Este número de Estudos Avançados apresenta três dossiês que abordam questões contemporâneas convergentes e complementares: democracia, negacionismos e desinformação.O dossiê “Democracia” explora seus dilemas atuais, muitos dos quais manifestos no declínio dos níveis de confiança nas instituições políticas e na emergência de projetos políticos populistas. Tendo em conta esse cenário, cabe perguntar: a democracia tem futuro? Veja abaixo alguns destaques.
Inteligência Artificial A emergência da Inteligência Artificial significa uma complexificação das dinâmicas democráticas uma vez que ela fundamenta uma epistemologia da política baseada na relação com outras formas de inteligência (individuais e coletivas). A coexistência dessas três formas de inteligência proporciona novos desafios para a teoria democrática no contexto da interação entre humanos e máquinas. Concluímos observando como soluções democráticas têm sido criadas para enfrentar os dilemas sociais que emergem com a Inteligência Artificial. |
Confiança Levando em conta os impasses com que se defronta hoje a democracia, mas sem subscrever interpretações fatalistas ou messiânicas, o artigo defende que embora o caráter intrinsecamente expansivo da democracia não garanta por si só a sobrevivência da democracia, ele pode prover a base para o desenvolvimento de estratégias políticas que, combinando recursos humanos e tecnológicos, logre fomentar formas inovadoras para promover justiça, inclusão e participação, os elementos que dão vida à convivência democrática. |
Autoridade epistêmica A pandemia de Covid-19 deu urgência ao debate sobre o negacionismo científico. Para muitos, ao evidenciar as relações de poder inerentes às práticas científicas, o campo de estudos de ciência e tecnologia teria aberto o caminho para a contestação da ciência moderna que foi explorado por populistas de extrema-direita. No artigo são abordadas essa questão a partir dos debates sobre autoridade epistêmica e os usos da ciência durante a “CPI da Covid”. A análise dos enfrentamentos entre depoentes e senadores permite identificar parte do repertório político “bolsonarista” e revela que esse grupo frequentemente se apropria dos signos e códigos próprios da ciência para legitimar suas posições. |
Desinformação São analisados episódios recentes de cerceamento das liberdades de imprensa e de expressão promovidos e incentivados pelo Governo Federal, sobretudo na gestão Bolsonaro (2019-2022), bem como expõem os anacronismos de um ordenamento jurídico que, em muitos casos, protege e avaliza diferentes formas de intimidação e perseguição a jornais e jornalistas. O Brasil é um dos dez países em que a democracia mais se deteriorou no último decênio, em grande medida em razão da queda nas notas do país nos quesitos liberdade de imprensa e liberdade acadêmica. |