Ciclo sobre desafios da educação na sociedade de risco começa em setembro
- Manifestação em São Paulo do movimento internacional de jovens ''Sextas pelo Futuro'': percepção de riscos globais
Pesquisadores das áreas de educação científica, sustentabilidade, filosofia da ciência, mudanças climáticas, saúde pública e impactos sociais da tecnologia serão os expositores no ciclo de seis seminários As Várias Faces do Risco e os Desafios da Educação na Sociedade Contemporânea, que será realizado de 17 de setembro a 10 de dezembro. [Veja abaixo a programação com resumos das conferências.]
O organizador do ciclo, Maurício Pietrocola, professor da Faculdade de Educação da USP em período sabático no IEA, afirma que num cenário de conflitos, inclusive com riscos civilizatórios, como no caso das mudanças climáticas, a educação poderá desempenhar papel fundamental na superação dos impasses entre melhoria da qualidade de vida e preservação do meio ambiente.
"O ciclo de seminários tem como meta fornecer subsídios para o debate dessas questões e avançar na compreensão e superação de alguns desafios da educação científica na contemporaneidade."
O seminário de abertura do ciclo (17 de setembro) tem o tema Educação e Sustentabilidade. Os conferencistas serão Marcel Bursztyn, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UNB, e Pedro Jacobi, coordenador do Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade, do IEA, e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
Bursztyn falará sobre "A Educação diante dos Complexos Desafios da Modernidade"; Jabobi tratará de "Sociedade de Risco e Mudança Climática - Desafios e Inovação Sociocultural".
Todos os encontros do ciclo serão realizados na Sala Alfredo Bosi do IEA, abertos ao público e gratuitos, com inscrição prévia (não é necessário se inscrever para assistir ao vivo pela internet).
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Sociedade de risco
A organização do ciclo é uma das atividades a que Pietrocola se propôs no desenvolvimento do projeto "Educação Científica na Sociedade de Risco" no IEA. O objetivo da pesquisa é identificar como os estudantes do ensino básico podem ser despertados para a percepção dos riscos inerentes ao desenvolvimento científico e tecnológico, não só do ponto de vista local, mas também em conexão com aspectos globais.
Segundo ele, desde a publicação, em 1986 de "Sociedade de Risco: Rumo a uma Outra Modernidade", do sociólogo alemão Ulrich Beck (1944-2015), uma grande quantidade de trabalhos tem retomado as discussões e análises sobre como os conhecimentos científicos e tecnológicos determinaram a vida em sociedade e modificam as noções de segurança/confiança e perigo/risco.
"As recentes evidências sobre as mudanças climáticas deram um contorno especial a este debate, recolocando a questão do risco civilizatório na agenda atual, onde o progresso da sociedade industrial e a sustentabilidade parecem se negar mutualmente."
PROGRAMAÇÃO
SETEMBRO
Dia 17 - Educação e Sustentabilidade
9h30 | Recepção e Inscrições |
10h |
A Educação diante dos Complexos Desafios da Modernidade Resumo: Vivemos numa era de acelerado ritmo de transformações. Se outrora a educação evoluía ao sabor de um lento processo de mudanças societais e ambientais, agora é necessário uma constante atualização. Isso torna a tarefa de educar ainda mais desafiadora. Na esfera da educação superior e da pesquisa há claramente uma crise, que é o reflexo do descompasso entre uma Universidade relutante em promover mudanças estruturais, e uma realidade que demanda conhecimentos, técnicas e profissionais capazes de lidar com os novos desafios. Uma boa parte dos grandes desafios da atualidade não se resolve no âmbito de uma única disciplina. No entanto, nossas base institucional e cultura científica, necessárias ao enfrentamento de tais questões, são marcadamente fragmentadas e circunscritas a ambientes disciplinares. Problemas complexos podem despertar interesse em áreas de conhecimento diversas, mas a interação entre pesquisadores de áreas diferentes é rara. A manifestação de grandes e complexos problemas lança o desafio de um reordenamento da Academia, no sentido de abrir espaços à interação e, principalmente, à integração. Afinal, questões como as doenças sexualmente transmissíveis, as mudanças climáticas, o envelhecimento da população, a segurança alimentar ou o desenvolvimento sustentável, não se resolvem dentro do espectro de uma só disciplina. |
14h |
Sociedade de Risco e Mudança Climática - Desafios e Inovação Sociocultural A teoria da sociedade do risco de Ulrich Beck (1944-2015) é das teorias sociológicas do século XX com mais impacto tanto nos campos das ciências sociais e de outras áreas de conhecimento. O risco para Beck, representa um estágio intermédio entre a segurança e a destruição, e sua percepção determina o pensamento e a ação, tanto local e global, assumindo uma dimensão transescalar. Beck, em seus últimos escritos, nos alerta que vivemos em um mundo que não está apenas mudando, mas está se metamorfoseando, o que implica numa transformação muito mais radical, na medida em que as velhas certezas da sociedade moderna estão desaparecendo e o novo emerge. No contexto das metamorfoses das quais Beck nos fala, se configuram efeitos colaterais que convergem para mudanças nas lógicas que começam a alterar de forma constante e crescente a ordem da sociedade. A ampliação de riscos globais associados com a mudança climática altera a sociedade definindo novas formas de poder, desigualdade e insegurança bem como novas formas de cooperação, certezas e solidariedade através das fronteiras. A transformação cultural, necessária para quebrar o hiato existente entre o reconhecimento da crise social e ambiental e a construção real de práticas capazes de estruturar as bases de uma sociedade sustentável, alerta para a importância do fortalecimento de comunidades de prática e da aprendizagem social como processos e espaços/tempos que permitam: 1) a ampliação do número de pessoas no exercício desse conhecimento; 2) a comunicação entre essas pessoas, de modo a potencializar interações que tragam avanços substanciais na produção de novos repertórios e práticas de mobilização social para a sustentabilidade. |
OUTUBRO
Dia 15 - Risco e Saúde Pública
9h30 | Recepção e Inscrições |
10h |
A Gênese do Conceito Epidemiológico de Risco e Algumas de suas Implicações para os Alcances e Desafios Contemporâneos da Saúde Coletiva Resumo: A epidemiologia nasce com a Modernidade, na emergência de uma leitura científica do chamado “espaço público da saúde”. A formalização da ciência epidemiológica, entretanto, só se completa no século XX, em torno ao conceito de risco, central na sua validação discursiva e legitimação institucional. Pretendo explorar, com base em uma hermenêutica do processo de conformação discursiva da epidemiologia, os horizontes normativos e as bases proposicionais que sustentaram a construção do conceito de risco, assim como os diálogos que se abrem a partir de uma fusão de horizontes desse processo com alguns dos interesses práticos da Saúde Coletiva de nossos dias. |
14h |
O Homem dos Riscos (Reloaded) Em 1991, provocado pelo Manifesto Cyborg de Donna Haraway, escrevi um pequeno ensaio intitulado “O homem dos riscos”, primeiro publicado em "A Clínica e a Epidemiologia" (1992). Então, propus que o conceito epidemiológico de risco opera discursos capazes de construir mundos fictícios formados por populações abstratas e que a noção clínica de risco individual povoa esses universos com simulacros de pessoas, definidos por probabilidades de adoecer e morrer. Esse texto foi revisitado por Sevalho (2002) e por Portella et al (2016), com diferentes perspectivas críticas, indicando analogias e contrastes com a ideia de “homem lento” cunhada por Milton Santos. Neste mundo atual, ademais virtual, o “homem dos riscos” se materializa em dimensões paralelas, sob condições próprias de produção/reprodução de efeitos sobre a vida humana, mediante processos socio‑históricos que, nos termos da saúde, implica uma morbidade cyborg. A partir das controvérsias geradas nessas quase três décadas, considerando novas interfaces da Epidemiologia, pretendo atualizar a proposição original com uma noção reloaded de “sujeitos de riscos”, seres já pós-humanxs, mas ainda modernxs, imersxs em ecologias de saberes-e-práticas de predição, prevenção, precaução e promoção da saúde e da vida, neste e-mundo trans-cartesiano e pós-clínico, distopia quase-matrix, transmudado pela hiperconectividade e assombrado pela necropolítica. |
Dia 22 - Risco e Inovação Tecnológica
9h30 | Recepção e Inscrições |
10h |
Os Vários Tipos de Riscos Presentes em Ocasiões de Inovações Científico-Tecnológicas Resumo: Um objeto tecnocientífico é um objeto de muitos tipos. Não é só um objeto físico/químico/biológico cuja existência é o resultado de intervenções técnicas/experimentais/instrumentais feitas no curso da pesquisa científica, e cujos usos podem ser controlados efetivamente para produzir efeitos específicos. É também – p. ex., quando usados em práticas sociais – um objeto ecológico e socioeconômico. Usando um objeto tecnocientífico em práticas sociais ocasiona muitos tipos diferentes de riscos, associados aos muitos tipos de objeto que ele é – como mostrarei em detalhe no caso dos objetos tecnocientíficos exemplares, organismos geneticamente modificados (transgênicos) usados na agricultura. Para fazer juízos credíveis acerca do valor e legitimidade dos usos de um objeto tecnocientífico (de que maneiras e sob quais condições?) é necessário investigar e avaliar os riscos de todos desses tipos. Discutirei o alcance das estratégias metodológicas que precisam ser adotadas para que a pesquisa fique capaz de tratar com todos dos riscos relevantes; argumentarei que a introdução das inovações tecnocientíficas nas práticas sociais deve ser acompanhada pela tomada de medidas precaucionais; e tirarei algumas implicações para a construção dos currículos para os programas da educação científica. |
14h |
O Legado de Ulrich Beck Resumo: Enquanto no livro A Sociedade de Risco Beck falava dos efeitos negativos (bads) e dos bens (goods) produzidos pela sociedade altamente industrializada, nas suas últimas obras Beck passa a considerar que, frente à mudança climática, há a possibilidade de que os bads produzam common goods. E sobre esta transformação ficarei minha apresentação. Beck vira pelo avesso as interpretações de que a mudança climática é uma catástrofe apocalíptica, captando um processo de catástrofe emancipatória. Isto se deve fundamentalmente a que entre os goods haveria uma transformação nas condições e na compreensão da transformação, que ele denomina metamorfoses ou mudança epocal. Esta não seria meramente uma mudança social, nem evolução, nem reforma ou revolução. Trata-se de um modo de mudar a forma da mudança. |
NOVEMBRO
Dia 12 - Risco e o Mundo Virtual
9h30 | Recepção e Inscrições |
10h |
Saúde Pública no Contexto da Sociedade de Risco O pressuposto é de que o contexto atual da modernidade é de auto-confrontação, ou seja, os riscos e incertezas são produzidos pelas certezas da sociedade industrial e do pensamento moderno, refletindo-se na ação das pessoas, nas instituições. Nesse cenário, as políticas públicas, dentre elas as de saúde pública, não permanecem ilesas aos processos sistemáticos de produção residual e multiplicadora de riscos e perigos, explícitos e silenciosos. Este fenômeno coloca aos profissionais do campo da saúde, à sociedade civil, aos formuladores de políticas, legisladores, e demais atores sociais o desafio da construção de novos “pactos de segurança”, considerando-se o contexto da sociedade de risco, da reflexividade da modernidade e da auto-confrontação. |
14h |
The Risks and Benefits of AI to Life in the Cognitive Era: A Ditropic Approach (em inglês, sem tradução) | Local: IEA-USP The information technologies of the 21st Century are ditropic: they create both opportunities and risks. Here we consider two cases of risk: employment and mental health. Robots bring many benefits, however they also threaten human employment on both sides of the digital divide. This suggests systematic education in meta-robotics --- the design, manufacture, use, upgrade, repair, management of robots (both hardware and software), human-robot-interaction (HRI), and consultancy. Another case is mental health. The information technologies of the 21st Century bring many benefits to human life and relationships. However they also create cyber-stress: information overload, complexity, fragmented attention, volatility, superficiality, alienation. This suggests systematic education in cyber-sense --- the skill of navigating our cyberspace in a deliberate and organised way consistent with human cognitive capacity. The two cases are related, since a software robot can be used as an assistant (intelligent agent) to buffer and organise our life in the cognitive era. |
Dia 29 - Risco e Investigação Científica na Escola
9h30 | Recepção e Inscrições |
10h | Parrise Project and the Promotion of Civic Involvement in Scientific Research (em inglês, sem tradução) Local: IRI-USP, na Sala da Congregação Ralph Levinson (Faculdade de Educação da Universidade de Londres, Reino Unido) |
DEZEMBRO
Dia 10 - Risco e Direitos Humanos
9h30 | Recepção e Inscrições |
10h |
Equality and Human Rights in Stem Education (em inglês, sem tradução) Equity, Diversity, and Inclusion (EDI) are current keywords in North-American academia. Driven by the concern to encounter the underrepresentation of certain groups, e.g. women, People of Color and Indigenous students, in the STEM-fields (Science, Technology, Engineering, Mathematics), many initiatives are focussing on recruiting “diverse” students. In this course we will be investigating underlying conceptions and different approaches to this topic. The course will provide a broader understanding of the reproduction of social inequalities in the field of STEM. Students will develop a critical understanding and analyse the impact of science and technology on societal power relations. Topics may include the socio-historical context of underrepresentation of certain groups in science, the related political and economic interests, the human rights aspects, the relevance of considering the colonial history of STEM, the introduction of an intersectional perspective and the application of gender and diversity analysis on science and technology. |
14h | Encerramento - Síntese, Considerações e Encaminhamentos Maurício Pietrocola (IEA e FE-USP) | Local: IEA-USP |
Foto: ONU Brasil