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Existem justificativas racionais para que o humano seja apartado de seu ambiente? |
O debate Narrativas Visuais, Populares e Científicas: Povos Tradicionais e o Desafio da Conservação da Biodiversidade, que o Grupo de Pesquisa Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia promove nos dias 9 e 10 de abril, no IEA-USP, (leia programação abaixo) enfatizará a necessidade de um diálogo cooperativo entre o conhecimento científico e os saberes tradicionais, tendo em vista uma concepção de conservação da biodiversidade sensível aos valores de justiça social, participação popular e sustentabilidade.
Será dado especial destaque ao registro documental imagético, visto como um inventário de práticas sociais e culturais que contribui com as ciências humanas e sociais no mapeamento e na interpretação das realidades amazônicas.
De acordo com os organizadores do debate, "a ciência e a perspectiva tecnológica a ela associada tendem a traduzir a Amazônia como repositório de recursos naturais, diversidade biológica e 'banco' genético, que deve ser explorado para atender as necessidades humanas, mais especificamente para responder ao modelo hegemônico de progresso".
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Evento anterior
Populações Tradicionais e Conservação da Biodiversidade: Entre os Valores da Tradição, da Ciência e do Mercado (mesa-redonda em 3 de outubro de 2013)
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Entretanto, alertam os pesquisadores, "a ciência e a tecnologia, enquanto vetores do desenvolvimento racional e do ideário de florescimento humano a ele subjacente, opõem-se ao conhecimento tradicional, isto é, aos saberes e modos de vidas de povos e comunidades locais, por considerarem que eles constituem entraves à modernização".
Tendo em conta as possíveis tensões decorrentes do encontro dessas narrativas, surgem alguns questionamentos: os saberes tradicionais e a ciência constituem racionalidades rivais? Em que pesem suas dissensões, a cooperação entre essas racionalidades constitui uma alternativa viável? E, em consequência, no campo da proteção ambiental, existem justificativas racionais para que o humano seja apartado de seu ambiente e a biodiversidade separada das culturas humanas?
Segundo os organizadores, o diálogo cooperativo entre as duas vertentes encontra sustentação nos aportes teóricos do modelo da interação entre a ciência e os valores que é desenvolvido pelo grupo de pesquisa [leia entrevista com Hugh Lacey a respeito desse modelo]: "Os argumentos do modelo em favor do pluralismo estratégico apontam para a necessidade de pesquisas baseadas na complementaridade metodológica e para a possibilidade de adoção de alternativas não convencionais nas práticas de conservação da biodiversidade".
Três questões centrais permearão as duas mesas do debate:
- o registro documental imagético e a pesquisa de campo: da imagem à tradução das realidades;
- diálogos entre a ciência e os saberes tradicionais: do modelo da interação ao pluralismo metodológico;
- comunicação e polarização entre narrativas científicas e populares na conservação da biodiversidade.
O evento é aberto ao público e gratuito. Para participar é preciso se inscrever com Leila Costa (leila.costa@usp.br), telefone (11) 3091-1681. Quem não puder comparecer poderá assistir às mesas ao vivo na web.
PROGRAMAÇÃO
Mesa 1 — 9 de abril — das 9h30 às 12h30
Mesa 2 — 10 de abril — das 9h30 às 12h30
Foto: Flávia Dourado/IEA-USP