho certeza que poderei contribuir nas atividades da IEA e os contatos que desenvolverei durante minha estadia no IEA continuarão sendo frutíferos no futuro. Espero igualmente contribuir na organização de eventos relacionados ao meu projeto de pesquisas e ao tema mais amplo da situação política no Oriente Médio. Pretendo mobilizar meus contatos acadêmicos internacionais para organizar eventos relacionados ao conflito Israel / Palestina. Trata-se de um tema sobre o qual venho trabalhando há décadas, e inclusive atualmente colaboro com o Itamaraty na identificação de espaços onde o Brasil possa dar sua contribuição para a paz. O IEA, dado o seu alto nível acadêmico é um lugar particularmente adequado para hospedar um diálogo qualificado, dentro de uma visão pluralista, sobre este tema particularmente sensível. 3. Plano de trabalho No período em que pretendo permanecer no IEA, incialmente um ano a se iniciar em agosto de 2013, pretendo: 1) Participar nas atividades do IEA; 2) Escrever um artigo relativo ao projeto de pesquisa; 3) Contribuir na organização de eventos relativos às minhas áreas de pesquisa, que espero culminem com a realização de um seminário internacional sobre “O conflito Israel/Palestina: possibilidades e limites de intervenção do Brasil”; 4) Participar em atividades acadêmicas desenvolvidas na USP relacionadas ao campo das relações internacionais, especialmente no Instituto de Relações Internacionais, incluindo apresentação de seminários e colaboração nas atividades do mesmo, em particular no Grupo de Análise da Conjuntura Internacional. [1] Ver Sorj, Bernardo, Fausto, Sergio, Fausto (comps.). América Latina: Transformaciones geopolíticas y democracia. Buenos Aires: Siglo XXI, 2010. Sorj, Bernardo, Fausto, Sergio (comps.). Brasil y América del Sur: Miradas cruzadas. Buenos Aires: Catálogos S.L.R, 2011. |
EVENTOSJorge Luiz Campos, Sérgio Adorno, Guilherme Ary Plonski e Bernardo Sorj via Skype Assista ao Vídeo: O IEA debate manifestações nas ruas 21 de junho de 2013 Leia artigo de Bernardo Sorj: Uma Nova Era na Política Brasileira?
Assistam aos Vídeos: 3 de julho de 2013 Brazil's Vision of World Order Programa do Workshop realizado em Washington 6 de fevereiro de 2014 Em Busca do Sentido Perdido: A Ciência e o Politeísmo de Valores (1º Seminário) 8 de abril de 2014
Em Busca do Sentido Perdido: O Ser Humano e a Natureza (3º Seminário) 03 de setembro de 2014 ______________________________ 2015 Ciclo Identidades Latino-Americanas Produto de um longo processo histórico, uma região geográfica (e nem tanto, pois inclui a América Central e um país e norte-americano), a América latina foi adquirindo múltiplas conotações, associadas a projetos políticos, culturais e econômicos. A noção de uma unidade latino-americana é em parte desejo e em parte realidade, em parte vontade política e em parte produto do peso de fatores objetivos, dinâmica. Quando s generalizações sobre América Latina enfatizam a unidade descobrimos que elas desconhecem sua diversidade, mas também não podemos deixar de reconhecer que os ventos que sopram num país, embora encontrem no caminho geologias nacionais diversas, afetam com particular força o conjunto da região. Não se trata de afirmar ou negar a validade da existência de uma identidade latino-americana ou do sonho latino-americano da “pátria grande”, mas de compreender como a ideia de América Latina foi, e continua sendo, construída e disseminada, em particular por artistas, intelectuais e cientistas sociais. Segue lista de tema dos encontros que serão realizados em Abril, Junho, Setembro e Novembro de 2015 e 2016. 1) A América Latina dos Historiadores - 15 de abril 2) A América Latina dos Sociólogos - 18 de junho 3) A América Latina dos Economistas - 18 de agosto 4) A América Latina dos Políticos - 12 de novembro 2016
5) A América Latina da geopolítica e dos projetos de integração.
6) A América Latina das Artes 7) A América Latina vista desde o exterior: Europa 8) A América Latina vista desde o exterior: Estados Unidos
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Bernardo Sorj agora faz parte da brookings institution A política externa brasileira sob o olhar crítico de Bernardo Sorj (Entrevista) Archives Audiovisuelles de la Recherche A Nova Configuração Política do Oriente Médio - DEBATES GACINT - n. 29 - 2014 Pesquisador do IEA fala sobre teoria social da globalização em seminário na França
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