Você está aqui: Página Inicial / MIDIATECA / Vídeos / 3por1 / Mudanças Climáticas, Plantas, Ensino de Biologia e Vegetação Urbana - Entrevista com Marcos Buckeridge

Mudanças Climáticas, Plantas, Ensino de Biologia e Vegetação Urbana - Entrevista com Marcos Buckeridge

por Mauro Bellesa - publicado 06/02/2025 13:21 - última modificação 06/02/2025 13:21

O biólogo Marcos Buckeridge comenta as alterações no ensino de biologia em função das mudanças climáticas, o efeito destas no desenvolvimento das plantas e políticas públicas para proteção da vegetação urbana. Ele é professor titular do Instituto de Biociências da USP, vice-diretor do IEA e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol.


Gravação: 16 de janeiro de 2025
Local: sede do IEA, em São Paulo
Duração: 5min e 56s

Produção, entrevista e edição: Mauro Bellesa
Finalização técnica e streaming: Sérgio Ricardo Villani Bernardo

Transcrição

3por1 – Quais os impactos das mudanças climáticas no ensino de biologia?

MB – No ensino de biologia, isso muda a direção da forma como a gente ensina biologia, porque os efeitos das mudanças climáticas, as origens das mudanças climáticas e as soluções que nos temos de encontrar para as mudanças climáticas têm de ser informadas aos alunos. Por exemplo: sobre o que pode acontecer com a biodiversidade no mundo, o que pode acontecer com a saúde humana em relação às mudanças climática. São só dois exemplos que têm de ser colocados, discutido com os alunos para que eles se empoderem, para que quando eles saiam daqui da USP tenham as informações, possam ensinar para os alunos deles, pois muitos já estão ensinando, e possam também passar informação para outras pessoas na sociedade, olhando do ponto de vista biológico.

3por1 – Já foram identificadas plantas no Brasil, inclusive entre as cultivadas, que poderão se beneficiar dos efeitos das mudanças climáticas?

MB – Todas as plantas se beneficiam, agora no início das mudanças climáticas, porque elas vão fazer mais fotossíntese. A fotossíntese é feita com luz e com gás carbônico. Como o gás carbônico da atmosfera está aumentando, isso faz com que as plantas cresçam mais rápido. Só que isso tem consequências. Quando a concentração de gás carbônico na atmosfera aumenta muito, ela vai mudar alguns processos dentro das plantas, a expressão de genes, vai mudar a fisiologia da planta, e em alguns casos isso pode ser prejudicial. Vou dar um exemplo. Vamos pegar, por exemplo, a soja no Brasil, que é uma planta que a gente trabalha bastante. Quando eu dou mais gás carbônico para a soja, ela cresce mais rápido, porém, mudança climática não é só gás carbônico. Mudança climática é também um aumento na seca ou então alagamento em alguns lugares e o aumento de temperatura. Quando a gente combina tudo isso, quando dou gás carbônico, a planta cresce mais, quando dou gás carbônico com seca, o gás carbônico protege a planta da seca, quando dou gás carbônico com temperatura, tenho outra resposta da planta. O que a gente está tentando agora descobrir é o que acontece quando eu dou três estresses: temperatura, a falta de água e o CO2 a mais na planta. Os primeiros resultados que nós temos de modelagem matemática indicam que o efeito pode ser bastante deletério nas plantas, quando os três efeitos combinarem: uma seca muito grande, uma temperatura 3 graus, 4 graus a mais, mesmo com o gás carbônico alto, a gente pode perder produtividade da planta. Nos estudamos também efeitos parecidos com plantas nativas, com árvores da Amazônia, daqui da Mata Atlântica, do Cerrado, da Caatinga. Já estudamos várias espécies, sempre vendo mais ou menos os mesmos efeitos que eu descrevi aqui para a soja.

3por1 – Os governos municipais não poderiam investir mais na mudança cultural dos moradores das cidades, concedendo redução do IPTU, por exemplo, àqueles que ampliassem e conservassem a vegetação urbana sob sua responsabilidade?

MB – As árvores no domínio urbano, as árvores que a gente chama de árvores do viário, elas são cuidadas pela prefeitura. Então, o morador não tem poder sobre essas árvores, tanto de cuidar delas, tanto de podar ou de cortar essas árvores. Ele precisa consultar a prefeitura. Nós não poderíamos deixar isso na mão dos moradores, porque senão o que nós poderíamos ter é um genocídio de árvores de um lado, por pessoas que não gostam etc., então a prefeitura tem de cuidar disso. Nas árvores que estão nas casas das pessoas, nos terrenos particulares, isso é muito importante porque ter árvores ali vai haver sequestro de carbono, vai ter os serviços ambientais da arborização e, ao mesmo tempo, quando você tem uma árvore, você também aumenta a área de permeabilização que tem nos quintais. O que a prefeitura poderia fazer é um projeto em que tirássemos fotos periódicas das casas, principalmente, ou mesmo dos prédios que cultivam jardins, calculássemos essas áreas permeáveis e poderíamos, por exemplo, ter prêmios, ter descontos no IPTU, que podem não ser muito grandes, mas teriam esses descontos no IPTU em função do grau de permeabilização que as pessoas promovem nas suas propriedades, sejam elas prédios, sejam elas casas.




06/02/25 00:00

Relacionado


Link para o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=U7exRZcX0sY
Envie comentário, crítica ou sugestão para: mbellesa@usp.br