Participantes de 2024
Elizabeth Harkot de La Taille (FFLCH), com o projeto "Pré-Condições Semióticas para Práticas Restaurativas e Mediação de Conflitos". Período: 1 ano. La Taille explica que a motivação para a pesquisa veio da constatação de que há na comunidade uspiana uma resistência à adoção de práticas dialogadas, restaurativas e de mediação na resolução de conflitos e violências. Várias instâncias e diferentes níveis hierárquicos demonstram preferência pela expectativa de formas retributivas de punição como solução, segundo a pesquisadora. A proposta é deslindar as pré-condições semióticas, ou as condições fundamentais, que permitam fomentar a aceitação e a adoção de práticas da justiça restaurativa e de mediação. Os resultados teóricos já obtidos serão confrontados com a investigação e a identificação dos modos de entendimento das relações e papeis sociais das diversas partes envolvidas em processos restaurativos. Essa análise será feita em textos da área jurídica e não jurídica sobre o tema e em seis entrevistas semiestruturadas com membros de núcleos, centros ou grupos de justiça restaurativa, sendo metade com profissionais do direito e metade com participantes de outras áreas de atuação. Os textos e as transcrições das entrevistas serão analisados pela perspectiva da semiótica discursiva em seus níveis discursivo e narrativo (sintaxe e semântica) e os resultados serão cotejados com a análise teórica prévia, na busca das pré-condições próprias às práticas dialogadas, restaurativas e de mediação bem-sucedidas. Ela considera que os resultados da pesquisa poderão contribuir para maior adoção de práticas apropriadas para o desenvolvimento das relações pessoais, da autonomia, do respeito e do senso de responsabilidade das partes na resolução de conflitos, "consequências previstas pela justiça restaurativa e desejadas em ambientes acadêmicos". La Taille é professora titular do Departamento de Letras Modernas (DLM) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde cursou a graduação e tornou-se mestre, doutora e livre docente em semiótica e linguística geral. Realizou pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Liège, Bélgica. Antes de passar a lecionar no DLM, em 2006, foi professora do Departamento de Inglês da PUC-SP (1997-2006). É autora dos livros "Ensaio Semiótico sobre a Vergonha" (Humanitas, 1999) e "Sentir, Saber, Tornar-se: Estudo Semiótico do Percurso entre o Sensório e a Identidade Narrativa" (2016), ambos pela editora Humanitas. Escreveu também 13 capítulos de outros livros e publicou 23 artigos em periódicos científicos. Orientou quatro teses de doutorado e 12 dissertações de mestrado, além de ter supervisionado duas pesquisas de pós-doutorado. La Taille integra o grupo de pesquisa na Semiótica: Modelos Teóricos e Descritivos, certificado pelo CNPq, e é vice-diretora para a América do Sul da Associação Internacional de Semiótica Visual desde 2017. |
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Fernando de Lima Caneppele (FZEA), com o projeto "Impulso Energético Sustentável: Abordagem Multidisciplinar para a Transição Energética e o Cumprimento do ODS7". Período: 1 ano. O objetivo do projeto é contribuir com a promoção de iniciativas em busca da transição para energia limpa e acessível, em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS7) da ONU. Para tanto, busca incentivar a cooperação entre pesquisadores, governos, empresas e comunidades, visando soluções inovadoras e eficientes. As ações específicas envolvem a análise do cenário energético atual, desenvolvimento de estratégias para adotar energias renováveis, parcerias público-privadas e formação profissional para a transição energética. A justificativa do projeto reside na necessidade urgente de combater as mudanças climáticas e garantir acesso universal à energia sustentável, de acordo com Caneppele. A abordagem interdisciplinar do projeto permitirá a contribuição de diversas áreas do conhecimento, como engenharia, economia, ciências sociais, políticas públicas, ciências ambientais e planejamento urbano. O impacto esperado é tanto científico, com avanços no conhecimento e inovação tecnológica, quanto social, com a promoção de acesso à energia, criação de empregos verdes, mitigação das mudanças climáticas e promoção de equidade e inclusão, afirma. Professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), onde tornou-se livre-docente, Caneppele graduou-se em engenharia elétrica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e obteve os títulos de mestre e doutor em energia na agricultura na Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, em Botucatu. Realizou sua pesquisa de pós-doutorado na Faculdade de Ciências e Engenharia da Unesp, em Tupã. Foi professor de nível técnico no SENAC e no Centro Paula Souza e de nível superior no Grupo FAEF, UFSCar e Unesp. É autor de oito livros, 14 capítulos de livros e 11 artigos científicos. Caneppelle também presta consultoria a empresas na área de energia e ministra cursos de extensão e disciplinas em cursos especialização. Essas atividades "visam promover o intercâmbio de conhecimentos entre academia e mercado" e contribuem para a "melhoria e melhor direcionamento das aulas dentro da universidade", afirma. |
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Marco Aurélio Werle (FFLCH), com o projeto "Goethe e a Filosofia: Teatro e Vida como Formação e Cultura". Período: 1 ano. Werle investigará o romance "Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister", de Johann Wolfgang von Goethe, a partir do significado filosófico, estético, literário, educacional, psicológico e social que ele teve em sua época "e continuou tendo desde então nas ciências humanas, principalmente devido à repercussão do conceito de Bildung, que pode ser traduzido por formação, educação ou cultura". A intenção de Werle é concluir um livro sobre o tema que ele vem elaborando há mais de dez anos. Além disso, espera dar continuidade ao trabalho de tradução da correspondência completa entre Goethe e Schiller, trabalho que está realizando em colaboração com os professores Pedro Franceschini, da UFBA, e Vladimir Menezes, da UFF, e que deverá ser publicado pela Edusp. São mais de mil cartas, as quais "têm relação direta com o romance de Goethe, principalmente as cartas entre os anos de 1795 e 1797", afirma. Ele espera contribuir para a discussão sobre a pertinência hoje em dia do tema da Bildung, como horizonte e ideal a ser buscado tanto pelo ser humano em sua individualidade quanto pela sociedade como um todo: "A questão que se põe é se o ideal de formação, em sentido humanista, ainda possui validade na nossa época e em que medida ele pode ser realizado, por quais meios e mecanismos isso poderia acontecer, numa época cada vez mais dominada pela técnica e tecnologia". Werle graduou-se em letras na UFSC e obteve os títulos de mestre, doutor e livre-docente na FFLCH, onde é professor titular. Foi professor na Unesp e na UnB e bolsista do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (Daad) na Universidade Fern de Hagen, no Museu Nacional Goethe e na Universidade Friedrich Schiller de Jena. Também cumpriu estágios de pesquisa na Universidade Ruhr de Bochum e na Fundação Clássica de Weimar. Publicou cinco livros, entre os quais "A Aparência Sensível da Ideia" (Edições Loyala, 2013) e "A Questão do Fim da Arte em Hegel" (Hedra, 2011), 31 capítulos de livros e 49 artigos em periódicos acadêmicos. Já orientou sete teses de doutorado e 20 dissertações de mestrado, e supervisionou oito pesquisas de pós-doutorado. |
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Maria Célia Lima-Hernandes (FFLCH), com o projeto "Recursos Inferenciais na Metáfora Situada e Audiodescrição – Análise Contrastiva". Período: 1 ano. O projeto trata de um problema comumente associado à leitura de audiodescrições: o uso de metáforas situadas em contexto secundado. Considera-se, afirma Lima-Hernandes, que a interpretação das construções envolvidas em audiodescrições para pessoas cegas congênitas e os processos inferenciais envolvidos sejam diferenciados em termos de inputs disponíveis no repertório desse grupo. Essa questão é abordada em dois níveis de conhecimento: o do recrutamento neuronal e o da complexidade construcional, explica. "Seu potencial de resultados é acessar um conhecimento auxiliar na adequação das formas de inclusão social desse grupo de pessoas, já que as metáforas estão presentes no meio sociocultural e são materiais mediadores dessa leitura as audiodescrições, que são feitas por pessoas videntes e que podem não gerar o sentido numa lógica adequada para o cego congênito." Lima-Hernandes explica que conhecer o processamento cognitivo inferencial pode conduzir à compreensão de como elaborar processos didático-pedagógicos para essa população, treinamentos mais efetivos quanto à gestão da autonomia e paralelamente à compreensão das peculiaridades envolvidas nas atividades de recepção e de efetividade da própria tarefa proposta no experimento. Ela considera que os resultados do projeto podem contribuir com as pesquisas sobre o envolvimento de neurônios nesse processamento. "Todas essas possibilidades de alcance remetem ao reconhecimento de uma gradiência de visão/leitura em pessoas que não utilizam processos típicos para o acesso a conteúdos socioculturais", observa. No período sabático, ela pretende realizar o tratamento dos dados, o processamento das convergências e divergências, a transposição da linguagem para o acesso da equipe e dos pares, a análise dos resultados em face das hipóteses e questionamentos. A estadia no Instituto também será dedicada à divulgação dos resultados da pesquisa de formas diversas, dentre as quais, uma conferência e a organização de uma reunião científica, e à produção de material que envolva a aproximação entre escolas de ensino básico e instituições de ensino de leitura para cegos. Lima-Hernandes é mestre em filologia pela FFLCH, doutora em linguística teórica pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp e livre-docente em gramática histórica pela FFLCH. É também mestre em neurociências pela Universidade Europeia Miguel de Cervantes, Espanha. Realizou pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Macau, China. É autora de seis livros, 79 capítulos de livros e 45 artigos em periódicos. Orientou 22 dissertações de mestrado e 11 teses de doutorado. Supervisionou duas pesquisas de pós-doutorado. Foi professora visitante em universidades de Portugal, Chile, Uruguai, França e China. |
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Paulo Antonio Dantas DeBlasis (MAE), com o projeto "Organizações Sociais Heterárquicas na História Profunda dos Povos Nativo-Americanos: Estudando os Sambaquis do Litoral Brasileiro". Período: 1 ano. DeBlasis pretende sistematizar a literatura acerca das interpretações sobre os processos de construção dos sambaquis [monte de conchas de moluscos formados ao longo de milhares de anos pelos povos do litoral] produzida ao longo do século 19 até meados do século 20, de modo a contribuir para referenciar as modelagens contemporâneas. Com esse trabalho, ele espera identificar parâmetros para investigar a natureza heterárquica da sociedade sambaquieira. Outro objetivo da pesquisa é revisar a literatura etno-histórica (em especial a das terras baixas sul-americanas) no que se refere às formas de religiosidade das sociedades nativo-americanas, particularmente quanto ao culto aos ancestrais, explica DeBlasis. Investigando a relação entre religiosidade e ambiente (ecossociologia comportamental) e sua imbricação com as formas de organização social e econômica, busca-se parâmetros para modelar o sistema heterárquico de organização social proposto (Kneip et al 2018, DeBlasis et al 2021) para os grupos sambaquieiros que habitaram o litoral brasileiro entre 8000 e mil anos atrás, aproximadamente. DeBlasis graduou-se em história na FFLCH, onde tornou-se mestre e doutor em arqueologia. Desde 19989, é professor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), do qual foi vice-diretor e diretor. Realizou pesquisa de pós-doutorado no Universidade do Arizona, EUA. Foi professor visitante no Museu Nacional de História Natural, França, e na Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal. É autor de sete livros, 37 capítulos de livros e 84 artigos em periódicos. Orientou 12 teses de doutorado e 16 dissertações de mestrado. Três das grandes redes de pesquisa internacionais das quais participou desde meados dos anos 90 foram: nos EUA, da Universidade do Arizona com o Instituto Santa Fé e a Universidade de Michigan; em Portugal, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com conexões locais, como o Instituto Politécnico de Tomar, em Portugal; e no Reino Unido, da Universidade de Exeter, com conexões com as Universidades Teesside e de Reading. |
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Ruy Sardinha Lopes (IAU), com o projeto "Ambientes e Aglomerados Urbanos Criativos: Os Parques Tecnológicos e as Agências de Inovação Universitárias no Interior do Estado de São Paulo". Período: 1 ano. Em sua pesquisa, Lopes pretende analisar o impacto das agências de inovação e parques tecnológicos da USP nas cidades médias do interior do Estado de São Paulo, em especial nas cidades de Ribeirão Preto e São Carlos, tanto no que se refere aos ecossistemas de inovação aí existentes quanto suas dinâmicas urbanas. De acordo com ele, cada vez mais os vínculos entre o desenvolvimento social e econômico e a criação de ambientes propícios para a geração de conhecimento e inovação têm se colocado como objetivos centrais das políticas públicas de desenvolvimento. "As universidades, em especial as públicas, que historicamente protagonizam o lócus da geração de conhecimento especializado no Brasil, vêm, mais recentemente, reivindicando seu papel como indutoras dos processos de inovação; impactando de maneira significativa os ecossistemas de inovação existentes no país", afirma. Nesse processo, tem sido fundamental a formação de ambientes e aglomerados de inovação no interior das universidades, como os parques tecnológicos e as agências de inovação, segundo Lopes. Esse impacto ultrapassa, muitas vezes, o âmbito da geração e transmissão de conhecimento e da interrelação entre as universidades e as empresas, incidindo de maneira significativa nas dinâmicas sociais e urbanas das localidades em que estão inseridas, acrescenta. "Não se trata, entretanto, de uma via de mão única: o contexto e as políticas de desenvolvimento social e urbano existentes também têm papel decisivo na consolidação e sucesso dos ambientes de inovação.". Professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) desde 2006, Lopes é bacharel, mestre e doutor em filosofia pela FFLCH. É autor dos livros "Informação, Conhecimento e Valor" (Radical Livros, 2008) e "Arte e Mercado: Afinidades Eletivas" (IAU-USP, 2021). Foi professor de várias universidades antes de ingressar no IAU, entre as quais a Universidade Paulista e Universidade Católica de Santos. Orientou nove dissertações de mestrado e duas teses de doutorado, e supervisionou uma pesquisa de pós-doutorado. Lopes possui experiência acadêmica e profissionais nas áreas de: estética; história da arte e da arquitetura; economia política da cultura, da comunicação e da informação; cultura contemporânea; e filosofia e história da tecnologia. Atua principalmente nos temas: economia política da cultura e da comunicação; cultura e artes contemporâneas; e políticas culturais. |